Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Quarto Domingo da Páscoa.
Domingo, Dia do Senhor. Os domingos são assim chamados porque neles os cristãos fazem sempre a memória da Ressurreição de Jesus. Foi exatamente neste dia, o terceiro dia depois da Sexta-Feira Santa da crucificação que o Filho de Deus ressurgiu vencendo a morte. Um dia especial para a cristandade, pois nele reafirmamos a nossa fé no seguimento de Jesus, o Cristo, testemunhando a sua presença viva no meio de nós. Sem nos esquecermos de que a Ressurreição d’Ele é o princípio fundante da fé cristã. O Senhor Ressuscitou e é Deus conosco. Simples assim. “Se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.” (1Cor 15,14)

O segundo domingo do mês de maio é também o dia que reverenciamos as nossas progenitoras. Deus nos concedeu a graça de ser gestados num útero materno. Graças ao berço maternal de uma mulher, damos entrada neste mundo. Nove meses fomos aconchegados no espaço mais seguro e protegido que pode um ser humano experimentar. Alimentados pela seiva ternural de uma mulher, até que a luz se acende em nossa vida neste plano existencial. Tudo isso regado a profunda amorosidade. O amor de mãe é o amor de Deus. O amor de Deus é maternal. Deus se faz mãe em todas as mulheres que gestam a vida. Esta foi a forma que Ele encontrou de estar presente em todos os lugares em que haja uma mulher, pronta para acolher a semente em seu ventre.

A escritora britânica Agatha Christie (1890-1976) soube traduzir para nós o amor de mãe quando dizia: “O amor de mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho.” Assim são as mães que, no ato de gerar a vida, passa a viver em função do ser criado por ela. Algumas delas experimentam em vida um verdadeiro calvário existencial. Como Deus, dá literalmente a vida pelos seus. Não são mais capazes de pensar em si mesmas, mas vivem dedicando todos os dias à vida daqueles e daquelas que gerou para o mundo. Aliás, são elas as parceiras de Deus no ato da criação. Deus que faz questão de contar com a contribuição decisiva delas para fazer com que a história de vida das pessoas aconteçam.

A proposta de Deus de fazer o seu Filho encarna-se em nossa realidade humana, quis contar com a participação feminina. Jesus também teve a sua mãe. Foi gestado no ventre de sua mãe Maria. Ao ser alçada a condição de gerar em seu útero materno o Filho de Deus, Maria se torna a mãe de Jesus e de todos nós, crentes e descrentes. Como tantas outras mães, dedicou-se plenamente ao seu filho, vivenciando um calvário a cada dia vivido no seguimento d’Ele. Não foi atoa que o velho Simeão a alertara: “Uma espada há de atravessar-lhe a alma.” (Lc 2, 35) Assim são também as nossas mães, de ontem e de hoje. Quantas delas não estão sendo atravessadas neste atual contexto em que vivemos? Quantos corações, dilacerados pela dor? Mães vendo seus filhos serem levados de si tão jovens. É uma dor muito grande sentir esta ruptura abrupta de histórias de vidas, de pessoas com todo um futuro pela frente.

Perdi minha mãe ainda muito cedo. Deus a quis junto de si, pois se tratava de uma grande mulher. Gestou treze filhos e foi morar com o Pai. Perdemos a nossa mãe e ganhamos uma intercessora junto de Deus. Todos os meus irmãos e irmãs fizeram suas histórias de vida, sempre sob a proteção dela. Sou quem, sou porque ela me gestou e engendrou a minha vida. Sou mais o que herdei dela, do que de mim mesmo. Minha mãe foi em presente de Deus na minha vida. Sempre encarei como uma grande honra e privilégio ter sido gestado no ventre desta grande mulher. Ela me deu o Machado, “aroeira que cupim, não rói”, como costuma dizer um dos meus irmãos.

Neste Dia das mães o Evangelho escolhido vem complementar a nossa relação de filhos com o Deus da vida. Deus Pai e Mãe de todos. Jesus que se coloca na condição de ser o bom Pastor. É domingo, Dia do Senhor. Recebemos essa Palavra do Evangelho que retrata a nossa relação filial com Jesus, o bom Pastor. Pastor em profunda sintonia com as suas “ovelhas”: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem.” (Jo 10,27). Pastor que conhece as suas ovelhas e elas que caminham sob a sua proteção, numa relação de reciprocidade. Uma relação de intimidade total d’Ele conosco. Quem sou e o que sou, interessa a Jesus que quer que assumamos o compromisso de estar com Ele, seguindo os seus passos de bom Pastor, nos conduzindo à sintonia com o Deus que Pai e Mãe de todos e todas.