Quarta feira da vigésima nona semana do tempo comum.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Outubro está passando e as desejadas chuvas, nada. O calor impera absoluto aqui pelas bandas do Araguaia. Calor e fumaça. Os dias são irrespiráveis, dada a quantidade de fumaça presente no ar. Nunca se queimou tanto como neste atual período da política desastrosa do atual (des) governo. O resultado disto tudo, sentimos no dia a dia aqui na Amazônia. Justamente ela que é o bioma da vida do planeta. Nela habitam mais de 40 mil espécies de plantas, cerca de 400 espécies de mamíferos, mais de 1300 espécies de pássaros e ainda 3 mil espécies diferentes de peixes. Sem falar que nela concentra 1/5 da água doce do mundo, com seus rios vivos, que servem de estradas trafegáveis pelas populações ribeirinhas. Que o digam o povo Iny e o povo Kayabi.

Em meio a fumaça e o calor, começou assim a minha quarta feira. Ainda muito cedo tratei de saciar a sede das minhas ervas do quintal. Rezei na companhia barulhenta dos João de barros, sabiás, tico-ticos. Também os papagaios faziam a apresentação de seus bebês, ensaiando os primeiros vôos, fora do aconchego dos seus ninhos. Uma criançada feliz e barulhenta como quê. Pela copa das árvores os enormes macacos bugios trataram de fazer o seu ritual festivo de acasalamento, deixando transparecer a sua libido natural. A prole sendo preparada para a preservação da espécie. A natureza aproveitando para nos dizer que, apesar da destruição que o “bicho” homem faz, ela segue gerando vida, em sintonia com os planos do Criador.

A natureza é sábia! Insensatos somos nós. O nosso estar no mundo perde a sintonia com os saberes que nos vem da natureza e da nossa Mãe Terra. Como dizem os povos indígenas, “vocês aprendem apenas a destruir e não se contentam enquanto não vêem tudo arrasado. Mal sabem vocês que, ao destruir a terra, o primeiro a ser destruído são vocês mesmos”. É por este motivo que o meu voto nestas eleições será sacramentado em defesa dos povos indígenas e pela preservação do Meio Ambiente, com a manutenção da floresta em pé. Já se vão trinta anos de um aprendizado que se faço na luta pelas Causas Indígenas. A Causa Indígena se vincula com a causa dos pobres e marginalizados.

A leitura crítica da realidade se faz através de uma leitura política da mesma. Olhar o mundo ao nosso redor é fazer uma leitura crítica deste mundo, conforme nos ensinou Paulo Freire. A política está presente em nossas vidas e corre veloz em nossas veias. Negar esta situação é fazer o discurso alienado sob uma pretensa neutralidade. Aquele que diz que não é político ou que não gosta de política, já está fazendo um ato político. Na vida, o lado a ser escolhido é decorrente das escolhas e opções que vamos fazendo, uma vez que, como dizia o nosso bispo Pedro: “há a política de uns e a política de outros”. Jesus tinha um lado definido, escolhido pelo próprio Pai: o lado dos pobres e marginalizados. As paredes da casa do bispo de São Felix mostravam um retrato da realidade e de que lado Pedro estava inequivocamente.

A vida é feita de escolhas e decisões: o lado dos opressores ou o lado dos oprimidos. Não há como passar por ela e não as fazê-las. No dicionário dos seguidores de Jesus a palavra neutralidade não se faz presente. O verdadeiro seguidor do Galileu tem um lado como Ele: o lado dos pobres que lutam pela sua libertação da opressão. O próprio Jesus alertou aqueles e aquelas que querem ficar em cima do muro: “Seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito”. (Apoc 3,16) No time de Jesus não há espaço para os indecisos. Ou somos ou não somos, uma vez que o muro é o espaço que pertence ao “coisa ruim”.

Ademais, como nos apresenta a conclusão do texto do evangelho desta quarta feira, Jesus faz um alerta a todos os seus seguidores: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!” (Lc 12,48) É preciso estar atento e em estado de prontidão permanente. Aqueles e aquelas que fazemos a adesão a Jesus precisamos estar atentos na busca incessante pelo Reino, através da prontidão para o serviço fraterno. Reino que já está no meio de nós e ainda não. Lutar pelo Reino é também sermos agentes transformadores no mundo da política, como bem disse o nosso Papa Francisco: “Envolver-se na política é uma obrigação para o cristão. Nós cristãos, não podemos nos fazer de Pilatos e lavar as mãos”. Quem não gosta de política abre o espaço para aqueles que gostam fazerem à sua maneira, quase sempre contrários aos interesses dos pobres e marginalizados. Como afirmava o filósofo Aristóteles, “A política é a ciência que tem por objetivo a felicidade humana coletiva”. A politicagem é a arte dos que usam da política em beneficio próprio ou dos seus de sempre.