A tarde estava chuvosa, com temperatura menor que a habitual para nossa cidade , diversamente étnica. Terra acolhedora, não só de gente do interior do Estado, mas também de cariocas, paraenses e até mesmo de orientais.
Nesse contexto foi que conheci as 3 “Marias em sua residência”, tipo pavilhão. Carregando sonhos , a grande maioria em seus corações ,  planam nos pensamentos em seus momentos tão únicos e especiais de solidão, tantas vezes, desrespeitados e inacabados de reflexão com a quebra ocasionada pelo contexto daquela “casa”.
Quando descrevo esse ambiente frio, com pouco calor humano, somado à temperatura em virtude do ar condicionado , tenho a certeza de  que não encontrarei o que de mais humano existe no mundo: cumplicidade, empatia e compaixão. Pelo menos, é o que intuímos em nossas memórias e corações, e encontramos entre as 3 Marias.
A que fica no meio desse trio, não gosta da claridade vinda  de um janelão, mas que transporta as três para a liberdade, quando um pássaro azul, como convite, teima em chamá-las para *a VIDA, pousando e encantando com seu canto melodioso.
A Maria, de origem oriental, a primeira do trio com sua síndrome demencial, possui um sorriso de pureza infantil.
A Maria carioca é a mais falante e aparentemente mais vaidosa.
A terceira é a Maria que com uma paz e de poucas palavras, divide esse espaço santo de contemplação com as demais.
Assim postas, não se esquecem de cuidar uma da outra, tentando suprir o abandono familiar , ou talvez a hipossuficiência de cuidados dessa “casa” .
A Maria do meio, por não acreditar mais em sua liberdade, fica tolhida pelo isolamento físico e emocional, o que a tornou avessa à claridade vinda da janela, atrás de sua cabeceira. Imaginem, sempre desrespeitada pelos “cuidadores”, faz com que a luz da esperança se apague diariamente para ela.
Mas esta Maria não deixa de ser cuidadora , mesmo com suas limitações.
Lembra assim, a MÃE Auxiliadora, pedindo ajuda, quando percebe que a outra está com frio e com os pés descobertos. Suplica para a carioca levantar-se e cobri-la , como N. Sra do Amparo.
Cena que nos faz entender como cada uma sai da sua fragilidade, da sua miséria e age com o coração misericordioso.
Assim, a compaixão, empatia e o amor, em uma pequena atitude, nos ensina o belo da vida, quando parte daqueles que menos têm, carentes, mas capazes de serem pura gentileza. Elas são professoras da vida humana para nós, quando percebemos que esses simples e lindos atos são lições de SABER CUIDAR.
Paz e bem!
Zelemos uns pelos outros , incluindo aqueles que, por vezes, queremos ver afastados de nós.

Dr. Miguel Ângelo. Médico, missionário e escritor.