Chegamos ao segundo sábado do mês de novembro.

Francisco (Chico) Machado. Escritor e missionário.

Estamos a caminho de celebrar o “Dia da Consciência Negra”. Um marco histórico na luta do povo negro, queira ou não a supremacia branca que ainda predomina nesta “Pátria amada salve, salve!” Foi no dia 20 de novembro, há 326 anos (1695), no finalzinho do século XVII, que foi assassinado o maior líder quilombola brasileiro, Zumbi de Palmares (1655-1695). Zumbi comandava o último e um dos maiores quilombos do período colonial, o Quilombo de Palmares, no estado de Alagoas. Morreu lutando bravamente pela liberdade de culto e religião do povo negro, bem como pelo fim da escravização colonial no Brasil.

https://www.youtube.com/watch?v=MmBCSwhLvSA

Falar de consciência é falar das nossas vidas, nossas lutas constantes. Todo dia é dia da consciência. A origem desta palavra vem do vem do latim “conscientia”, que quer dizer conhecimento de algo a ser compartilhado com alguém. Filosoficamente falando, a consciência é aquela percepção imediata que o sujeito tem daquilo que se passa, dentro ou fora de seu ser enquanto ser. A língua portuguesa, encontrou um jeito peculiar de definir a consciência, como a descoberta ou reconhecimento de algo, seja ele exterior, como um objeto, uma realidade, uma situação, quer seja algo interior, como as modificações internas sofridas pelo próprio eu interior.

Certo é, que todos nós trazemos dentro de nós a nossa própria consciência. Uns mais outros menos. Nunca devemos nos esquecer que a consciência é, antes de tudo, uma qualidade da nossa mente e coração, que nos faz possuir qualificações tais como subjetividade, autoconsciência e, sobretudo a grande virtude de ter a capacidade de perceber a relação que temos entre o meu eu e o outro eu. É a consciência que nos faz ter esta percepção de que não estamos sozinhos, e nem vivemos isolados neste mundo. Estamos todos interligados de uma tal maneira e magnitude que, se o outro não está bem, também eu não poderei estar bem. Talvez por razões como estas que levaram o filósofo germânico Hegel (1770-1831) a definir a consciência como um crescimento dialético, que atinge um nível transcendente, alcançando a sua superação do eu.

A consciência está diretamente correlacionada à nossa vivência cidadã. Cidadania aqui entendida como aquele conjunto de direitos e deveres a serem exercidos pelas pessoas que vivem em sociedade. Não é atoa que a expressão cidadania, vem da palavra latina “civitas”, que quer significar “cidade”. É na cidade que nos constituímos pessoas com direitos e deveres civis e políticos. E são esses direitos que nos permitem como cidadãos e cidadãs, intervir nas ações do Estado para poder usufruir os serviços ofertados pelos órgãos estatais. Consciência cidadã é o conhecimento pleno da nossa ação transformadora no intuito de fazer valer os nossos direitos. Quem não exerce a sua consciência cidadã, acaba não sendo digno dos direitos que lhes são assegurados.

Exercer a cidadania requer uma participação ativa na sociedade, seja nos movimentos sociais, seja na construção de políticas públicas afirmativas, visando o bem comum. Não quer dizer apenas votar a cada período nas eleições programadas, como muitos de nós assim pensam. Até porque, muitos dos nossos, delegam poder aos candidatos e, como se lhes assinassem um cheque em branco, e nem sequer acompanham a sua trajetória de atuação no parlamento. Sem falar daqueles que sequer se lembram em quem votaram no último pleito eleitoral. Votar é apenas um dos quesitos da vivência cidadã.

Como cristãos e cristas, como Igreja de Jesus de Nazaré, somos impelidos a vivenciar a nossa prática cidadã, com a consciência fundamentada nos valores evangélicos: “Pois eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar”. (Mt 25,35-36) Ou seja, o exercício pleno da cidadania de forma concreta, mantendo o compromisso com a pessoa de Jesus, identificado com os pobres e oprimidos, marginalizados por uma sociedade baseada na riqueza e no poder.

Uma consciência cidadã que luta incansavelmente pela justiça, como fez a viúva do Evangelho de hoje, “que vinha à procura do juiz, pedindo: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário!’” (Lc 18,3). Esta pobre mulher não se cansou de lutar pelos seus direitos. Com muita Insistência e perseverança, correu atrás daquilo que lhe era de direito. Isto nos faz lembrar que não podemos desistir da nossa luta e da nossa fé mesmo diante das muitas dificuldades que enfrentamos e vivenciamos na nossa caminhada pela vida. Devemos lutar com todas as nossas forças pelos nossos direitos, mesmo sabendo que não venceremos sempre, mas traremos em nós a garantia de que, no final, estaremos de consciência tranquila pois demos o melhor de cada um de nós.

 

Os textos dos colaboradores e colunistas não refletem necessarimente a opinião da UNESER.