Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Segunda feira da terceira semana da Páscoa.
O tempo é pascal. Nosso “Chronos”, personificado no tempo calculado, subordinado ao relógio, do qual não há como fugir se faz “Kairós”, tempo mais que oportuno de Deus, que se faz acontecimento especial com a Ressurreição do Filho de Deus, se fazendo presente entre nós. Nossa vida cronológica segue ainda no contexto pascal. A vida não para. O tempo não para. Páscoa é vida nova. A dinamicidade do Verbo Encarnado nos provoca a seguir adiante através do anúncio e testemunho d’Ele, que se faz ressuscitado em nós. O Ressuscitado não é um fantasma, mas divinamente presença de Deus na realidade humana.

É Páscoa. É vida nova. É Jesus perambulando entre nós no “Chronos” humano, se fazendo o “Kairós” de Deus. O Ressuscitado vive entre os seus fazendo morada definitiva em nós. Um dia especial para a Igreja Católica. Nesse tempo cronológico fazemos memória de Santo Atanásio. Um santo que nasceu no final do terceiro (296) para fazer história no seguimento de Jesus de Nazaré. Bispo e doutor da Igreja, teve um papel significativo no I Concilio Ecumênico de Niceia, que definiu os parâmetros da doutrina através da ortodoxia. Ortodoxia aqui entendida como a ideia da crença ou religião correta. É atribuído a ele também a definição solene do Credo que rezamos até hoje. Testemunha pascal do Cristo Ressuscitado é dele a frase que resume bem este tempo atual que estamos vivendo: “À festa da Páscoa segue-se a festa de Pentecostes, para a qual nos preparamos, como de festa em festa, para celebrar o Espírito que já está conosco em Cristo Jesus”.

Fundamentados ainda pela Campanha da Fraternidade de 2022, “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,36), seguimos no “Chronos”, refletindo a nossa educação brasileira. Dia 2 de maio. No dia de hoje, há 25 anos, perdíamos a nossa maior referência no campo da educação. Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997), educador e filósofo brasileiro, considerado como um dos mais brilhantes pensadores da pedagogia mundial. Patrono da educação brasileira, mesmo a contragosto dos raivosos arautos da mentira e do não pensar. Que falta nos faz o “pai da Pedagogia do oprimido”! Nestes dias sombrios que ora estamos vivendo de total (des)governança, fica a dica do mestre Freire: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”. Há muitos opressores desfilando na “internetês”, destilando sua ignorância na verdadeira acepção desta palavra. Paulo Freire vive em todos os educadores e educadoras que se fazem “aprendentes” permanentes do saber. Não de um saber que aliena, mas um saber pensante que liberta.

Assim como na segunda semana do tempo pascal, prosseguimos nesta fazendo a experiência das aparições de Jesus aos seus primeiros seguidores. Devagar o cotidiano daqueles primeiros cristãos vai voltando aos eixos. A narrativa evangélica é ainda da comunidade Joanina. João sabe como ninguém descrever os primeiros passos das primeiras comunidades cristãs, recebendo a presença de Jesus ressuscitado. Ainda que meio assustados, eles sabem que estão diante da pessoa de Jesus, embora sem querer afirmar categoricamente que era Ele. O clima ainda era o da multiplicação de pães e peixes, saciando a fome de uma grande multidão. Depois deste acontecimento, as pessoas vão atrás de Jesus, recebendo deste a seguinte advertência: “Estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. (Jo 6,26) Um seguimento ainda movido pelos interesses pessoais.

O imediatismo toma conta das pessoas que não sabem distinguir o provisório do permanente. O superficial da verdadeira essência do ser de Jesus. O transitório do que permanece. Aquelas pessoas procuram Jesus, desejando continuar se beneficiando da situação de abundância, onde as coisas são adquiridas por alguém que providencia tudo, sem exigir esforço e empenho pessoal de cada uma delas. Todavia, Jesus mostra que essa não é a solução adequada, uma vez que é necessário buscar a vida plena, mas isso exige o empenho de cada uma das pessoas. Em outras palavras, além do alimento que sustenta a vida material, é necessária a adesão pessoal a Jesus para que essa vida se torne definitiva. É necessário antes de tudo o comprometimento com a construção do Reino de Deus, onde todos poderemos experimentar o pão da vida que dura para sempre na pessoa de Jesus, o Cristo Ressuscitado, como Ele mesmo disse: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem vos dará”. (Jo 6,27) Que assim seja!