Quinta feira da vigésima sétima semana do tempo comum.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Estamos chegando a primeira semana do mês de outubro. Caminhamos a passos largos rumo a conclusão de mais um ano em nossas vidas. Oitenta e sete dias nos separam do novo ano. No penúltimo dia deste mês que estamos vivendo, teremos a grande chance de dar uma guinada em nossas vidas, assegurando os princípios fundantes do Estado Democrático de Direito, com a possibilidade clara da criação de políticas públicas que venham ao encontro de uma vida com mais dignidade, sobretudo para os mais vulneráveis. O que está em jogo não se trata de mais um pleito eleitoral apenas, mas dois projetos antagônicos: o projeto atual de morte e o projeto da vida.

O dia é 6 de outubro, mas ainda estamos olhando para o dia de ontem. No dia de ontem, há 34 anos, estava sendo promulgada a Constituição Federal de 1988. A nossa Constituição Cidadã, que é a Lei Magna que nos asseguram os direitos, deveres e liberdades individuais, além de estabelecer os mecanismos para evitar abusos de poder do Estado. Constituição esta que se tornou o principal símbolo do processo de redemocratização do país. Após 21 anos do terrível regime militar, a sociedade brasileira recebia uma Constituição que assegurava a liberdade de pensamento. Lembrando que esta constituição surgiu dos esforços da Assembleia Nacional Constituinte, convocada em 1985, pelo então presidente José Sarney.

Foram ao todo 20 meses de trabalhos, para que se chegasse a esta Constituição atual. Neste processo, participaram 559 parlamentares (72 senadores e 487 deputados federais), com a participação direta e ativa da sociedade, das entidades representativas, dos cidadãos comuns, fazendo incluir no texto Constitucional os reais direitos de toda a população envolvente. Cerca de 72.719 sugestões foram coletadas de cidadãos de todo o país, além de outras 12 mil sugestões dos constituintes e de entidades representativas. Lembro como se fosse hoje, o nosso esforço nas coletas de assinaturas, no intuito de garantir alguns dos nossos direitos fundamentais básicos.

A História Republicana Brasileira teve ao todo sete Constituições: 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988. Esta última, talvez tenha sido a mais completa de todas elas, com ampla participação da sociedade brasileira. Pela primeira vez em sua história, o Brasil fez constar em sua Lei Maior, artigos que tratassem de assegurar os direitos dos Povos Originários, habitantes destas terras desde antes da chegada do colonizador. Nos respectivos artigos 210, 231 e 232, são assegurados os direitos ligados às especificidades dos povos indígenas, como, por exemplo, a garantia do usufruto de seus territórios, seus usos, costumes e tradições, da utilização de seus saberes tradicionais, suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem pelas comunidades indígenas.

Os indígenas possuem um projeto próprio de organização de sociedade. Seus saberes culturais milenares os fazem viver de uma forma, preservando sua identidade como Povo, como Nação Indígena. Valores, costumes, tradições que se completam numa relação respeitosa e de sincronia com a Terra e a Mãe Natureza da qual precisamos muito com eles aprender. Aprender a viver com eles e como eles. Como cristãos que afirmamos ser, falta-nos um projeto de sociedade no qual acreditamos e nos empenhamos em querer fazer acontecer entre nós. Que tipo de sociedade queremos ser? Que valores iremos preservar nesta sociedade que queremos? Quais princípios norteiam a nossa forma de organização de sociedade? Estamos, de fato, empenhados na construção de uma sociedade do Bem Viver como fazem os povos indígenas?

Neste sentido, a liturgia de hoje quer muito nos ensinar. Rezar é nos colocar em sintonia direta com Deus. Estar em sintonia com Deus é estar em sintonia conosco mesmo. Rezar como Jesus rezou! Precisamos descobrir o real sentido e o valor da oração, fazendo dela um projeto de vida. Rezar em sintonia com a vida e com tudo aquilo que à ela está ligado. Ter a oração como um projeto de vida é superar a vivência de uma fé centrada numa bolha espiritualista ou sacramentalista de um possível fanatismo religioso. Rezar é seguir os ensinamentos de Jesus quando diz: “Pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. Pois quem pede recebe; quem procura encontra; e, para quem bate, se abrirá”. (Lc 11, 9-10) Rezar sempre e sem desanimar nunca! A confiança e a perseverança devem ser os pilares do nosso projeto de vida em forma de oração. Na vida de oração, a força de Deus se faz presente em nós por meio do Espirito Santo e também pelo Filho que se faz em nós e por nós. Rezar, mais do que dizer um amontoado de palavras, é sentir Deus em nós na pessoa de quem está ali do lado. “E enquanto você reza, vá fazendo”. (Provérbio africano) Já pensou na sua oração como projeto de vida?