Encontrei um amigo, às 7:30 do 5⁰ Dia Mundidl do Pobre.

Nelson Peixoto, Diretor de Liturgia da UNESER.

Domingo que traz uma linguagem “apocalíptica” no sentido construtivo da esperança para os discípulos de Jesus não desanimarem de construir o Reino. Avançar no tempo de espera, com gestos reveladores do amor do Pai aos pequenos do mundo diante das forças opressoras que cairão abaladas como os astros.

Ele estava meio escondido num canto, sentado num batente, à espera de abrir o pequeno comércio, onde, em cada manhã, fazia plantão para comprar sua garrafinha. Logo, vieram mais dois ‘bem-te-vis” alegres, com uma sacola de mangas, abastecidos de cachaça. Pediu um gole, mas não teve sucesso.
Desistiu de esperar. Não abriram o boteco. Daí, convidou-me para ir mais adiante, até conseguir comprar seu abastecimento. Adiante, pelas ruas desertas, conversamos e paramos na porta do pequeno supermercado. Disse-me que ia comprar uma lata de feijoada. Disse-lhe: “Espere-me aqui que vou pegar tua bermuda”. Fui e voltei. “Deixa comigo a lata de feijoada também”. Quando sai da loja, estava, ao lado dele, o outro nosso amigo que faz uma dupla que o vigilante chama de o “CO e o VID”, que são imbatíveis, graças a Deus.
Alguém passou e entregou um Novo Testamento dos Gedeões. Fizemos uma partilha do pão e procuramos no evangelho a passagem da Última Ceia.
O Baixinho foi socorrer uma mulher pobre com o braço quebrado e nós prosseguimos como fizeram os irmãos de Emaús. Eu queria ter certeza se o meu amigo, dorme mesmo no banco da praça. Dessa vez, tive certeza, pois confessou. Mas, uma senhora caridosa esquenta sua comida e dá um certo apoio, a quem ia entregar a lata de feijoada.
Momento revelador e místico aconteceu, quando abriu a pequena Bíblia e começou a rezar, em voz meio baixa. Misturava palavras que lia com outras que saíam do coração e da memória, em extrema piedade, chorando e chamando Deus, como fez Jesus. “PAI”! Agradecia muito e pedia pelo bem de quem o ajudava na vida. Tive impressão que lia as palavras inscritas pelo Espírito em seu coração de pobre e impotente diante do álcool. Sem ele ver, fiz uma gravação de 22 segundos, que nem notou. Lia:
“Se eu estiver aqui e você lembrar de mim, seu caminho será o meu … sua paz, seu amor, seu carinho… esse é de S. Francisco”.

Tenho notado que a gratidão é algo de extraordinario na vida desses meus amigos que dormem e acordam ao som das aves, nas folhagens que dão sombra e os abriga da chuva.
Depois, puxou do bolso um dinheiro e me contou a gratidão que sentia e o que acontecera na noite anterior. Parou um carro grande e um jovem bem sucedido veio até ele. Entrega um presente que a sua mãe mandou, lembrando que ela era grata porque quando foi gerente do restaurante do pai, viveu honestamente na função, gerando assim muito lucro para o seu patrão.
Meu amigo estava feliz, sabia-se amado, embora queixoso de seus familiares. Seu dia de pobre foi diferente. Eu também declarei-me agradecido por ter me ensinado a rezar e a ler nos olhos dos que sofrem a ternura de Jesus.
Na aclamação do Evangelho da missa do dia, o Salmo 15 revelou a fé que os pobres, como o meu amigo, professam.

“Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio!
Ó Senhor, sois minha herança e minha taça, meu destino está seguro em vossas mãos! Tenho sempre o Senhor ante meus olhos, pois se o tenho a meu lado não vacilo.”
Eis porque meu coração está em festa, minha alma rejubila de alegria, e até meu corpo no repouso está tranquilo; pois não haveis de me deixar entregue à morte, nem vosso amigo conhecer a corrupção”.