Dra. Marina Campos. Professora de Gestão de Pessoas e Doutora em Análises Clínicas, escritora e colaboradora do PORTAL UNESER.

O momento que vivemos, por muitos de nós considerado o mais desafiador de todos os tempos, foi de escuridão, de solidão, de medo e de incertezas. Entretanto, dentre os muitos aprendizados, a pandemia nos ensinou que podemos existir dentro de nós. Em um de seus livros, Jon Kabat-Zinn nos traz logo na capa este alerta: “Onde quer que você vá, é você que está lá”. Descobrimos isso na prática, durante a vida no isolamento.

Aos poucos fomos nos suportando mais, sustentando a cada dia a nossa existência. Suportar no sentido de nos dar suporte, sustentar no sentido de validar emocionalmente as nossas atividades. O desespero foi dando lugar apenas ao medo, a solidão foi sendo substituída pela solitude. Aos poucos fomos tendo mais claridade, nos tornando mais íntimos de nós mesmos, mais à vontade com a nossa presença e fazendo escolhas cada vez mais conscientes. Entender e respeitar as nossas necessidades não era mais o melhor caminho; naquele momento, era o único.

Começamos então a explorar a nossa própria natureza e estar, de fato, em contato conosco. Chegamos ao ponto de sentir conforto e segurança ao habitar o nosso próprio corpo e percebemos que era possível estarmos inteiros em nossas ações. No início, tudo isso foi muito estranho. Estar apenas com a nossa presença foi uma grande oportunidade de aprender, na prática, as tais competências comportamentais.

Já que não podíamos ir para fora, fomos, finalmente, para dentro. Descobrimos, nesta fase, a definição, segundo o dicionário, da palavra solitude: “Pode representar o isolamento e a reclusão, voluntários ou impostos, porém não diretamente associados ao sofrimento”. Estar sozinho não representava, necessariamente, estar em sofrimento.

E aí o mundo muda novamente. Uma frase que já conhecíamos bastante bate mais uma vez à nossa porta: “O que nos trouxe até aqui não é mais o que vai nos levar daqui pra frente”. É muito interessante perceber que agora o mundo nos pede mais. Nos exige ir além. Não basta mais estarmos bem sozinhos, precisamos estar bem e conectados. Tudo novo, de novo! É hora de conexão. Mais do que isso, é hora de reconexão.

A cada passo dado, começamos a nos dar conta de que a nossa felicidade vem, não apenas, da conexão e do encontro conosco, mas também, com os outros e com o mundo. Percebendo que a felicidade individual não nos basta mais, o momento pede, agora, não apenas uma felicidade sustentável, mas também uma felicidade coletiva. Agora é hora de voltar para a vida, para o mundo e para as pessoas. Mas desta vez voltamos mais fortes, estamos inteiros, mais disponíveis.

Novamente sentimos medo, dúvidas e angústias. Agora que aprendemos a estar bem sozinhos, como voltar para o mundo juntos? Aprendemos que daqui pra frente teremos cada vez menos caminhos certos, mas cada vez mais possibilidades de conexões. Aceitamos que não são os desafios que ficarão menores, somos nós que precisaremos estar mais preparados e unidos. Este movimento irá nos tornar ainda mais flexíveis, habilidade essencial para o futuro que nos aguarda e está bem aqui na nossa frente. Juntos vamos mais rápido e conectados vamos muito mais longe. O momento agora nos pede mais esse movimento, mais esta habilidade: a RECONEXÃO.

Precisamos uns dos outros, precisamos nos conectar às outras pessoas, precisamos confiar nas pessoas. Quando existe confiança entre as pessoas, quando existe conexão, nosso sistema mamífero de cuidado é ativado, um hormônio chamado ocitocina é liberado no nosso organismo, e isso faz com que tenhamos coragem para seguir em frente, pois o nosso cérebro entende que podemos ir, pois temos para onde voltar. Agora é o momento de seguirmos em frente juntos.

Um estudo, segundo pesquisa de Harvard, acompanhou, durante 75 anos, a saúde e o bem-estar de mais de 600 pessoas. Os questionários aplicados abordaram desde fatores fisiológicos, como a qualidade do sono, até perguntas sobre família e amigos. A conclusão, segundo Robert Waldinger, diretor da equipe envolvida na pesquisa, é que um fator se destaca entre todos no quesito importância. “Boas relações nos mantêm mais felizes e saudáveis. Ponto! Nem sucesso profissional, nem dinheiro no banco, o segredo número um para ter uma vida plena está nos bons relacionamentos.

A explicação para isso, segundo o estudo, está no fato de que os bons relacionamentos ajudam o cérebro a ficar saudável por mais tempo e o sistema nervoso a relaxar. Além disso, bons relacionamentos podem contribuir para reduzir tanto as dores emocionais quanto físicas. A conexão é, portanto, fundamental!

Sugiro, enfim, uma reflexão final: as feridas da pandemia ainda não cicatrizaram, mas agora, cabe a cada um de nós o cuidado de aprendermos a ser melhores conosco, com os outros e com as mudanças que o mundo nos apresenta, por meio de escolhas conscientes, buscando a alta performance em nós e para nós. É possível construirmos agora, com tudo aquilo que aprendemos, uma vida mais leve e com mais sentido, uma produtividade mais orgânica e sustentável e finalmente conexões mais sólidas e mais verdadeiras.

Caso contrário, vamos chegar lá no futuro, sozinhos, e nos perguntar: Eu desperdicei o meu presente, minha família e meus amigos para conquistar o quê mesmo?