Sexta feira da Décima Semana do Tempo Comum. Junho sextando em clima de festa e de ecumenicidade. Sim, porque em alguns municípios, como São Félix, por exemplo, hoje é feriado municipal: Dia do Evangélico. Também para a comunidade católica, hoje é o dia dele: Santo Antônio de Pádua. Um dos santos mais populares da devoção católica. Nasceu em Lisboa, Portugal, por volta do dia 15 de agosto de 1125. Com 15 anos, entrou para a Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. Foi ordenado sacerdote. Dedicou-se a uma vida religiosa mais severa, conhecendo pessoalmente São Francisco de Assis, trocando os agostinianos para seguir os passos do Poverello de Assis, deixando o nome de batismo (Fernando) e assumindo-se Antônio. Sob a influência de Santo Agostinho, Antônio conjugou, de modo original, mente e coração, pesquisa teórica, prática das virtudes, estudo e oração. Doutor da Igreja, Santo Antônio morreu aos 36 anos no dia 13 de junho de 1231.
De Antônio, passamos agora para Fernando, ambos nascidos em Lisboa, Portugal. Se um fez a sua páscoa no dia 13 de junho, o outro veio a este mundo nesta data, para tornar os nossos dias mais amáveis, através de sua poesia. Estou me referindo ao maior poeta do século XX, Fernando Pessoa (1888-1935). Desenvolvi a minha vida estudantil, passeando pelas letras deste poeta, dramaturgo, ensaísta lisbonense. Li avidamente uma de suas principais obras: “Mensagem”, seu único livro em língua portuguesa publicado em vida em 1934. Acho que sou um pouco ele quando nos diz: “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Infelizmente, em tempos de internet e das redes digitais, as pessoas perderam o saldável hábito da leitura dos bons livros, inclusive os da área da educação. Uma pena.
Como o nosso propósito aqui é refletir no contexto da liturgia diária, alimentando a nossa fé, mais uma vez estamos diante do Evangelho de Mateus, dentro do contexto do “Sermão da Montanha”, também conhecido como “Sermão do Monte”. Trata-se de uma pregação feita por Jesus, onde Ele ensinou os princípios básicos importantes da fé e vida cristã. Lembrando que esta pregação de Jesus está presente também no Evangelho de Lucas. Esta mensagem de Jesus é composta pelos seguintes temas: Bem-aventuranças – 8 características da verdadeira felicidade; “Sal da Terra” e “Luz do Mundo” – A importância de ser exemplo; “A Lei do amor” – obediência, ira, adultério, divórcios, juramento, vingança e inimigos; “Práticas espirituais dos cristãos” – orar, jejuar e ajudar os necessitados; “Buscar 1º o Reino de Deus” – confiança em Deus é a prioridade; “Resumo da Lei de Cristo” – tratar os outros como deseja ser tratado; “A porta estreita e a decisão pessoal” – o caminho para seguir nem sempre é o mais fácil; “Quem entra no Reino de Deus” – os verdadeiros discípulos.
Jesus orientando os seus discípulos sobre a radicalidade da vivência da fé e do ser cristão. Radical aqui no sentido de quem vai, mas está sempre interligado e bebe da fonte principal, a origem: Jesus de Nazaré. Não se trata de ser “radical” no sentido de trocar o Evangelho pelas doutrinas, pelos ritos, preceitos, normas, sempre ligados ao fundamentalismo religioso. A mensagem central apresentada por Jesus a seus discípulos, está fundamentada naquilo que a Teologia chama de “Didaqué”, uma palavra de origem grega, que significa “instrução”, “doutrina”, “ensinamento”. “Didaqué” que posteriormente passou a ser um dos primeiros escritos atribuídos aos cristãos da Igreja primitiva recebendo este nome. Um escrito instrutivo histórico que data do final do primeiro século da era cristã. Isso significa que seus autores viveram num período muito próximo da realidade de Jesus de Nazaré, tanto que, basicamente, essa compilação de ensinamentos apresenta um pouco dos costumes da Igreja nascente.
Diferente da “Didaqué é a mensagem querigmática. Esta última não se resume a falar de Jesus. Vai muito além disso. Trata-se de proporcionar uma transformação daquele e daquela que crê, por meio de um encontro pessoal com a pessoa de Jesus. Aquilo que os discípulos se prepararam para fazer em missão, como sinônimo do primeiro anúncio das verdades da fé. Segundo as Escrituras, Jesus de Nazaré foi morto, ressuscitou, subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai. Essa afirmação é o centro da nossa fé cristã. Portanto, este “Querigma” cristão consiste na apresentação de Jesus com seus três grandes títulos: Messias, Senhor e Salvador. Aquilo que o Catecismo da Igreja Católica definiu com estas palavras: “Esta fé, que recebemos da Igreja, guardamo-la nós cuidadosamente, porque sem cessar, sob a ação do Espírito de Deus, tal como um depósito de grande valor encerrado num vaso excelente, ela rejuvenesce e faz rejuvenescer o próprio vaso que a contém” (CIC 175).
Resumindo, Jesus fala abertamente sobre a conduta e atitudes a serem tomadas pelos seus seguidores, se assim quiserem ser fieis à proposta do Reino. Aparentemente dá-se a impressão de que a radicalidade de Jesus é algo sem limites e proporção: “cortar a mão”, “arrancar o olho”. Certamente os discípulos ficaram assustados com esta fala de seu Mestre. Vários temas entram nesta proposta radical de Jesus. Ele radicaliza até à interioridade a fidelidade matrimonial, apelando para o o amor verdadeiro e leal. Perante o contexto daquela sociedade machista patriarcal, o adultério começa com o olhar de desejo, e o mal deve ser cortado pela raiz. O texto de hoje termina com a citação do versículo 32, referindo ao caso de união ilegítima, por causa do grau de parentesco que trazia impedimento matrimonial segundo a Lei: “Ninguém de vocês se aproximará de uma parenta próxima, para ter relações sexuais com ela”. (Lv 18,6)
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