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Francisco (Chico) Machado. É escritor e missionário.

Terceiro domingo do Advento. Este é o domingo da alegria. Não de qualquer alegria eufórica e vazia de sentido, mas a verdadeira alegria que nos vem pela proximidade de um Deus que se faz presente no meio de nós. Neste domingo acendemos a terceira vela do Advento. Este domingo é chamado de “gaudete”, um cântico do século XVI (1528), que quer significar alegria. O Senhor está perto! Aproxima-se o Natal. O Salvador está próximo de nós: Emanuel, Deus conosco; Messias encarnado; Verbo de Deus.

Alegria esta que é anunciada pelo profeta Sofonias, como a liturgia apresenta para nós no dia de hoje. Um dos profetas menores, que exerceu o seu profetismo entre os anos 640-630 a.C., num momento conturbado em que Judá, seu país natal, era disputado pelas grandes potências da época. Entretanto, apesar deste terrível cenário, o profeta anuncia a esperança sob a perspectiva de Javé, que salvará e reunirá novamente o seu povo, a partir de um “resto” pobre e fiel. Os escritos deste profeta se resumem a três capítulos apenas, reunidos em 53 versículos de pura alegria esperançosa do Deus que libertará o seu povo, os “pobres da terra” .

Alegria esperançosa que nos vem da Virgem de Guadalupe, Senhora do Tepeyac. Hoje é o dia de sua Festa. Toda a América Latina está em festa. Aqui, já não se trata mais de uma Nossa Senhora branca e de olhos azuis, que nos foi trazida pelo colonizador europeu, reforçando ainda mais o estigma da escravidão negra sobre o Continente. Esta é a virgem de pele escura, curtida pelo sol, característica típica dos povos ameríndios. A mãe que traz em si os traços de seu povo sofrido e maltratado pela mão poderosa e exploradora do colonizador, ávido de riquezas. Sobre ela declarou o Papa Bento XIV, em 1754: “Nela tudo é milagroso: uma Imagem que provém de flores colhidas num terreno totalmente estéril, no qual só podem crescer espinheiros… Uma Imagem estampada numa tela tão rala que através dela pode se enxergar o povo e a nave da Igreja… Deus não agiu assim com nenhuma outra nação”.

Feliz mesmo foi o padre Zezinho, que traduziu desta forma, uma de suas belas canções, que pode muito bem ser dirigida à Virgem de Guadalupe: “Mãe do Céu Morena. Senhora da América Latina. De olhar e caridade tão divina. De cor igual a cor de tantas raças”. Senhora de Guadalupe, que fez história junto do Povo Ameríndio. Ao final do século XIX (1875), depois de ser coroada pelo Papa Leão XIII, Nossa Senhora de Guadalupe é declarada a virgem “Padroeira de toda a América”, pelo Papa Pio XII, no dia 12 de outubro de 1945. Desde então celebramos a festa de nossa padroeira, juntamente com os povos originários desta nossa terra, “América Índia”.

Maria é a mãe do Salvador! A senhora que abraça, com alegria, as causas dos pequenos. Ela se faz caminheira com os pobres de Javé, posicionando-se junto dos sofredores que sonham com a sua libertação. A mulher forte e destemida que rompe com as estruturas opressoras do contexto sócio-histórico em que vivia, para se fazer aliada dos pequenos. Esta sua opção de vida, em se fazer parte integrante do projeto de Deus, ficou evidente ao pronunciar as palavras do Magnificat. Sobre esta postura revolucionaria de Maria, nosso bispo Pedro assim se manifestou com o seu “Magnificat dos pobres”: “Seu Braço Poderoso, quebranta o capital, os mísseis e a miséria, enche dos bens do Reino a humanidade pobre e despede despidos os acumuladores para o reino das trevas”. (“Canta-nos teu Magnificat”, 2005)

[11:02, 12/12/2021] Francisco Machado: Maria, a mãe revolucionária dos pobres de Javé. Senhora de Guadalupe que assume em si o rosto indígena dos pobres, massacrados desde a chegada dos colonizadores sobre as suas terras imemoriais sagradas. Alegria de saber que a nossa mãe é das nossas e se faz uma conosco no seu Filho Messias enviado por Deus. Neste sentido precisamos superar a fase infantil da nossa fé, quando ainda nos relacionamos com a Virgem, vendo nela apenas uma mulher submissa e subserviente, passiva diante das injustiças que ainda grassam entre nós. Ao contrário, somos desafiados a assumir uma fé revolucionária e comprometida com as transformações, encontrando na Mãe a força necessária para romper com as estruturas de morte dos pequenos: “Derrama a esperança sobre nós. Ensina o povo a não calar a voz. Desperta o coração de quem não acordou. Ensina que a justiça é condição. De construir um mundo mais irmão. E faz o nosso povo conhecer Jesus”. Viva a Senhora de Guadalupe! Que a alegria da vinda do Salvador encha-nos de esperança de dias melhores!