Quinta feira da 25ª Semana do Tempo Comum. Caminhamos rapidamente para o final de mais um mês de nossa história de vida. A Estação da Primavera, aos poucos vai dando as suas coordenadas, com a Lua na sua Fase Nova, ou seja, estando apenas 10% visível aos nossos olhos. Com as chuvas se fazendo presentes, ainda com muitos ventos, rajadas e pouca água, as plantas já dão outro sinal de vida e revigoramento. Muitas delas já com a sua nova roupagem em forma de folhagens, muito típicas desta estação do ano. A magia e o mistério da natureza que são mais perceptíveis para aqueles que estão em contato direto com ela. Que as nossas esperanças se renovem juntamente com as flores que dão um colorido especial no horizonte dos nossos sonhos.

E por falar em sonhos, no dia 25 de setembro é comemorado o “Dia Mundial do Sonho”. Talvez a criação desta data tenha sido para nos incentivar a refletir sobre os nossos sonhos, objetivando a construção de um mundo melhor para se viver. Este que aí está não serve para todos, já que, recheado de vícios, está a serviço da ganância dos poderosos, que não pensam na coletividade maior. Outro mundo é possível quando nos fortalecemos na fé perseverante e na persistência, já que os sonhos são um primeiro passo para a transformação, sabendo que, compartilhar um sonho, o torna mais real. Sobre os sonhos, dizia o escritor alemão Johann Goethe (1749-1832): “Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor”.

“Sonhar é acordar-se para dentro”, afirmava o poeta gaúcho Mário Quintana (1906-1994). Falar de sonhos é bom, mas a temática central da liturgia desta quinta feira é outra. Com a palavra de uma autoridade politica do tempo de Jesus, retoma-se a discussão acerca da ressurreição. Trata-se de Herodes Antipas (20 a.C-39) que foi um tetrarca da Galileia. Sua memória está vinculada historicamente à morte de João Batista e também de Jesus de Nazaré. Inclusive, a confissão do assassinato do Precursor João Batista,, aparece no Evangelho de hoje: “Eu mandei degolar João”. (Lc 9,9) Entretanto, este governante aparece assustado, pois pensara que João Batista houvesse ressuscitado dos mortos.

A ressurreição era uma temática muito viva no Novo Testamento. Se de um lado, haviam os fariseus que acreditavam na ressurreição dos mortos, de outro haviam os saduceus que não acreditavam, sendo essa uma das principais diferenças entre eles. No contexto bíblico, especialmente no Livro de Daniel, mencionam essa crença e a ligação com uma era futura messiânica, o que forneceu base para os fariseus e influenciando, inclusive, as primeiras comunidades cristãs. Embora fosse um tema de extrema relevância, a Torá (os cinco primeiros livros da Bíblia) não traz um texto explícito sobre a ressurreição. O conceito de ressurreição ganha mais destaque em textos posteriores, como Isaías e Daniel: “Muitos que dormem no pó despertarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha e a infâmia eternas”. (Dn 12,2) A ressurreição é, portanto, um dos pilares da fé judaica, que o cristianismo incorporou posteriormente, ao ponto de Paulo assim afirmar em uma de suas cartas: “se não acredita na ressurreição a fé é vã”. (1 Cor 15,14)

O problema maior, para aquela autoridade, naquele momento histórico, era que este não estava reconhecendo Jesus como o grande enviado de Deus. Se não o conhecia, também não o reconhecia: “Quem é esse homem, sobre quem ouço falar essas coisas? E procurava ver Jesus”. (Lc 9, 9) O povo simples, pobre e marginalizado reconhece e sabe da grandeza de Jesus, diferentemente daquele governante prepotente, arrogante e sanguinário. Por ser um homem culto, quer encontrar-se com Jesus, para conhecer a sua verdadeira identidade. Todavia, esta sua intenção não é movida por boas intenções, já que se tratava de um governante astuto e maldoso.

Jesus tem para si muito claro a sua missão de ser o representante da nova vida proposta por Deus à humanidade. Em Jesus, Deus se faz humano e o humano de Jesus, se faz Deus conosco. Com a sua encarnação, Ele se faz Homem/Deus. A humanidade de Jesus é tão radical que “tão humano assim, só poderia ser Deus”, afirma nosso teólogo Leonardo Boff. Ou seja, o ser divino de Jesus se faz humano na sua divindade. Isto fica expresso na sua palavra e ação, deixando o povo e as autoridades sem saber o que pensar. Quem é esse homem? A presença de Jesus força-nos a perguntar: Quem é esse homem? O que Ele representa na minha vida? Lembrando que um novo encontro de Jesus e Herodes acontecerá na Paixão, já que este foi um dos principais articuladores da morte do Filho de Deus. (Cf. Lc 23,6-12).