Sexta feira da Décima Sétima Semana do Tempo Comum. Agosto chegou sextando, neste 213º dia do ano. Uma sexta festiva para os Redentoristas, que celebram neste data a Memória de Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787). Afonso, este homem do final do século XVII, era muito culto, tanto que concluiu o seu doutorado em Direito Civil e Eclesiástico, aos 16 anos. Deixou um legado de muitos livros e tratados escritos, sobretudo na área de Teologia Moral. Em 1732, fundou a Congregação do Santíssimo Redentor (CSSR). Foi canonizado em 1839 e proclamado Doutor da Igreja, em 1871, pelo Papa Pio XI, 259º Papa da Igreja Católica e Bispo de Roma, exercendo seu pontificado de 1922 a 1939. O Dia 1º de agosto está registrado na história dos Redentoristas porque, foi nesta data que seu fundador faleceu aos 91 anos, em Nocera dei Pagani, Itália.

Santo Afonso está registrado nos anais da minha história de vida. Ter passado por longos anos pelo processo formativo nos seminários com os Redentoristas, proveu-me de uma formação humana e intelectual esmerada. Aliás, sou muito grato a eles, por tudo o que me proporcionaram no caminho de preparação para tornar-me um religioso, premiado com a Ordenação presbiteral em 1989, em minha cidade natal. Ao longo deste processo, li muito do que Afonso escreveu, e me apaixonei pela sua opção de vida que, embora oriundo de uma família nobre napolitana, fez a opção pelos pobres com a própria vida de entrega às causas dos “cabreiros”, pastores de ovelhas, moradores da região montanhosa de Scala, na Itália. Adotei uma de suas falas como projeto de vida: “Só não pare de andar, assim você vai chegar… quem ama a pobreza é dono de tudo”.

Em 1992, fiz a minha primeira inserção na Prelazia de São Félix do Araguaia, convidado para aqui estar pelo nosso bispo Pedro. Um jovem padre (três anos), tendo o privilégio de trabalhar com aquele que era referência para todos os que pensavam suas utopias, para além de seu tempo. Encontrei em Pedro, tudo aquilo que descobri em Afonso, com a sua “Copiosa Redenção”, buscando alcançar aqueles e aquelas que estão mais distantes da Igreja. Aqui encontrei uma realidade de pobreza extrema, tudo a ver com aquilo que Afonso sonhou, com o seu carisma, de estar junto e ao lado daqueles empobrecidos carentes de cuidados. Pedro, com a sua vida de austeridade e entrega pelo Reino, cativou o meu lado missionário, assim que, com ele, entrei pela primeira vez numa aldeia indígena, acompanhado da expressão recomendada: “aqui você não vai ser padre, mas um com eles, nas causas deles”. Assim, aqui estou! Recado dado, recado cumprido no esforço de cada dia.

Ensinamentos que fazem parte da vida. Viver é aprender a cada dia! Aprender com a realidade e aprender com Jesus, que no dia de hoje, segundo o texto proposto pela liturgia, está ensinando em uma sinagoga, em sua cidade natal. Este contexto também é descrito por Marcos (Mc 6, 1-6), ambos apontando a rejeição de Jesus pelos seus concidadãos nazarenos. Pelo que se vê a estada de Jesus ali com os seus conterrâneos, assinala um enorme fracasso do Galileu junto dos seus. Inadmissível para aquela gente que, um como eles, pudesse ser quem Jesus apresentava ser: o Messias encarnado. De origem pobre e sabendo quem eram os seus pais, os pobres se recusando a acreditar em alguém como eles, apesar do texto afirmar: “ficaram admirados se perguntando: de onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres?” (Mt 13,54)

“Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não moram conosco? Então, de onde lhe vem tudo isso? (Mt 13,55-56) Como pode que o filho de Seu Zé e Dona Maria pode ter tanto saber e fazer as coisas que este homem faz? Deus feito homem, atuando num contexto social. Jesus sendo rejeitado pelos próprios vizinhos. Os conterrâneos de Jesus colocam a questão sobre a origem da autoridade d’Ele. Para eles, é impossível que Jesus, sendo um deles, tenha a autoridade de Deus. Por isso, eles o rejeitam. Essa rejeição não é meramente acidental: é apenas mais uma prova de que Jesus é o enviado de Deus. Foi assim com todos os profetas que vieram antes d’Ele no Primeiro Testamento. É assim também que acontece com todos os que hoje, fazem a sua opção radical pelo seguimento de Jesus: serão rejeitados, perseguidos, caluniados, odiados e mortos.

A lista dos rejeitados de hoje é grande, tudo por causa da opção fiel e radical pelo Reino. Muitos Mártires da Caminhada “perderam” a vida, como testemunhas fiéis do Ressuscitado. As ações e ensinamentos de Jesus continuam ainda hoje na pessoa daqueles e daquelas que abraçam as suas causas. Todavia, ainda hoje há pobres que não acreditam nos pobres, preferindo estar ao lado dos ricos, causadores de sua pobreza. Mas nem isto pode nos desanimar na nossa missão de anunciar e construir o Reino com a participação direta das nossas ações. Talvez, nos momentos de maiores dificuldades, possamos confiar em Deus, acreditando naquilo que foi descrito por Josué, num dos seus colóquios com Deus: “Sou eu que estou mandando que você seja firme e corajoso. Portanto, não tenha medo e não se acovarde, porque o seu Deus está com você aonde quer que você vá”. (Js 1,9) Para tanto, é preciso firmeza e coragem para construir uma sociedade fraterna e igualitária, conforme foi projetada pelo sonho de Deus para a humanidade.