Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Sexta feira da trigésima segunda semana do Tempo Comum. Novembro vai se configurando e nos aproximando do fim de mais um ano. A vida segue acontecendo e vamos dedilhando a nossa existência em formato das horas e dos dias que passam nos direcionando para o horizonte futuro. O passado ficou no retrovisor da história. O presente é efêmero. E o futuro é incerto, muito embora possamos edifica-lo com as ações no presente. Somos seres programados para viver na intensidade e integralidade da vida, conforme a projeção de Deus para nós: “Eu vim para que todos tenham vida e vida plenamente”. (Jo 10,10)

Não nascemos prontos e acabados. Vamo-nos fazendo na caminhada pela vida. Nascemos sem saber falar, andar e decidir os rumos de nossa caminhada. Aprendemos com o passar do tempo e os passos dados. Cada passo é importante, pois eles nos aproximam dos saberes e conhecimentos que vamos incorporando à nossa historia de vida. Assim, a vida se faz num constante processo de aprendizagem. Desde que nascemos até o momento do encontro definitivo com Deus, é constituído por um permanente aprendizado. Infeliz de quem entende que já sabe tudo e não precisa aprender mais nada. Necessita de conhecimentos básicos, tais como a humildade, a simplicidade e a coerência.

O fim ao qual somos direcionados é a nossa páscoa do encontro do Criador com a sua Criatura. Foi o que fez ator, cantor, compositor e apresentador Rolando Boldrin, nesta última quarta feira (09), em São Paulo, aos 86 anos. Homem de memória fantástica, ajudou a tirar o Brasil da gaveta da história cultural, contribuindo para que as gerações mais jovens conhecessem um pouco de nossa história musical/cultural. Em sua voz ouvimos muitos “causos”, numa interpretação impecável, dando vida aos que, como ele dizia, “já haviam viajado para fora do combinado”. Dele aprendi um pouco da arte de contar “causos”, não na mesma grandeza como ele fazia. Boldrin, o “Senhor Brasil” de todos admirados. Nele a cultura brasileira transfixava as veias da imaginação poética.

Estamos todos e todas fazendo a nossa jornada em direção ao nosso encontro pessoal com Deus. Cada dia, damos um passo nesta direção. Nada que nos possa entristecer, afinal esta a dinâmica da vida. Nascemos para viver abundantemente, mas sabemos que um dia, estaremos face a face com o Deus da vida. Este é o contexto ao qual Jesus está tentando esclarecer os seus através dos textos que a liturgia hoje nos propõe refletir. Na verdade, Jesus está fazendo uma espécie de catequese com os seus discípulos e discípulas, numa tentativa de elucidar o fim sob uma perspectiva escatológica. Nesta perspectiva, o fim não é o fim propriamente dito, mas o começo da vida nova.

Apesar de ser um “palavrão”, esta terminologia trata da explicação sobre como ocorrerá o fim dos tempos a partir da concepção das religiões e também da filosofia. Este termo “escatologia” aparece pela primeira vez no século XIX, fazendo a junção de duas palavras gregas: “eschatos”, que significa “último”; e “logos”, “palavra” ou “dissertação”. Desta forma, escatologia significa “doutrina ou estudo sobre as últimas coisas”. Últimas coisas que sempre significou um grande mistério para toda a humanidade, uma vez que, por mais que nos aproximemos deste contexto, através dos nossos estudos, o mistério permanece, pois somente Deus tem o conhecimento de quando será o fim. O fim de um ciclo e o início de outro, uma vez que viveremos na glória eterna. Nunca saberemos quando será o fim, mas podemos ficar preparados para quando acontecer.

O fim não é o fim de tudo, mas o começo de uma nova vida. Também nós, no ventre materno, lutamos para não perder aquele espaço confortável e aconchegante do útero, com a realização do parto para a vida nova. Não devemos nos entristecer por achar que o fim está próximo. As benesses do Reino já estão entre nós, como nos afirmou Jesus. Ele é a revelação plena de Deus para nós. Chegará o momento em que o julgamento de Deus acontecerá na história, através de Jesus. Ele é aquele que vem para manifestar a verdade da vida de todos. Essa manifestação de d’Ele é sempre momento grave e decisivo: dele depende a nossa salvação ou a nossa destruição. Serão salvos somente aqueles e aquelas que, como Jesus, fizerem da própria vida dom e entrega para os outros: “Quem procura ganhar a sua vida vai perdê-la; e quem a perde vai conservá-la”. (Lc 17, 33) Estejamos atentos e preparados, pois não sabemos o dia nem a hora. (Mt 25, 13)