Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Quarta feira da terceira semana da Páscoa.
Caminhamos decididamente rumo ao Pentecostes. Celebração muito importante do calendário cristão, em que comemoramos a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos e nós. Ocasião em que os seguidores e seguidoras de Jesus se sentem grávidos da presença de Deus com a força ardente do Espírito. Tradicionalmente, Pentecostes é celebrado 50 dias depois do domingo de Páscoa, e no décimo dia depois do dia da Ascensão do Senhor. Diante desta ocasião especial de Pentecoste, lembro do nosso bispo Pedro, que nos dizia: “A Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, realizada em Medellín, na Colômbia no período de 24 de agosto a 6 de setembro de 1968, foi o nosso Pentecoste”. Ali acordamos como Igreja para a vida com os pobres.

Rezei nesta manhã escutando a voz do silêncio. Minha voz interior ditou o meu dialogar com Deus. Um silêncio ensurdecedor se fez em meu quintal na penumbra deste novo amanhecer. Até meus acompanhantes de sempre entraram em sintonia, no acender da luz do dia. Se para alguns de nós o silêncio incomoda, para outros, se faz harmonia com Deus, que também se manifesta através do silêncio. Se bem que grande parte dos nossos, fazem do silêncio a arma mortal da indiferença e do não perceber e escutar a realidade. Diante de situações assim, do silêncio da omissão, não custa nada lembrar daquilo que fora dito pelo Papa Francisco: “Não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade”.

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Rezei nesta manhã trazendo presente comigo duas pessoas singulares: Padre Reginaldo Veloso e o Professor Carlos Rodrigues Brandão. Ambos passando por sérias dificuldades em suas saúdes. O primeiro era administrador paroquial no Morro da Conceição, em Recife, nas décadas de 1970 e 1980, quando foi expulso das funções sacerdotais por trabalhar com os pobres e estar ligado a Teologia da Libertação. O segundo, histórico e combativo professor da UNICAMP, parceiro de longa data da Prelazia de São Félix do Araguaia. Esteve por aqui nos primórdios da caminhada desta Igreja e tinha em Pedro uma profunda admiração. Sobre o nosso bispo chegou a dizer certa feita: “Pedro não apenas estava com o povo e lutava por ele. Ele vivia com e como ele, sem alarde algum. Como se aquela fosse a mais simples e natural maneira de se ser”. Rezei pedindo a Deus para cuidar destes seus amigos seguidores.

Deus é gratuidade em pessoa. Deus é pura generosidade e amorosidade. Em Jesus, Deus também se faz gratuidade. Ele se nos dá como pessoa humana, se fazendo presente no meio de nós. Ele é o Pão vivo descido do céu: “Eu sou o pão da vida! (Jo 6, 35). A amorosidade de Deus é tamanha que Ele mesmo toma a iniciativa de vir fazer morada em nós e por nós. Ao se referir a si como “o Pão da vida”, Jesus se apresenta como aquele que veio de Deus para dar a vida definitiva às pessoas. Aliás, esta foi a dificuldade maior para os seus adversários, as autoridades religiosas judaicas, uma vez que elas não admitiam que um pobre homem de Nazaré da Galileia, pudesse ter origem divina e, muito menos, poderia oportunizar a vida definitiva. Daí o princípio da rejeição da pessoa de Jesus em meio aquela sociedade. Se armam com ódio e rancor para dar fim a vida de Jesus.

Do ponto de vista exegético-teológico, a vida definitiva da qual fala Jesus, se encontra justamente na condição humana do Filho de Deus: Ele é o Filho de Deus que se encarnou na realidade humana para dar vida às pessoas, isto é, para viver em favor das pessoas. Desta forma, a vida definitiva começa quando estas mesmas pessoas, comprometendo-se com o Projeto de Deus revelado em Jesus, aceitam a própria condição humana e vivem em favor uns dos outros. Não contente em si dar como o Pão da vida, Jesus dá um passo além: Ele vai oferecer sua própria vida (carne e sangue) em favor da humanidade. Por isso, o compromisso com Jesus exige que também o seu seguidor, a sua seguidora estejam, dispostos a dar a própria vida em favor dos outros.

Jesus é o Pão Eucarístico que anima, alimenta e fortalece a caminhada da comunidade. Devemos observar que Jesus se dá como pão um dia depois de ter alimentado cinco mil pessoas na Galileia, com apenas cinco pães e dois peixes. Isto demonstra que o compromisso do cristão é com o Pão da vida que é Jesus, mas é também com os irmãos e Irmãs que padecem pela fome: fome da Palavra; fome do alimento que sustenta a vida; fome do emprego para garantir a sua subsistência; fome do salário como forma de renda para a família; fome das políticas públicas que garantam a moradia, a saúde, a educação e o bem estar social. Fortalecer-nos com o Pão Eucarístico nas nossas comunidades, para nos comprometermos na luta por uma sociedade, onde haja lugar apara todos os filhos e filhas de Deus. Como nos dizia São Bernardino de Sena: “O dar-se Jesus Cristo a nós como alimento foi o último grau de amor. Deu-se a nós para unir-se totalmente conosco como se une o alimento diário com quem o toma.”