Segunda feira da Décima Semana do Tempo Comum. Depois do Período da Quaresma e do Tempo Pascal, retornamos ao Tempo Litúrgico Comum. Estamos entrando na segunda parte dele, que vai até o sábado anterior ao Primeiro Domingo do Advento. A primeira parte começou após o batismo de Jesus, acabando na terça feira antes da Quarta feira de Cinzas. É assim que caminha o tempo litúrgico da Igreja, e nós vamos encaixando dentro dele, vivenciando a fé de maneira engajada e comprometida, com o projeto do Reino anunciado por Jesus. Com os ânimos renovados pela presença do Espirito Santo em nós, prosseguimos na caminhada, buscando ser coerentes no seguimento de Jesus.

Hoje é um dia de festa para a Igreja. Celebramos nesta data a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus e Nossa. A memória de Maria, Mãe da Igreja, recorda-nos que a maternidade divina desta grande mulher se estende, por desejo de Jesus, à maternidade humana como um todo. No ano de 2018, o Papa Francisco introduziu a celebração desta memória na segunda-feira, após a solenidade de Pentecostes. Todavia, este título dado a Maria não é novo. Ainda sobre os afrescos do Concilio Vaticano II, em 21 de novembro de 1964, o Papa Paulo VI, na conclusão da terceira sessão do Concílio Vaticano II (1962-1965), declarou que a Virgem é “Mãe da Igreja”.

Celebrando o dia da Mãe, mas também a de um grande missionário Jesuíta: José de Anchieta (1534-1597). Na data de hoje, celebramos a sua páscoa, ocorrida no final do século XVI. José de Anchieta foi um padre jesuíta espanhol, que ingressou na Companhia de Jesus no Reino de Portugal. Ainda muito jovem, aos 19 anos, inspirado pelas cartas dos missionários jesuítas, veio parar na Terra de Santa Cruz, onde viveu um grande trabalho de evangelização, junto aos povos originários, que aqui já se encontravam. Aprendeu a dominar a língua deles, inclusive se opondo aos abusos cruéis cometidos pelos colonizadores portugueses invasores. Uma de suas frases serve de modelo para o meu esperançar: “todos podem destruir nossas esperanças e sonhos, o único que não podem somos nós que alimentamos estes sonhos de esperança”.

Esperança viva que brota do coração da Mãe. Foi através de um Sim corajoso de Maria, que tudo mudou na história da humanidade cristã. Uma mulher pobre e marginalizada, vinda da periferia, faz o seu encontro pessoal com Deus e, através de sua vontade decidida, Deus entra na historia humana, fazendo morada definitiva entre os seus. Uma Mulher que aceita ser a Mãe do Salvador, num contexto de sociedade, em que as mulheres eram marginalizadas como seres inferiores e que nada valia, para uma cultura machista patriarcal da época. Deus, que faz questão de contar com a presença feminina para inaugurar o seu projeto de amor, possibilitando que seu Filho amado, encarnasse na realidade humana. Ela não somente é a Mãe de Jesus, mas também a Mãe do próprio Deus e também de todos nós.

É desta forma que podemos interpretar o texto que a liturgia nos possibilita refletir nesta segunda feira. O relato que o evangelista São João nos traz, é de uma riqueza teologia e epistemológica fantástica. Trata-se da presença das discípulas fieis seguidoras de Jesus, aos pés da sua cruz, juntamente com o “discípulo que Jesus amava”, nos últimos momentos de vida do Jesus histórico. Ali, naquele momento literalmente crucial, Jesus faz a afirmação que vai marcar o futuro da Igreja nascente nos primeiros séculos do cristianismo: “Mulher, este é o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Esta é a tua mãe”. Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo”. (Jo 19,26-27) Ele que nos dá sua Mãe como também nossa Mãe, permitindo assim que pudéssemos desfrutar da maternidade daquela que gerou em seu ventre o Filho de Deus.

Maria de Nazaré. Maria de nossa fé. A digna representante da comunidade dos empobrecidos. No projeto de Deus, ela representa também o povo da Antiga Aliança que se conservou fiel às promessas à espera do Salvador. Neste contexto, o discípulo amado representa o novo povo de Deus, formado por todos aqueles e aquelas que fazem a sua adesão a Jesus. Na relação mãe-filho, o evangelista mostra a unidade e continuação do povo de Deus, fiel à promessa e herdeiro da sua realização.