Sábado da Primeira Semana da Quaresma.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Seguimos nós com a proposição de refletir sobre a nossa caminhada de fé na perspectiva da conversão. Converter é mudar de vida. Mudar o jeito de ser, pensar e agir. Tempo para repensar a caminhada à luz da Palavra de Deus. Como nos alerta o apóstolo Paulo: “Eis o tempo de conversão, eis o dia da salvação”. (2Cor 6,2) Esta é a dinâmica que nos é proposta ao longo da vida. Cada dia exige de nós atitudes de conversão. Quem não é capaz de assim entender, caducou na sua fé e Deus não tem mais o que fazer na sua vida, por mais que Ele assim o queira.

Neste dia 4 de março celebramos o Dia Mundial da Oração, apesar de que, para alguns setores das igrejas, este dia recai na primeira sexta feira de março. A proposição do Dia Mundial da Oração surgiu nos Estados Unidos no início do século XIX, logo após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Aqui no Brasil passou a ser difundido por um grupo de pessoas cristãs da Igreja Presbiteriana a partir do ano de 1938. Oração que não tem dia e nem hora para ser feita, uma vez que sempre devemos ter tempo para a prática da oração, seja ela individual ou comunitária. Se bem que, melhor que rezar, é manter sempre um espírito orante de vida. Rezar cantando na perspectiva agostiniana: “Quem canta reza duas vezes”.

Rezar sempre pela lógica do amor. A lógica do amor é amar sem medidas, incondicionalmente, assim como Deus ama a todos indistintamente. Sentir-nos amado por Deus é saber que a vida tem um novo sentido e acontece dentro da perspectiva da irmandade. Somos parte integrante da grande família de Deus e estamos todos interligados. O amor não conhece limites. Os limites do amor é o amor sem limites. ”Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”. (1 Jo 4,8) A amorosidade de Deus se torna conhecida pelas pessoas no ato de dar, por amor, o seu Filho ao mundo: “Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3,16). Não significa apenas amar com sentimento e com afeto, mas através de ações concretas que promovam a vida e a liberdade das pessoas.

Não existe receita pronta e acabada para se amar. Toda forma de amar vale a pena. Quem ama deve saber que o objeto do seu amor é a pessoa que existe concretamente e necessita viver na intensidade que Deus projetou para todos nós. Amor de gratuidade, de perdão, de aceitação, de respeito ao ser do outro, sem querer que a pessoa amada seja aquilo que gostaríamos que ela fosse. Diferentemente da sociedade que nos educa para a competitividade. A escola também está caminhando nesta mesma direção, formando os alunos para a competição. No espírito da competitividade está implícito a superação do outro pelo modo de ser egoísta que precisa ultrapassar o outro e chegar à frente no final da jornada, vencer!

A lógica do amor é diferente e não pode se assemelhar-se a lógica da sociedade meritocrática. A lei da meritocracia é perniciosa e não contém em si a lógica do amor. Meritocracia que é uma palavra formada pelos termos gregos “mereo” significando “ser digno”, “ser merecedor” e “kratos”, que é sinônimo de “poder”, “força”. Em outras palavras, se alcançaria o poder na vida por intermédio do merecimento. Assim sendo, vence na vida aqueles e aquelas que se dedicam e se esforçam em medida suficiente.

A lógica do seguimento de Jesus é outra bem diferente e não pode ser a do merecimento. A lógica de Jesus é a do amor incondicional. Amar sem limites e em todas as circunstâncias. Amar a todos indistintamente, inclusive os inimigos: “Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! (Mt 5, 44) O que Jesus nos pede é que sejamos capazes de amar para além das fronteiras estabelecidas pelas nossas relações. Não é fácil de amar os nossos inimigos e aqueles que nos fazem mal. Talvez possamos chegar a este nível fazendo uso daquilo que Paulo Freire nos ensinou através de sua pedagogia: “A melhor forma de amar o opressor é fazer com que nunca oprima”. Tarefa para o coração que se abre para o amor incondicional à todos. Quem sabe assim possamos chegar ao versículo com que Mateus conclui o seu Evangelho no dia de hoje: “Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”. (Mt 5,48)