Quinta feira da Décima Semana do Tempo Comum. Chegamos a meados de junho. As temperaturas seguem caindo. O Estado de Mato Grosso está gelado em algumas de suas regiões. O reflexo destas baixas temperaturas chegou ao Araguaia. Tivemos a manhã mais fria do ano. Apesar do vento soprando, nada tão frio que necessite de algum agasalho. Uma temperatura agradável. Como por aqui é muito quente, qualquer queda na temperatura já é o suficiente para as pessoas dizerem: “ta muito ‘fri’”. O Araguaia, com sua água morna, segue preguiçosamente movimentando rumo ao Rio Tocantins.

Acordei nesta manhã com “sintomas de saudades”, como canta Ana Carolina em sua canção “A Sua”. Com o clima favorecendo, mas também com a contribuição das enormes araras azuis que fizeram escala hoje em meu quintal, promovendo um estado de espírito bucólico. Assim ficou mais fácil entrar em sintonia com Deus em forma de oração. Um jeito orante de meditar a palavra de Deus. Recordei os bons tempos do CEBI, e fiz a Leitura Orante da Bíblia (lectio divina). Segundo o que aprendi, esta é composta por quatro etapas distintas: a) lectio (leitura); b) meditatio (meditação); c) oratio (oração) e d) contemplatio (contemplação). Quatro etapas de um jeito simples de desenvolver um caminho pedagógico-espiritual, mergulhando o coração na intimidade de Deus.

Neste dia 15 de Junho celebramos o “Dia Mundial de Conscientização sobre o Abuso Contra a Pessoa Idosa”. É comum acontecer entre nós ainda, infelizmente, muitos casos de maus-tratos para com os nossos idosos. O Brasil hoje é constituído por uma população estimada de 212,7 milhões de pessoas. Segundo dados de 2021, a população de pessoas com 60 anos ou mais, é de 31,2 milhões, significando 14,7% de toda a população brasileira. Estas pessoas tem sido alvo de abuso, por este motivo se criou este dia para alertar para esta situação tão grave entre nós. No momento da vida em que as pessoas mais necessitam de cuidados especiais, recebem este tipo de tratamento. Triste, muito triste!

No plano litúrgico, Jesus segue realizando os seus ensinamentos e orientações aos seus discípulos e discípulas. A continuidade do “Sermão da Montanha”, cuja temática central da conversa é ainda sobre a Lei e as forma de dar cumprimento a ela. Mateus dando as suas coordenadas, narrando as ações de Jesus, que no dia de ontem cometi um equivoco ao traduzir os Evangelhos Sinóticos. O certo seria dizer que, sinótico é a narrativa sob o mesmo ponto de vista, uma vez que “sin”, “junto com” e “ótico”, “visão”. Desta forma, Mateus, Marcos e Lucas compartilham a mesma perspectiva da história registrada de Jesus.

Mas voltando a temática da Lei, Jesus foi bastante incisivo ao dizer: “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”. (Mt 5,20) Esta fala é paradigmática para o entendimento de todo o restante da fala de Jesus. Os lideres religiosos eram exímios cumpridores da Lei com todas as minúcias e nuanças. Um complexo de leis sob uma ótica de interpretação fundamentalista desta lei. A Thorah (Torá), possuía cerca de 613 preceitos, 248 mandamentos e 365 proibições, cujo conteúdo teria sido escrito por Moisés. Os rabinos faziam questão que todo este arcabouço fosse cumprido, sem levar em consideração cada uma das situações vividas pelas pessoas.

Jesus rompe com esta interpretação fundamentalista e dá um sentido novo para a lei. Ela é importante na medita em que cada uma destas leis traga em si a justiça do Reino, a misericórdia de Deus e a compaixão para com os mais pobres e marginalizados. Ele mostra claramente que a lei está incorporada ao compromisso que se tem pela fé. Uma fé comprometida com as causas dos mais pobres, excluídos, vulnerabilizados e invisíveis. Não basta ter boas intenções como os mestres da lei e os fariseus, mas é preciso incorporar a lei ao contexto da vida humana e a realidade concreta que as pessoas estão vivendo. Como diria Santo Agostinho: “Não basta fazer coisas boas – é preciso fazê-las bem”.

A lei foi escrita para tornar a vida mais humana, fraterna, igualitária e não para escravizar as pessoas. A hermenêutica da lei passa pelo critério da vida que precisa ser vivida na sua totalidade. Jesus é a nova Lei que veio trazer a vida com abundância. A Antiga Aliança deu lugar a Nova Aliança com a encarnação do Verbo entre nós. Como São Paulo assim nos escreve em uma de suas cartas: “Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte”. (Rom 8,2). Jesus entende que a lei precisa receber uma nova roupagem, outra interpretação, para que deixe de ser apenas preceitos e normas morais, mas que seja adequada à vida com justiça e liberdade dos filhos de Deus: “Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento”. (Mt 5,17) A lei como compromisso de fé e libertação de todas as formas de opressão, inclusive religiosa.