Sexta feira da Décima Sexta Semana do Tempo Comum. Sextando pela última vez neste mês de julho, encaminhando-nos para mais um final de semana. Aqui, pelas bandas do Araguaia, seguimos com as temperaturas baixas, sobretudo nas madrugadas. Não muito comum para esta região que, ao longo do dia, o sol vem impondo o seu calor, permitindo pelo menos uns três sois para cada um. A temporada de praia segue de forma mais amena, desta vez para os que aqui moramos, sem a bagunça dos que vem de fora. A cada ano as praias se formam diferentes, seguindo a lógica do Araguaia. Desta vez, não tivemos praia em frente ao cais, a não ser no meio do rio em formato de ilha.

As famílias se esvaziam novamente, com os filhos e parentes que as vieram visitar voltando para as suas rotinas nas cidades grandes. Grande parte dos filhos destas famílias estudam fora, principalmente os mais jovens. Como o campo acadêmico por aqui é limitado e de poucas opções, os meninos e meninas alçam voos mais altos em busca dos seus sonhos fora daqui. Alguns que se formam, voltam posteriormente, mas a grande maioria fica por lá, construindo os seus “castelos de sonhos” longe de seus familiares. Como dizia a Madre Teresa de Calcutá: ”Os filhos são como as águias, ensinarás a voar, mas não voarão o teu voo. Ensinarás a sonhar, mas não sonharão os teus sonhos. Ensinarás a viver, mas não viverão a tua vida. Mas, em cada voo, em cada sonho e em cada vida permanecerá para sempre a marca dos ensinamentos recebidos”.

A vida com os seus mistérios. Este é mais um dos mistérios da vida: nenhum dos pais cria filhos para si mesmos, mas para o mundo. Eles crescem e batem asas. Quando muito, carregam sobre si os ensinamentos semeados desde o berço materno. Por mais simples que seja a vivência em família, sempre há os caracteres que são passados em forma de valores e princípios. A personalidade da pessoa é forjada através destes valores recebidos. Desta forma, os filhos são os espelhos de seus pais. A semente plantada florescerá no tempo certo, trazendo na sua essência o DNA que os pais ali plasmaram. Como nos dirá o psicólogo Carlos Alberto Hang: “O papel dos pais não é o de cortarem as asas de seus filhos, mas de os ensinarem a voar mais alto do que eles mesmos um dia já conseguiram chegar”.

O mistério da vida que há na semente. Para que seja útil e cumpra a sua missão, ela precisa morrer. Morrendo, renascerá em uma nova realidade: “se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto. (Jo 12,24). A semente faz a experiência dolorosa do “perder-se” para “voltar a ser”. Aquilo que a metafisica de Aristóteles denomina de “Ato” e “Potência”. “Ato” é a forma assumida pelo Ser em um determinado momento da vida inerente a si mesmo. Já a “Potência” é aquilo em que é possível algum ser se transformar em virtude desse fim próprio. Assim, uma semente é uma potência da árvore que dela nascerá e florescerá, espalhando seus frutos e gerando novas sementes.

Mistério da vida na semente que a liturgia de hoje mais uma vez nos traz. Seguimos refletindo o capitulo 13 de Mateus, com Jesus desvendando para os seus, mais uma de suas parábolas. Explicando a dinâmica de como acontece o procedimento da semente que é semeada. Semente que necessita de um espaço próprio e preparado para que aconteça com o ela a ação de gerar outras vidas, outros frutos. Infelizmente, algumas das hermenêuticas deste contexto bíblico são feitas enfatizando por demais um caráter moralista, enfocando apenas o coração que não se abre para acolher a semente (Palavra). Este tipo de interpretação corre o risco de ficar presa no aspecto da relação pessoal entre a semente lançada e o coração adverso de determinada pessoa.

As parábolas de Jesus enfocam o Mistério do Reino e a Salvação que chegou para todos. Há vários condicionantes neste contexto que precisam ser levados em consideração. Ao detalhar o contexto da parábola do semeador, Jesus está ponderando sobre alguns obstáculos para compreender a Palavra do Reino (querigma – seus ensinamentos): a alienação, que tira o poder de decisão da pessoa; as perseguições concretas que causam desânimo; as estruturas políticas e econômicas de poder que fascinam e seduzem. Assim, o terreno preparado para acolher a semente, ou seja, a compreensão da Palavra do Reino é aquele que acontece na dramaticidade dos conflitos, sejam eles pessoais e ou sociais. “Felizes os que observam a palavra do Senhor, de reto coração, e que produzem muitos frutos, até o fim perseverantes!” (Lc 8,15)