Terça feira da Vigésima Primeira Semana do Tempo Comum. Agosto vai caminhando apressadamente para o seu ocaso. Ainda em tempo de celebrarmos uma data importante para a sociedade como um todo, no dia de hoje: 26 de agosto celebramos o Dia Internacional da Igualdade Feminina. Esta data foi selecionada em alusão à ratificação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que ocorreu exatamente no dia 26 de agosto de 1789, na França. No Agosto Lilás, comemoramos as conquistas das mulheres na sociedade ao longo da história, na luta por condições de igualdade entre gêneros. Além disso, tem o objetivo de promover reflexões sobre as relações de poder na sociedade, em que os homens são privilegiados. No Agosto Lilás temos a oportunidade de desenvolver ações de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher, com o objetivo de dar visibilidade ao tema e ampliar os conhecimentos sobre os dispositivos legais existentes e como auxiliar as mulheres que sofrem tais violências.

Apesar das várias conquistas das mulheres, muito ainda há que se fazer para que aconteça, de fato, a igualdade de gênero. A mulher, por exemplo, embora desenvolva a mesma atividade profissional que os homens, o seu salário é ainda inferior ao dos homens, nas mesmas condições profissionais. A maior conquista das mulheres, sem dúvida, foi a criação da Lei Maria da Penha, em 2006. Ali se estabeleceu a Lei do Feminicídio. Em 2021, uma das normas sancionadas inseriu o crime de violência psicológica contra a mulher, punindo severamente o agressor. Surgiu também a legislação para punir as lesões corporais cometidas contra a mulher por razões da condição do sexo feminino e estabeleceu, oficialmente, o Programa Sinal Vermelho contra a violência doméstica, que funciona como mais um instrumento de denúncia por meio do “X” na palma da mão. Fiquemos atentos a este sinal!

Embora não sendo um tratado científico, mas um poema que contempla o Universo como criatura de Deus, ali está descrito pelos sacerdotes no tempo do exílio na Babilônia (586-538 a.C.) a Historia da Criação. Deus nos fez, homens e mulheres à sua imagem e semelhança: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. (Gn 1,27) Em momento algum está dito que o ser masculino é superior e mais importante que o ser feminino. Pelo contrário, Deus concedeu ao ser feminino a morada sagrada para a gestação de um novo ser, plantado por Deus no ventre feminino. Na concepção de Deus, a mulher é coautora do projeto da criação de Deus. O ponto mais alto da criação é a humanidade: homem e mulher, ambos criados à imagem e semelhança de Deus. Deus criou o homem e a mulher iguais em dignidade. Não há superioridade do homem sobre a mulher, nem da mulher sobre o homem. Homem e mulher são imagens de Deus e se complementam.

Já no campo litúrgico de hoje, voltamos mais uma vez com as controvérsias de Jesus com os mestres da Lei e fariseus, dando continuidade ao texto de Mateus de ontem. Jesus continua sendo duro, combatendo a falsidade teológica hipócrita daquelas lideranças religiosas de seu tempo. Certamente, a situação de Jesus se complicou, depois dele ter chamado àqueles líderes religiosos de cegos e até de “sepulcros caídos”. Aqueles homens se especializaram em cumprir radicalmente o que estava escrito na Lei, “deixando de lado os ensinamentos mais importantes, como a justiça, a misericórdia e a fidelidade”. (Mt 23,23) Eles se consideravam “pessoas de bem”, principalmente por cumpriam a risca as 613 leis judaicas, contidas na Torá. Lembrando que a lei mosaica estava dividida em 248 mandamentos positivos (que ordenam ações) e 365 mandamentos negativos (que proíbem ações). É para esta gente que Jesus está dizendo que o mais importante é a prática do amor, da justiça e da misericórdia e da solidariedade com as causas dos pequenos, pobres e marginalizados, inclusive pelo sistema religioso.

“Gente de bem” praticando uma religião que não liberta, mas escraviza; completamente contrária ao projeto de Deus anunciado por Jesus. Além da crítica que Jesus faz aos religiosos pelas suas contradições, Mateus ainda salienta os “Ais”, proferidos pelo Mestre Galileu: “Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas!” (Mt 23,23) Jesus condena o legalismo exterior dos doutores da lei e dos fariseus e escribas, que os levam a desprezar o essencial da lei: “a justiça, a misericórdia e a fidelidade!” Este é o típico comportamento das “pessoas de bem”, que se acham superiores aos demais, só pelo fato de serem cumpridores de normas e preceitos religiosos. Há muitos destes ainda presentes no meio de nós. O ar de superioridade destes faz com que ignorem por completo a necessidade de, também eles, passarem por um processo de conversão, como qualquer um de nós, promovendo assim uma lavagem das impurezas de seus corações. Somente a pureza do coração nos permite ver a Deus, como está descrito no primeiro evangelho sinótico: “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus”. (Mt 5, 8)