NELSON PEIXOTO. Diretor de Liturgia da UNESER.

Jesus,  para trazer e pregar o Reino de Deus, no meio de nós e para cumprir o envio do Pai, encarnou-se numa cultura, viveu em família e desfrutou do convívio do trabalho do pão, sentiu o cheiro dos assados no forno, calejou as mãos nas lenhas buscadas na redondeza, queimou as mãos no fogo e nas brasas, soprou as cinzas e conheceu os temperos da cozinha na Galileia dos pobres.
Água, peixe  , semente, sal, poço e caminho, pedra, flores e tudo mais fez parte de sua vida e de seu anúncio. Na relação com seu Pai, toda a Criação santificava-se e enchia-se do sentido mais profundo. Todas as coisas entravam na sua relação com Deus e com seus seguidores.
Portanto, em tudo Jesus via a presença do Pai , revelando o seu amor infinito e alcançando toda a matéria.

O modo de proceder de Jesus e sua linguagem tiveram sempre um sentido que expressava algo para além do objeto que via , sentia e descrevia. Até podemos evocar o arquétipo da mitologia grega para entender que , tudo que toca o coração de Jesus , vira sagrado objeto ou sentimento, identificando-o. Midas perde para Jesus.

Jesus se mostra um hábil buscador de significado. Da galinha que guarda seus pintinhos aos pássaros que beijam flores e fazem ninhos, tudo falava de Deus. Ele dá o brilho e explicita o significado das coisas, que valem, a partir do horizonte da fé e do chão da esperança.

Desse modo, os seguidores de Jesus, de forma muito intensa, como São Francisco  e mesmo Santo Afonso, em sua música e poesia, são imbuídos do Espírito Santificador, podendo usar os objetos simples da vida para criar uma aproximação afetiva do amor permanente do Pai.

Uma fitinha no pulso,  um anel de tucum, um colar artesanal, um prato, copo, camisa, palito, chapéu ou sandália, perfume e tantas coisas pequenas e simples podem ser sacramentais, de acordo com o que explicitemos  significar, acerca de tudo que a gente conhece, mas em sintonia fina com a  prática e o caminho de Jesus.
Todos os seres criados que Ele toca nos podem levar ao Pai ou nos convocam para senti-Lo no meio de nós.

A grosso modo, lembro-me de Martin Buber, teólogo que desenha a fraternidade no diálogo do EU com o TU, levando consigo as coisas que entrarem em interação na conversa e por amor.
Assim sendo, na fraternidade que o Espírito de Jesus conduz, criamos aproximação com os preferidos de Deus. Temos os recursos da matéria para acessar o coração e aceder a fé nos mais desafiadores cenários de pobreza e de pecado social.
Tornamo-nos, nessas iniciativas sacramentais, vasos frágeis que carregam com carinho a “água viva” que pode iniciar a matança da sede de justiça.