Quinta feira da Décima Sexta Semana do Tempo Comum. A passos largos, vamos caminhando rumo ao oitavo mês do ano. 2023 já dobrou a esquina do segundo semestre. Nestes tempos atuais, as coisas acontecem muito rapidamente. “O tempo voa”, como costumava dizer meu amigo Deodato. Como aprendi nas minhas aulas de latim, com o saudoso professor José Braga, nos bons tempos de Santo Afonso (1977): “Tempora mutantur et nos in illis” (“Os tempos mudam e nós mudamos com ele”). Por ser o tempo tão veloz, somos desafiados a viver na intensidade maior possível, para que cada instante de nossas vidas seja a expressão de nossas realizações.

Se o tempo está em permanente mutação, para algumas realidades, estas mudanças ainda não chegaram. Para os povos indígenas, então, não é, infelizmente, o que gostaríamos que estivesse acontecendo. Pelo menos é o que aparece no Relatório da Violência contra os povos indígenas, que o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), divulgou nesta quarta feira (26). Segundo este, “o número de indígenas assassinados no Brasil entre 2019 e 2022 chegou a 795. Só no ano passado, foram 180”. Lideranças, jovens e até crianças, assassinadas pelos contumazes invasores dos territórios indígenas. Isto sem falar das mulheres que são violentadas sexualmente por algozes garimpeiros.

Desde a colonização, os Povos Originários vem sofrendo com a grilagem de seus territórios sagrados, apesar de seu movimento de resistência. A invasão de terras pelos grandes latifundiários, sempre foi um problema para as populações indígenas. Nestes últimos quatro anos (2019-2022), esta prática se intensificou, com a ação criminosa de pecuaristas, membros do agronegócio, madeireiros, garimpeiros, sempre com sua prática eco-geno-etnocida, de destruição, contaminação e derrubada da floresta. Como aponta o Relatório do CIMI, “o luto é uma realidade com a qual convivem diferentes povos indígenas em todos os pontos do território brasileiro”.

Deus é o autor da vida. Jesus é o Filho que veio, em nome do Criador em favor da vida plena para todos. (Jo 10,10). Todos os ensinamentos de d’Ele focaram nesta defesa intransigente da vida. Ensinamentos também em forma de parábolas, para que o entendimento e a compreensão chegassem ao conhecimento de todos, sobretudo dos mais simples e humildes. Jesus que falava em parábolas para explicar as verdades mais complexas de uma forma simples. Em suas parábolas, Ele usava figuras que seus ouvintes entendiam. Jesus usava histórias simples explicando realidades difíceis de entender, como a salvação e o Reino de Deus. Desta forma, até a pessoa mais simples poderia entender o Evangelho.

As parábolas são muito comuns na literatura oriental/sapiencial. Trata-se de uma narrativa alegórica que transmite uma mensagem indireta, por meio de comparação ou analogia. Este tipo de gênero literário possui um simbolismo próprio, onde cada elemento da história tem um significado específico. Talvez por este motivo Jesus usasse das parábolas, também para se cumprir a profecia descrita num dos salmos: “Em parábolas abrirei a minha boca, decifrarei enigmas do passado”. (Sl 78,2). Em suas parábolas, Jesus revela os mistérios profundos do Reino de Deus, que precisa acontecer no aqui e agora da história.

Jesus contava as suas parábolas de maneira geral à multidão, mas apenas dava a explicação delas reservadamente aos seus discípulos, conforme revela o evangelista Marcos: “Para a multidão Jesus só falava com parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, ele explicava tudo”. (Mc 4,34) Até porque as pessoas na multidão não estavam interessadas em segui-lo. Apenas queriam ver os sinais (milagres) ou debochar de Jesus. É por este motivo que a liturgia desta quinta feira nos mostra os discípulos indagando a Jesus a razão d’Ele usar da pedagogia das parábolas: “Por que tu falas ao povo em parábolas?”.(Mt 13,10)

Mistérios revelados em parábolas. Os mistérios do Reino só serão conhecidos e revelados àqueles e àquelas que fazem a sua adesão a Jesus. Adesão ao Projeto Messiânico libertador de Jesus. Quem abre o seu coração, sua mente e o seu ser, e se deixa tocar pelo mistério do Reino, aceita Jesus como o Messias, transformando-se em agente de transformação da realidade. A estes, o Mestre vai dizer: “Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem”. (Mt 13,16). Um desafio que nos é colocado de caminhar com/como Jesus nas estradas deste mundo, perfilando aos mistérios do Reino, seguindo, talvez o conselho paulino: “Não procuremos as coisas visíveis, mas as invisíveis; porque as coisas visíveis duram apenas um momento, enquanto as invisíveis duram para sempre”. “2Co 4,18)