32º Domingo do Tempo Comum. Um domingo de festa para a Igreja Católica, que celebra nesta data, a Festa de Dedicação da Basílica do Latrão, a Catedral de Roma. É considerada a Mãe de todas as Igrejas, sob o título de “Omnium Urbis et Orbis Ecclesiarum Mater et Caput, ou “Mãe e Cabeça de todas as Igrejas da Cidade e do Mundo”. Sua história começa no século IV, quando o Imperador Constantino doou a propriedade da família Laterani à Igreja. O local foi transformado na primeira igreja cristã de Roma, dedicada ao Santíssimo Salvador e consagrada em 324 pelo Papa Silvestre I. Todavia, sob o Pontificado de Bento XIII, em 1724, criou-se Festa que hoje celebramos. O dia é dedicado para rezar pelo Papa e fazer memória de sua importância como liderança religiosa, particular e mundial. Ele que traz em si a insígnia de ser o “Servus Servorum Dei!” “servo dos servos de Deus!”
A liturgia deste domingo quebra a sequência que vínhamos fazendo, com a leitura do Evangelho de Lucas. Ela hoje nos traz um texto bastante controverso do Evangelho de São João. A descrição nesta perícope de hoje, aparece também nos quatro evangelhos (Mateus 21,12-13, Marcos 11,15-16, Lucas 19,45-48 e João 2,13-22). Jesus indignado com aquilo que Ele encontrou no templo, como prática cotidiana dos judeus, que o evangelista Mateus assim definiu, numa das falas de Jesus: “A minha casa será chamada Casa de Oração. Mas vocês estão fazendo dela um covil de ladrões”. (Mt 21,13) Ou seja, os judeus transformaram o Templo em local de comércio, que sustentava grande parte da economia do país, mantendo toda a organização daquela sociedade, transformando o Templo de Jerusalém no centro do poder político, econômico e religioso.
Para os judeus, o Templo era considerado o local central e mais sagrado de adoração a Deus, onde a presença divina podia ser sentida fisicamente e onde os sacrifícios eram realizados. Ele era a “Casa de Deus”. Entretanto, embora sendo o centro do judaísmo para o sacrifício, oração e louvor, sua forma de organização atendia também a outros objetivos e interesses adversos, já que oferecia a estrutura para a manutenção daquela sociedade. Dai vem a indignação de Jesus, diante da manipulação da religião, a fim de atender aos interesses mesquinhos e hipócritas das autoridades religiosas, que também se beneficiavam dos rendimentos do Templo.
Poucas vezes, nos evangelhos, vemos Jesus tão indignado, contrapondo aquela máxima que os evangelhos trouxeram d’Ele: “Jesus manso e humilde de coração”. (Mt 11,29) Jesus se revolta com aquela condição que encontrou no Templo, e manifesta a sua atitude de forma veemente: “Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas”. (Jo 2,15) Com este seu gesto, Jesus abala não apenas um sistema mantido pelas autoridades religiosas, mas toda uma estrutura que usa da religião para estabelecer e assegurar privilégios de uma classe e para sustentar uma visão mesquinha de salvação.
A indignação de Jesus se manifesta no gesto da Expulsão dos comerciantes, onde Ele denuncia a opressão e a exploração dos pobres pelas autoridades religiosas, já que estes pobres eram obrigados a fazer ofertas e sacrifícios no templo como parte de suas obrigações religiosas. Diante daquele contexto, Jesus faz duras críticas às autoridades religiosas, profetizando, inclusive, a ruína do Templo, mostrando que aquela instituição religiosa já havia caducado. Na pedagogia libertadora de Jesus, o verdadeiro Templo é o corpo d’Ele, que morre e ressuscita. Deus não quer habitar em edifícios, mas no próprio corpo humano, já que somos morada do Espírito Santo.
“vocês não sabem que o seu corpo é Templo do Espírito Santo, que está em vocês e lhes foi dado por Deus?” (1 Cor 6,19) O Templo é o corpo humano. Este é o ensinamento central no Cristianismo, que Paulo captou e levou adiante na sua missão evangelizadora. O corpo dos que creem é o templo do Espírito Santo. Isso significa que devemos cuidar do nosso corpo e usá-lo para que Deus se faça vivo e se manifeste em todas as nossas ações. Assim sendo cada pessoa humana traz em si esta presença viva de Deus e, por isso deve ser respeitada, amada e cuidada, por se tratar da obra divina de Deus.
A casa de oração se tornara lugar de comércio e poder, disfarçados em culto piedoso. Jesus e sua pedagogia libertadora, ensinando-nos a conduzir a nossa relação com o sagrado, a partir da pessoa humana, com quem nos relacionamos, na nossa caminhada de fé. O Templo é importante, mas não é o mais importante, já que dentro e fora dele estão os seres humanos que são obra da criação de Deus. Fico imaginando este mesmo Jesus histórico, passando por alguns Templos dos nossos dias. Certamente precisaria de muitos chicotes. Ao ser eleito Papa e, escolhendo o nome de Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis, Francisco disse uma frase que marcou todo o seu pontificado: “Como eu gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres. Não uma instituição estática, mas um organismo vivo e em movimento, já que igreja não é ir, é ser”.


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