Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Segunda feira da primeira semana do Advento.

Iniciamos assim o ciclo do Natal. O Advento é o primeiro passo dele. Cresce a expectativa daquele que vai chegar, trazendo a Boa Nova do Reino. Tempo de espera, mas também de preparação ativa como nos preparativos para a Páscoa. Abrir a mente e o coração para acolher o projeto de Deus revelado em Jesus. Do ventre materno da Mãe virá aquele que trará a salvação. Na fragilidade da criança da periferia de Nazaré, Deus vem ao encontro dos seus, revolucionando a história humana: o Verbo se fazendo carne e habitando entre nós. (Jo 1,14) Jesus, Palavra viva de Deus, é a luz que ilumina a consciência de todo aquele que crê.

Celebrar o Natal é celebrar um tempo de esperança renovada. Em dias tão conturbados como estes que estamos vivenciando ultimamente, o Natal quer ter este significado especial de desarmar os espíritos do ódio, do preconceito, da intolerância e da intransigência, para assumir as forças do amor sem fronteiras. Amor sem medidas. Amor que se faz gestos concretos proativos, visando o bem comum de todos. Deus quer fazer-se presente nas pessoas e espera que estas assumam o compromisso de irradiar o amor fraterno, afinal fazemos parte da grande família humana. Natal é fazer em nós a morada do Deus-Menino, subvertendo a ordem vigente das coisas.

Estamos entrando no Advento, mas mantendo ainda entre nós as velhas estruturas de morte que insistem em se fazerem presentes, como na tragédia das escolas em Aracruz (ES), neste último sábado (26), ceifando a vida de pessoas inocentes, como a menina Selena Sagrillo, de apenas 12. O coração partido da mãe escreveu uma emocionante carta dizendo que havia perdido a sua filha para o ódio. Ao final de sua missiva a mãe angustiada profetizou: “Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução, assim como ela gostava, mas uma revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença.”

Neste início de ano litúrgico (Ano A) o evangelista da vez é Mateus. Segundo este primeiro evangelho, Jesus é o Messias que vem dar cumprimento a todas as promessas feitas no Antigo Testamento. A concretização destas promessas ultrapassa as expectativas puramente terrenas e materiais daqueles que estavam mais próximos de Jesus, e esperavam apenas um rei nacionalista para libertá-los da dominação romana. Desta forma, frustrados nas suas primeiras expectativas, eles o rejeitam e entregam-no à morte. Mas os planos de Deus não foram frustrados, uma vez que a comunidade reunida em torno de Jesus torna-se a portadora da Boa Notícia a todas as pessoas, a fim de que eles pertençam ao Reino do Céu. “Reino do céu”, característica própria de Mateus.

“Coração de mãe não bate, apanha”, costumam dizer as pessoas mais vividas aqui pelas terras da Prelazia. Coração aflito do Oficial Romano que procura Jesus, para que este cure um de seus servos, como a liturgia desta segunda feira nos apresenta em Mateus. Um pagão, chefe (centurião) do pelotão constituído por 100 soldados a quem comandava, atraído por Jesus, seus feitos e sua fama, se sensibiliza com o sofrimento de um dos seus, para que seja acudido pelo Mestre Galileu. O modelo de alguém que tem fé. Confiança é tudo, pois no seu diálogo com Jesus ele faz a sua eloquente profissão de fé: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Dize uma só palavra e o meu empregado ficará curado”. (Mt 8,8) Embora sendo um Oficial Romano, ele acredita que Jesus podia realizar o milagre na vida do seu servo. Numa atitude de profunda confiança, ele reconhece a autoridade de Jesus e se submete a Ele. Entre Jesus e a fé daquele homem existe o amor, e isto basta. Numa sociedade egoísta e odiosa como a nossa, busquemos a excelência em servir por amor e não por desencargo de consciência, por prazer e não apenas por mera obrigação.

A figura do centurião aparece com frequência no Novo testamento. Muitas das vezes em textos em que eles se sentiam atraídos pelo Deus revelado em Jesus e pelos seus ensinamentos. Uma narrativa muito inspiradora para todos nós. Este oficial ao encontrar-se com Jesus é considerado pelo Mestre como um modelo de fé. Atendendo ao pedido de um pagão, Jesus mostra que as fronteiras do Reino vão muito além do mundo estreito da pertença a uma origem privilegiada. O Reino de Deus (Reino dos Céus, em Mateus) não tem fronteiras delimitadas. A fronteira agora é a fé na palavra libertadora de Jesus. Mesmo pertencendo ao grupo daqueles que se consideram salvos, se não houver essa fé, também não haverá possibilidade de entrar no Reino de Deus. Confiança é tudo! Venha teu Reino, Senhor!