Segunda feira da Vigésima Primeira Semana do Tempo Comum. Iniciando a semana de forma construtiva, reacendendo a esperança e nos colocando à disposição, para fazer acontecer o Reino de Deus no aqui e agora de nossa história. Deus está conosco nesta empreitada e não larga a nossa mão. É desta forma que as coisas acontecem, desde os tempos mais antigos. Pelo menos é assim que o profeta Isaías nos garante: “Haverá mãe que possa esquecer seu bebê que ainda mama e não ter compaixão do filho que gerou? Embora ela possa esquecê-lo, eu não me esquecerei de você!” (Is 49,15) Deus, com o seu amor infindo, gratuito, e incondicional, mostrando a sua fidelidade ao Seu povo, comparando-o com o amor de uma mãe pelo seu filho.

Na proposta litúrgica para esta segunda feira, voltamos com a reflexão do evangelista Mateus. O texto escolhido é aquele em que Jesus faz duras críticas aos mestres da Lei e fariseus, destacando a hipocrisia daqueles líderes religiosos. Os Mestres da Lei, também chamados de Doutores da Lei, eram os estudiosos e intérpretes da Lei de Moisés, a Torá. Lembrando que a Torá é a compilação dos cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica, chamados de Pentateuco, constituído por Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Assim, os Mestres da Lei, tinham a função de ensinar o povo sobre a Lei, dando pareceres também em questões legais e morais, interpretando as Escrituras. Já os fariseus, formavam um partido religioso popular e devoto, exercendo grande influência no judaísmo. Eles acreditavam não somente na Torá, como também nas tradições orais, na ressurreição dos mortos e no Primeiro Testamento inteiro. A própria palavra “Fariseu” quer dizer “separados”, indicando sua dedicação à pureza e à comunidade de Israel.

É, portanto, com esta gente que Jesus está lidando no texto de hoje, relatado por Mateus, dizendo a estes que usavam da religião para manipular as pessoas simples: “Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós fechais o Reino dos Céus aos homens. Vós, porém, não entrais, nem deixais entrar aqueles que o desejam”. (Mt 23,13-14) A religião feita de hipocrisia, desviando por completo o verdadeiro sentido dela. Etimologicamente a palavra “religião” vem do latim “religare”, que significa “religar” ou “reconectar”. Sendo assim, esta palavra sugere que a religião tem como propósito unir o ser humano ao divino, ou a uma força superior transcendente, estabelecendo uma conexão ou laço entre eles, através de práticas, rituais, crenças e sistemas de valores próprios de cada tradição religiosa.

Jesus faz uma dura crítica aos líderes religiosos de seu tempo. Tudo porque, aqueles líderes, sustentavam um sistema formalista e hipócrita. Este é também um dos motivos que eles fazem uma grande oposição a Jesus, divergindo radicalmente da sua proposta do Reino. Eles não consideram o Reino de Deus como dom, nem respeitam a liberdade dos filhos de Deus. Sendo assim, o sistema religioso defendido por eles, impede as pessoas de entrar no Reino, pois não leva à conversão, mas à perversão, e destrói o verdadeiro espírito das Escrituras, chegando a matar até mesmo os enviados de Deus. Jesus também mostra que a religião formalista e jurídica não é meio de salvação, mas produz prática escravizadora; portanto, é frontalmente oposta àquela que deve ser vivida por qualquer comunidade cristã.

“Qualquer semelhança com a nossa realidade, não é mera coincidência”, contrariando assim a declaração utilizada pelos escritos de ficção. Estamos atravessando um período da nossa história, em que estamos vendo de tudo acontecer, com algumas lideranças religiosas, conseguindo a proeza de superarem em gênero número e grau, a postura alienante dos Mestres da Lei e Fariseus do tempo de Jesus. A religião sendo usada para salvaguardar a defesa de interesses mesquinhos de alguns, monetizando as contas bancárias dos líderes religiosos, desenvolvendo uma interpretação equivocada dos textos bíblicos, quase sempre extraídos do Primeiro testamento.

É sabido que religião alguma salva ninguém! O que salva é a prática do amor, que se faz doação, entrega, serviço à causa dos pequenos, pobres e marginalizados. O que salva é a prática da justiça! Justiça que vem de Deus, como João assim descreve em uma de suas cartas: “Vocês sabem que Jesus é justo; reconheçam, pois, que todo aquele que pratica a justiça nasceu de Deus”. (1 Jo 2,29) Cristãos verdadeiros são aqueles que aceitam Jesus como Salvador, e assim recebem a vida que vem do Pai. Religião alguma deve estar a serviço da alienação, mas da libertação que se expressa na proposta do Reino que Jesus veio nos trazer. Uma fé amadurecida nos leva ao encontro deste Jesus que se fez um de nós, nas lutas de seu povo. Aliás, se tem uma coisa que Jesus fez questão de revelar foi a face de um Deus amoroso, misericordioso, que acolhe e cuida de todos os filhos seus. “Quero misericórdia e não sacrifício” (Mt 9,13) Para Jesus, o mais importante é a compaixão e o amor ao irmão e não apenas o cumprimento de rituais religiosos e sacrifícios formais, na observância estrita de leis e cerimônias.