Trigésimo primeiro domingo do tempo comum.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Já temos novembro no nosso campo visual. Entretanto, precisamos passar ainda pelo crivo das urnas. Dia de festa e de alegria pela democracia, no exercício da cidadania. Votar é um destes nossos compromissos. Quem se abstém deste instrumento, não terá o direito de reclamar posteriormente, após este ato de covardia. Alguns de nós estamos esperando pelo dia de hoje desde 2018. Eu sou um deles. Democracia exige participação direta de cada um de nós. O estadista britânico Winston Churchill (1874-1965), costumava dizer que “a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as demais”. É através de nossa ação cidadã que vamos edificando a sociedade que queremos, tendo em mente uma das frases ditas por Salvador Allende (1908-1973): “Não basta que todos sejam iguais perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante todos”.

A escolha faz parte de nossas vidas. Estamos sempre escolhendo baseados nas opções que vamos construindo em nós. Neste dia 30 nos lembramos de uma pessoa que, certamente não escolheu morrer naquele contexto em que perdeu a vida. Estamos falando de Santo Dias da Silva (1942-1979) Santo Dias foi um operário metalúrgico e membro da Pastoral Operária de São Paulo. Foi assassinado pela Polícia Militar, quando comandava um piquete de greve. Mais um Silva assassinado, como tantos outros Silvas, negros, periféricos, favelados que são executados pelas Forças de Segurança do Estado. Santo Dias da Silva também presente em nosso Santuário dos Mártires da Caminhada, em Ribeirão Cascalheira.

Memória se faz na história. Conhecer a história é conhecer o nosso passado para iluminar as nossas ações no presente, imaginando o futuro. O filósofo e historiador irlandês Edmund Burke (1729-1797) dizia que, “aqueles que não conhecem a história estão fadados a repeti-la”. Inclusive com os mesmos erros ou piores que dantes. Talvez por este motivo, vemos tantas manifestações dos neo-nazistas, ignorando por completo os crimes contra a humanidade cometidos pelo seu chefe majoritário Adolf Hitler (1889-1945). Bem que o filósofo chinês Confúcio (552 a.C. e 489 a.C.) já nos advertira: “Se queres prever o futuro, estuda o passado”.

O presente é uma dádiva de Deus para nós. Estar vivo a cada manhã é a aposta mais certeira de que Ele continua acreditando em nós e que podemos fazer diferente e melhor que o dia anterior. A cada dia vivido, estamos mais próximos do nosso encontro definitivo com o Criador. Um dia a mais se foi e nem nos damos conta disto. Estamos todos diante da arte de viver um dia por vez. É na vivência dos erros e acertos que vamos construindo o nosso existir neste mundo do imponderável. Desta forma, recorremos a Santo Agostinho (354 d.C. -430 d.C.), que orientava: “Viva sempre preparado para morrer, mas viva como se nunca fosse morrer”.

Viver como o personagem bíblico Zaqueu, que a liturgia deste 31º domingo nos traz. O contexto é a narrativa de Lucas, que nos coloca diante de um Jesus que está a caminho de Jerusalém. Todavia, antes de sua entrada triunfal, Jesus resolveu passar por Jericó. Zaqueu, um homem que havia enriquecido à custa do roubo e de negociatas, sabia que Jesus estava passando, mas não conseguia vê-lo, porque era de baixa estatura e a multidão o impedia de ver. Toma a decisão de subir em uma das árvores para conseguir o seu intento. Diante daquela árvore, Jesus o vê e o chama pelo nome, dizendo que estaria em sua casa brevemente.

A atitude deste pequeno grande homem serve-nos de paradigma para orientar o nosso pensamento e também o nosso ser e estar neste mundo. É preciso passar por uma mudança profunda e radical em nossa vida, se quisermos caminhar na mesma direção com Jesus. A primeira atitude a ser tomada é a da perseverança de não desistir nunca, uma vez que nem tudo está perdido; a segunda é a de ter a humildade suficiente para saber reconhecer que erramos frequentemente e que, por isso merecemos uma nova chance; a terceira é a de saber que Deus muito nos ama apaixonadamente e quer que sejamos sempre felizes mesmo que assim não nos sintamos ou entendemos direito.

Jesus é o amigo dos pecadores, das mulheres prostituídas, dos doentes, dos pagãos, dos sem vez e sem voz, dos lascados, dos periféricos, dos presos, de todos aqueles e aquelas que são colocados à margem da sociedade. Foi assim com o pecador publicano que era Zaqueu, sentando-se à sua mesa para as refeições, para escândalo das autoridades religiosas judaicas de Jerusalém. Jesus não teme ser julgado pelas suas atitudes proativas, em favor dos pequenos e marginalizados. Ele não está nem aí, para o que vão dizer a seu respeito. Devemos ser como Jesus, ao nos colocarmos ao lado da ralé, sem nos importarmos com o que os outros vão dizer, afinal, o que outro diz a meu respeito não me diz respeito. Viva a democracia!