Quinta feira da Décima Primeira Semana do Tempo Comum. O Tempo é Comum, mas a estação é inverno. O solstício de inverno segue acontecendo, modificando as características do tempo também aqui pelos lados do Araguaia. Etimologicamente a palavra inverno tem a sua origem latina, advindo do termo “hibernum”, Palavra que designa tempo frio, chuvoso e invernal. Tal significado está ligado à principal característica do inverno, que é a queda das temperaturas. Todavia, o termo hibernum também está ligado à palavra hibernação, que é um dos mecanismos adotados por algumas das espécies animais como meio de adaptação ao tempo mais frio.

Com o clima bastante agradável, fui ver o segundo dia do inverno nascer às margens do Araguaia, que também já sofre a influência desta estação. A diminuição do volume de águas é público e notório. O sol nasce timidamente, colorindo de dourado as praias que já despontam em maior número neste grande rio. Sou suspeito, mas estas são as praias de água doce mais belas que conheço. À frente do cais, em São Félix, está se formando uma enorme delas no meio do rio. Para lá chegar necessita-se atravessar de barco (voadeira). Não há como não contemplar as maravilhas de Deus vendo e sentindo-o presente nelas.

Um dia em que a comunidade internacional está envidando todos os esforços para a localização de uma embarcação que está “perdida” nas profundezas do Oceano Atlântico. Trata-se do Submarino desaparecido com cinco ocupantes a bordo, programado para visitar os destroços do Titanic, embarcação que naufragou no dia 15 de abril de 1912, no meio do Atlântico norte. O mais temerário é que este submarino fica sem oxigênio nas próximas horas, colando em risco a vida de seus ocupantes. A mobilização para encontrar esta embarcação é enorme, e com razão. O que todos gostaríamos é que esforço semelhante fosse aplicado para salvar também as vidas dos refugiados, advindos dos países africanos, nas suas precárias embarcações, provocando a morte de mulheres e crianças.

Seguimos em oração tanto para uma quanto para a outra situação. Oração que faz parte da vida do cristão que segue os passos de Jesus. Cada um tem o seu jeito próprio de rezar, de entrar em sintonia com Deus através da oração. O jeito de o nosso bispo Pedro rezar, sempre despertava em mim uma grande curiosidade. Vendo-o ali sentado na capela nos fundos de sua casa, desde as primeiras horas do dia, era algo irradiava uma energia de arrepiar. Ele ali em estado de contemplação entre o imanente e o transcendente, numa relação dialogal com Deus em profundo silenciar. Afoito e atirado como sempre fui, me perdia por completo, contemplando a sua contemplação. Humildade e muita simplicidade em forma de oração. Coisas de Deus!

Rezar é algo que se aprende, mas também é fruto do coração que busca refúgio no ser superior de Deus. Encontrar espaço no tempo corrido a que nos submetemos, é uma necessidade premente de alguém que reserva momentos para estar a sós com Deus. Jesus tinha uma prática constante de oração. Volta e meia os discípulos o surpreendiam dialogando com o Pai. Certamente esta situação os incomodava, uma vez que eles não sentiam tanta necessidade assim de ter também a sua vida de oração.

A temática central da liturgia de hoje é a oração. Jesus ensinado os discípulos e discípulas a rezar. O texto da Mateus não traz a parte primeira que o evangelista Lucas assim introduz: “Um dia, Jesus estava rezando em certo lugar. Quando terminou, um dos discípulos pediu: Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou os discípulos dele”. (Lc 11,1) Era comum, na época, os mestres ensinarem os seus discípulos a rezar, transmitindo o resumo da própria mensagem. Mas no trecho de hoje fica evidente que os discípulos de Jesus queriam ter aquela mesma experiência de sintonia que eles viam entre Ele e o Pai. A unicidade entre o divino e o humano era uma sintonia perfeita. Na oração há a possibilidade de se mostrar a simplicidade e intimidade da pessoa orante com Deus.

Jesus os ensina a rezar com a oração do Pai-Nosso. Nesta oração está contido o espírito e o conteúdo fundamental de toda oração cristã. Uma oração sem muito palavreado, mas que expressa toda a intimidade filial com Deus (Pai), apresentando-lhe os pedidos mais importantes para se viver com dignidade. Nela o Pai é reconhecido por todos (nome); sua justiça e amor se manifestam (Reino); na vida de cada dia, Ele nos dá vida plena (pão de amanhã); Ele nos perdoa como nós repartimos o perdão; Ele não nos deixa abandonar o caminho de Jesus (tentação). Uma oração revolucionária que nos coloca diante de Deus e ao mesmo tempo diante da realidade que estamos vivendo. Rezar o Pai-Nosso é nos comprometermos com o Deus da vida revelado na pessoa de Jesus, partilhando os dons, o serviço e o pão de cada dia, para que nenhum de nós seja privado das condições para ter a vida em plenitude. Aprendamos com Jesus a rezar com as palavras da Santa Teresa de Calcutá: “Para mim, orar é estar ao longo de 24 horas unida à vontade de Jesus, viver para Ele, por Ele e com Ele”.