Nelson Peixoto. Dietor de Liturgia da UNESER.

Em Nazaré, Jesus bem pequeno, brincava no compartimento da casa, onde as mulheres da família faziam o pão junto com sua mãe Maria.  Talvez, depois brincasse com Mariazinnha de Magdala no canteiro de temperos e de flores da vizinhança.
Jesus conheceu cedo o valor das amizades e a força do fermento para aumentar a massa e multiplicar o sabor da vida, matar a fome e sair para correr nos caminhos ou ir ajudar na roça.
Do forno, vinha o cheiro que envolvia a todos no amanhecer da pequena vila.
Essa experiência de vida, referencial de amizade com discípulas e discípulos, Jesus transporta para suas parábolas e falava do Reino que é o desejo do Pai de quem é íntimo filho e se fez amigo de todos que eram enjeitados. Provavelmente, teria encontrado, muito tempo depois, Maria Magdala, uma amizade que, com a morte, não poderia acabar. Certo estou que, como Apóstola, pouco reconhecida, tenha liderado o grupo de outras mulheres que seguiram Jesus a procurá-Lo até depois de o terem  fechado no túmulo.
Dos sinais que Jesus realizou e que as comunidades registraram, sobretudo as comunidades de São João, está o discurso, após a multiplicação dos pães e da despedida na última ceia quando apresentou como sendo o Pão da Vida, segundo se auto-declarou ” EU sou o Pão da Vida e a Videira. Comei e tomai”. Jesus, assim se garantia, presente e soprando o Espírito Santo sobre tudo aquilo de mais natural, redimindo e tornando tudo divino, exceto o pecado na sua forma mais cruel de exploração dos pobres pela religião e pela política.
No cotidiano da vida, o Espírito Santo em Jesus, desde pequeno, nos ensina a olhar tudo na vida com olhos de quem vê sempre o amor do Pai e a anunciar sua Novidade, entre irmãos de todas as raças.
O cheiro do pão, o perfume da flor, a doçura do mel, a galinha com seus pintinhos e a figueira sem fruto, as amizades fiéis são a revelação da bondade do Pai que nos sustenta e que não o deixará sepultado para sempre, vencido pelas forças da violência e da opressão.

Entre todas as coisas que suas mãos tocaram, escolheu o pão para mostrar que seu amor pelos seus, quando sentados à mesa da Ceia derradeira, se tornaria alimento da vida eterna e fraterna, como Corpo e Sangue de Cristo.
Um amor jurado assim por Ele, não podia mais retroceder,
mas seria comunhão com os irmãos. Haveria perdão porque  eterno é seu amor e sua misericórdia nos dias que se seguiriam até o fim dos tempos. Proposta de amor gratuito para ser respondida por amor.
Do nascer ao pôr do sol, do Nascimento à Morte na Cruz, o Caminho se abriu para abraçar o Pai na Páscoa da Ressurreição.
Madalena (Magdala) e suas amigas foram as primeiras a acreditar, independente da constatação do túmulo vazio. Depois se seguiram outros que passaram pela experiência com o consequente anúncio, tal como faria Pedro falando para as multididões perplexas.
Relata-se do casal que voltava desolado de Jerusalém, depois do fim de semana trágico da morte de Jesus. O termo usado, irmãos de Emaús, já é uma projeção da fé da Igreja caminhante quando repetia o gesto de partilhar o pão, sem diferença entre homem e mulher, grego ou gentio.
Nossa fé em Jesus deixa de ser mágica e adquire a certeza do Ressuscitado, cada vez que repartimos a vida, lutando pela Justiça do Reino e caminhamos como missionários e discípulos do Redentor.
“Fica conosco, já é tarde e já declina o dia”. O Senhor ressuscitou verdadeiramente.