Prof. Antônio Galvão dos Santos Ivo. Coordenador do ERESER TIETÊ.

Quando entramos para o seminário, a proximidade da figura do padre em nosso dia a dia era para nós, pequenas e obedientes pessoinhas, um misto de dupla autoridade . A figura austera e distante, uma referência ímpar que desde pequenos no seio de nossas famílias, aprendemos a ouvir quietos, não contrapor e seguir regiamente suas palavras. No seminário, a convivência diária dentro dos rígidos horários pré-determinados e na descontração das atividades diversas, à essa figura idolatrada, somou-se àquele que também agora seria para todos nós, como um Pai, que também estava ali para cuidar de cada um nos preparando para assumirmos com esmero e determinação esta nova opção de vida escolhida, nos conduzindo para a cada dia amadurecer e esclarecer nosso caminhos.
Por Tietê passaram pelo Seminário Menor padres formadores que deixaram em cada um de nós marcas profundas e positivas em nossa formação religiosa, humana e pessoal. Souberam também plantar em cada coração o carisma afonsiano que vive em cada um dos ex-seminaristas redentoristas.
Cada um deles, com personalidades e características específicas, enriqueceram nossa formação. Jamais se permitiram uma convivência distante com seus formandos que dificultasse o relacionamento. Com paciência e determinação exerciam sua vocação de formadores com maestria.
Padre Marcos Mooser, um alemão sisudo, de poucas palavras, mas sempre receptivo. Padre Libardi, de fácil convivência, um italiano de sangue quente envolto em um coração que a todos abraçava com responsabilidade e carinho para com seus meninos. Padre Escudeiro, o homem para todas as soluções práticas do dia a dia. Padre Paschotte, sempre o mediador que gostava da convivência calma e objetiva. Padre Frasson, comedido no falar e ouvi-lo era ser sábio pois suas palavras eram de importância vital. Padre Brandolize, o homem do sorriso fácil e permanente que falava no teu ouvido como se cada sílaba tinha para você importância que não deveria ser desconsiderada.
Tantos passaram e eu estou apenas atendo-me aos de minha convivência pessoal. É também justo citar outros formadores de outras casas de formação cuja convivência sabida também foi e é de igual importância e relevância para todos aqueles que estiveram sob a influência formadora desses homens de Deus.
Como não lembrar do Padre Silva, Padre Pelaquim, Padre Négri, Padre Pacheco, Padre Vanin, Padre Scudeler e, se voltarmos mais no tempo, a lista se agiganta e nossas lembranças se avolumam.
Essa semana, porém, a tristeza tomou conta de todos nós, ex-seminaristas que em Tietê conviveram com o já saudoso Padre Luiz Carlos.
Cada formador, como bem sabemos, tinha suas características pessoais distintas e a contribuição de cada um era fator preponderante cuja soma positiva e rica exerceu forte influência em nossa formação.
É incontestável que a postura do Padre Luiz Carlos o distinguia de todos. Sem alarde, sem trazer para si atenção mais do que a devida, mas com humildade, com a conhecida calma “à la mineira”, com humor sadio e sempre presente, as vezes desconcertante que derrubava o mais sisudo espectador. Padre Luiz Carlos era de uma clareza de opinião, de uma assertividade ímpar. E podem considerar esta sua qualidade em toda sua extensão e significado. Sim, ele se expunha, se expressava de maneira direta, clara, honesta e sempre apropriado ao ambiente, sem violar direitos alheios.
Suas “tiradas” sagazes na verdade, eram conceitos próprios jogados em uma seara por ele mesmo cultivada que, descontraidamente ele bem direcionava para onde queria, com graça, leveza e sabedor de seus objetivos. Só assim para entender um ser que, enquanto um homem que vivia com descontração por onde passava, era o mesmo que com dedicação e inteligência aguçada produziu obras fantásticas e reconhecidas, reflexões que viajaram levando aos quatros cantos a história da CSSR, o pensar mais apurado da religiosidade e da espiritualidade. Um exegeta que não se permitiu esconder-ser atrás de um manto egocêntrico que maculasse seu berço humilde e puro.
Penso que Padre Luiz Carlos alimentava-se de sua sempre sadia, rica e descontraída convivência com todos que o circundava, para então construir suas reflexões, suas profundas homílias tendo sempre o afeto humano como foco de seus temas.
Se triste estamos agradecidos também devemos estar, pelo privilégio a nós concedido pela convivência terrena com este ser iluminado.
Mineiro sacramentado, Padre virtuoso, homem de fé inabalável, mente sã, de fácil e alegre convivência, mas antes de tudo, sempre um companheiro que com maestria e bondade lhe “roubava” um sorriso seja em que circunstância fosse, pois seu espírito atento e perspicaz, não deixava nada no vazio.
Só existe uma palavra em nosso alfabeto que resume este ser que por ora nos deixou:

Padre Luiz Carlos, um amigo

RIP (Requiescat in Pace)