Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Sábado da vigésima quinta semana do tempo comum.
Chegamos ao último final de semana de setembro. Mês que a Igreja Católica dedica à Bíblia desde o ano de 1971. Todavia, já era costume se comemorar desde 1947, o Dia da Bíblia no último domingo do mês de setembro. A Igreja reservou este mês à Bíblia em homenagem a São Jerônimo (340-420 d.C), que tem o seu dia no ultimo dia do referido mês. Foi ele que fez a primeira tradução da Bíblia, do grego e hebraico para o latim, que era a língua falada pelo povão. Esta sua tradução foi denominada de “Vulgata”, ou seja, popular. Tudo no intuito de tornar a literatura bíblica mais conhecida dos mais simples e humildes.

Poucos de nós sabemos, mas no dia de hoje também se comemora o Dia do coração. Este dia surgiu nas nossas vidas com a finalidade de se fazer uma sensibilização maior quanto a importância da prevenção das doenças cardiovasculares. De saber que mais de 300 mil pessoas do meio de nós apresentam problemas relacionados ao coração, segundo dados da Associação Brasileira de Cardiologia (SBC). Nunca é demais lembrar que a mudança de hábito alimentar, com uma alimentação mais saudável, a prática regular de exercícios físicos, dentre outros hábitos, ajudam na prevenção das doenças cardiovasculares. Nestas circunstancias, é bom seguirmos o conselho do filósofo e matemático grego Pitágoras: “Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo”.

Coração de Jesus que sobrava em generosidade e cabia a todos. Coração de Jesus, voltado para os pobres e rejeitados de ontem e de hoje. Coração de Jesus que abraçou a causa dos pequenos, encarnando-se na nossa realidade histórica humana. Coração de Jesus que tinha uma classe social como sua e por ela deu a vida. Como dizia nosso bispo Pedro em um de seus poemas: “No ventre de Maria Deus se fez homem. Na oficina de José, Deus se fez classe”. O ser divino encarnado como classe social de Jesus o levou ao confronto com os poderosos que arquitetaram a sua morte, pregando-o numa cruz. Cruz que se fez consequência de sua fidelidade ao Projeto de Deus, dando a sua vida pelos marginalizados.

O caminho da cruz entrou no horizonte de perspectiva de Jesus, como o texto da liturgia desta quinta feira nos mostra: “Prestai bem atenção às palavras que vou dizer: O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”. (Lc 9, 44) O caminho de Jerusalém estava no horizonte de perspectiva de Jesus. Ele sabia que lá, seria morto pelas forças repressoras dos dirigentes político-religiosos. Todavia, este não foi o entendimento inicial dos seus discípulos que demoraram para entender aquilo que Jesus estava falando. Somente passando por um processo de conversão, eles poderiam entender. Para compreender o messianismo de Jesus é necessário mudar a ideia que se tem a respeito do poder. Enquanto persistir entre os discípulos o desejo do poder que domina, não haverá possibilidade alguma de construir o Reino de Deus.

Também nós hoje somos desafiados a passar por este mesmo processo de conversão: mudar a ideia que temos de Deus, de Jesus e do poder. Um projeto triunfalista de poder não faz parte do sonho de Deus para a humanidade. Por este motivo se requer a conversão como ato primeiro, para fazermos a adesão ao projeto messiânico de Jesus. O caminho da fidelidade ao compromisso com Jesus passa pelo caminho da cruz que hoje os pobres estão sendo crucificados. Uma Igreja ávida por títulos, honrarias, prestígio, cargos e poder, não faz parte da Igreja de Jesus de Nazaré. Muito menos aquela Igreja que se enclausura na sacristia, atrás de um sacramentalismo doentio, se veste com as roupas de pompa e vive a bajular a elite dominante, não faz parte dos planos de Jesus para a sua Igreja. A experiência de estar com Jesus é o modelo pedagógico no qual aprendemos e assumimos o compromisso de descer da cruz os crucificados da história.

O texto bíblico de hoje nos ensina que, enquanto os discípulos não mudarem sua ideia sobre o Messias, jamais realizarão atos de libertação, que darão continuidade à missão de Jesus de Nazaré. Não entender e não querer entender que o caminho do calvário faz parte da dinâmica cristã leva o discipulado de Jesus a viver como meras pessoas cumpridoras de preceitos sacramentais, religiosos e morais, sem fazer a inserção e o enfrentamento da realidade de injustiça e desigualdades sociais. Jesus assumiu até as últimas consequências, dando a sua vida, sabendo Ele que Deus teria a palavra final: a morte será vencida pela vida, pois Ele, ressuscitado vive no meio de nós. Tudo por amor!https://www.youtube.com/watch?v=9QRDhEJemXg