Sexta feira da 27ª Semana do Tempo Comum. Atravessando a primeira dezena deste mês missionário. Ser missionário é, antes de tudo, um chamado para todos os que fomos batizados, que envolve testemunhar a fé cristã e servir aos irmãos e irmãs na caminhada desta fé, onde estivermos, promovendo o Evangelho e atuando na solidariedade social, como saúde, educação, moradia, seguindo a orientação que nos deixou o Papa Francisco nos três “T”: Terra, Teto e Trabalho. Isso implica sair de nós mesmos, com renúncia e entrega, enfrentando os desafios que nos apresentam, como perdas familiares e financeiras, mas também vivenciando o privilégio de ver a transformação de vidas e a construção de um mundo mais justo, humano e solidário, segundo o plano divino de Deus. Como nos diz o Papa Francisco em sua Evangelii Gaudium, 120: “Cada cristão é missionário na medida em que encontrou o amor de Deus em Cristo Jesus”, reforçando que a missão nasce do encontro pessoal com o amor de Deus e se torna testemunho alegre no mundo.
Neste dia de hoje, temos uma missão muito importante a realizar. É que no dia 10 de outubro comemora-se o Dia Mundial da Saúde Mental. Pessoas que são afetadas por doenças físicas, perturbações mentais que, não só aumenta o grau de sofrimento, como as tornam menos capazes de manter um tratamento. A saúde mental não se limita apenas ao que sentimos individualmente. Ela é uma rede de fatores relacionados. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Saúde Mental pode ser considerada um estado de bem-estar vivido pelo indivíduo, que possibilita o desenvolvimento de suas habilidades pessoais para responder aos desafios da vida e contribuir com a comunidade. Segundo esta mesma Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 31% a 50% da população brasileira pode vir a apresentar pelo menos um episódio de transtorno mental durante a vida. Neste Dia Mundial da Saúde Mental, assumamos a missão e o compromisso de tratar as pessoas e não apenas algumas partes delas.
Ser missionário no cotidiano das nossas vidas, refletindo e buscando viver a palavra de Deus que nos é proposta a cada dia pela liturgia. Seguimos nesta sexta feira, numa continuidade do texto de Lucas. E, como nos propõe o Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), façamos uma reflexão orante desta perícope lucana. Recordando que a reflexão orante da Bíblia é um método de leitura que combina fé, estudo, meditação e oração, para que possamos fazer um encontro pessoal com Deus e a sua Palavra. Este método está fundamentado naquilo que a Igreja chama de “Lectio Divina”, que compreende quatro etapas principais do ser orante: leitura, meditação, oração e contemplação, que visam a uma conversão e transformação da vida. A expressão latina “Lectio Divina” sugere, portanto, uma leitura orante da Palavra de Deus, que é uma maneira profunda e significativa de nos relacionarmos intimamente com o Senhor. Portanto, fazer a leitura orante do texto bíblico, vai muito mais além da leitura, para decorar este ou aquele versículo, e sair por ai recitando como forma de domínios do conhecimento bíblico.
Um dos desafios da leitura orante da Bíblia é o de ler o texto dentro de seu contexto originário. Entretanto, para ler um texto bíblico dentro de seu contexto, precisamos analisar o contexto histórico-cultural e literário da passagem, fazendo perguntas ao texto, considerando o livro e a passagem como um todo, usando referências cruzadas, para melhor aplicarmos os ensinamentos à nossa vida e realidade cotidiana. É sempre bom lembrar que quando uma parte de um texto é retirada de seu contexto original, ela pode ser distorcida e usada para justificar interpretações errôneas, tornando-se um “pretexto” para diferentes intenções, como manipulação ou engano. Desta forma, o contexto é essencial para compreender o significado real pretendido pelo autor.
O texto do Evangelho de hoje é bastante complexo, e requer uma compreensão a partir da intenção do ensinamento de Jesus, feito a seus discípulos. O texto inicia dizendo que Jesus estava expulsando um demônio. Uma prática comum dentro da missão messiânica de Jesus, manifestando o seu poder, como forma de ser um sinal do avanço do Reino de Deus para dentro da história da humanidade. Os Evangelhos descrevem varias práticas de Jesus neste sentido. Entretanto, este exercício de Jesus estava sendo visto e criticado, como uma manifestação do poder demoníaco: “É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios”. (Lc 11,15) Diante desta e de outras observações feitas pelos adversários de Jesus, Ele apresenta a sua pedagogia vinculada ao poder de Deus, como uma unicidade entre ambos, com uma frase lapidar do Evangelho de hoje: “Quem não está comigo, está contra mim”. (Lc 11,23)
De que lado estavam, os adversários de Jesus? De que lado estavam, as autoridades civis e religiosas do tempo de Jesus? De que lado estamos nós, podemos também assim nos perguntarmos. Estar com Jesus significa muito mais do que estar vinculado a esta ou aquela religião, praticando atos devocionais religiosos, pois o fato de estarmos com Ele, significa que devemos lutar para libertar a pessoa humana da alienação escravizante, que a impede de falar/andar e fazer as coisas, por si mesma. Estes atos realizados por nós, em sintonia com a palavra e ação de Jesus, testemunham a chegada do Reino de Deus, pois para vencer os “satanases de hoje”, é preciso ser mais forte do que eles. Sendo assim, na compreensão e nos ensinamentos de Jesus, quem não age com e como Ele, torna-se seu adversário: “quem não recolhe comigo, dispersa”. (Lc 11,23b)
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