Sexta feira da Décima Quarta Semana do Tempo Comum. Uma sexta feira fria no Vale do Paraíba, onde acabo de chegar na cidade de Aparecida. O vento que corre sorrateiro faz diminuir ainda a sensação térmica. O mês de julho, caminhando rapidamente para entrar na segunda quinzena, com o meu coração relembrando do Araguaia, em que estamos vivendo neste momento a nossa temporada de praia.

“O coração tem razões que a própria razão desconhece”, diria o filósofo francês Blaise Pascal. O coração que se deixa preencher pelo espírito da saudade, move as asas da imaginação e do sonhar poético. Coração que nos faz aproximar da experiência do povo da Bíblia, cujo coração era o centro de onde partiam as decisões. Antes de pensar com a cabeça racional, sentia o pensar, pensando com o coração. É do coração do povo semita que brotavam as principais fontes de decisão.

“Todas as nossas palavras serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão.” Assim pensava e agia a Madre Teresa de Calcutá. Assim pode e deve ser o nosso jeito de ser: pensar e sentir pelas raias do coração. O caminho do coração é o caminho da misericórdia de quem de deixa engravidar pela amorosidade no jeito de amar. “Ama e faz o que quiseres”, como gostava de dizer Santo Agostinho.

Amar com o coração cheio do esperançar de Deus, para fazer a experiência de proximidade de caminhar com Jesus pelas periferias existenciais. Um caminho de ida sem volta, abraçando as mesmas causas d’Ele. Caminho de dor, sofrimento e desafios, cuja utopia do Reino nos fará como Ele: perseguidos, incompreendidos, maltratados e até mortos, afinal: “Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos”. (Mt 10,16). O caminho do discipulado é o mesmo caminho do Filho de Deus, se for trilhado na mesma perspectiva e coerência d’Ele.

Jesus não engana os seus. Pelo contrário, prepara-os para os desafios e obstáculos que terão pela frente, com uma diferença: os seus seguidores e seguidoras não contarão apenas com as suas próprias forças, mas com a presença viva do “defensor”, o Espírito Santo de Deus. Perseguidos, mas cheios de esperança da nova realidade com o advento do Reino.

O discipulado deve estar consciente de que terá o mesmo destino de Jesus: sofrer as consequências da missão que liberta e dá vida nova. Uma missão que atingirá em cheio os interesses de muitos e, por isso, provocará a perseguição, a divisão e o ódio, até mesmo dentro das próprias famílias. A missão, porém, será dirigida pelo Espírito de Deus. Por isso, os seguidores deverão perseverar até o fim, sem temor nem aflição, confiantes na plena manifestação de Jesus, Senhor da história.