Terceiro Domingo do Tempo Comum.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Depois de alguns dias sem aqui rabiscar, volto aqui fazendo o dever de casa. Após uma maratona de 27 dias fora de casa, cheguei ontem ao meu Araguaia. Já até fui dar-lhe o meu abraço afetuoso e o encontrei imponente de transbordamento. O coração mesmo, tava pedindo pra voltar. A saudade trilhava o meu interior, fazendo-me buscar o caminho de casa. Como diria Dominguinhos em sua canção: “Estou de volta pro meu aconchego. Trazendo na mala bastante saudade. Querendo um sorriso sincero um abraço, para aliviar meu cansaço, e toda essa minha vontade”. Eita saudade marvada!

Depois da convivência feliz com os meus irmãos da família de sangue, passar por consultas e exames em Goiânia, já estou de volta para mais um ano de luta e reconstrução da dignidade perdida. Felizmente, cabeça e coração estão a contento para a típica idade, estando livre para caminhar com os Povos Indígenas por mais uma temporada. A notícia triste fica por conta de um “inimigo do alheio” que, graças a minha ingenuidade, levou o meu celular, que estava carregando dentro do ônibus, “por engano”. Correria para bloquear as várias informações que nele estavam contidas. Eu que tinha quitado a última parcela dele mês passado. Tem nada não, o crediário me espera de braços abertos.

Amanhecer em minha casa é tudo de bom, ainda mais que São Pedro me acolheu com uma chuvinha fina intermitente, muito embora, antes de realizar este feito, ele tratou de fazer muito barulho pela madrugada, com ruidosos trovões e relâmpagos riscando o céu e clareando a madrugada. Apesar do cansaço da maratona da viagem, fiz questão de levantar ainda muito cedo para ouvir e acolher as minhas nobres companhias de sempre. Entre um canto e outro delas, salmodiei o dia agradecido a Deus por tudo o que Ele me reserva e eu vou dando conta de realizar. Não posso negar, Deus tem sido muito generoso para comigo.

Caminhar na presença de Deus, nos deixando orientar pela sua Palavra é o nosso maior desafio, enquanto cristãos seguidores do Mestre Jesus. A Palavra se faz vida nas nossas vidas. De letras mortas nas páginas esquecidas e empoeiradas em uma prateleira, ela tem a possibilidade de ganhar as nossas vidas, nas ações que, porventura, podemos desencadear. Como cantamos na canção de longa data: “Pela Palavra de Deus, saberemos por onde andar. Ela é luz e verdade. Precisamos acreditar”. Ela é a luz do nosso caminhar, porém, não basta lê-la e acreditar. É preciso saber interpretar para que ela se faça transformação em nós. Palavra de Deus! Palavra de vida!

Talvez este seja o apelativo maior que a liturgia deste Terceiro Domingo apresenta para a nossa reflexão. Jesus que está dando os primeiros passos de sua atividade pública, continuando a ação do profeta João Batista. Uma atividade que não se inicia a partir do centro econômico, político e religioso da Palestina de seu tempo, mas da periferia. A esperança do Projeto Salvífico de Deus começando justamente numa região da qual nada se esperava: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” (Jo 1,46) As pessoas que encontraram Jesus começaram a conviver com ele. E no decorrer do tempo vão descobrindo que ele é o Mestre, o Messias, o Filho de Deus. O mesmo acontece também conosco: enquanto vamos caminhando com Jesus, vamos progredindo no conhecimento, nas descobertas a respeito d’Ele e abraçando suas causas.

João Batista, na sua radicalidade no seguimento das coisas de Deus, preparou, a partir do deserto, o caminho para a chegada do Messias. Jesus também segue a mesma radicalidade do precursor: é preciso total mudança de vida, porque o Reino do Céu está próximo. Mudanças profundas são necessárias. Mudança de estrutura mental interior e atitudes, mas também mudanças nas estruturas da sociedade. Aqueles e aquelas que aderirem ao Projeto do Reino do Céus, precisam passar por esta “Metanoia”. Palavra de origem grega “metanoein”, constituída a partir da união de “metá”, significando “depois”; e “νοῦς”, que quer dizer “pensamento” ou “intelecto”. Literalmente podemos dizer que seria “mudar o próprio pensamento”, através de um processo constante e crescente que tem o seu início a partir do momento em que a pessoa reconhece e aceita a sua fé na perspectiva que lhe foi anunciada. Como aqueles e aquelas que deixaram tudo para seguir a Jesus, somos também desafiados a fazer a mesma experiência, pois somos chamados a cada instante para estar com Ele.