Nelson Peixoto, Manaus (AM)
Diretor de Liturgia da UNESER.

Preciso dizer que aplico o termo de “sacerdote”para Jesus por causa da Carta aos Hebreus.
É uma ligeira e incompleta reflexão da minha oração de uma madrugada de junho. Espero que não seja herético e, muito menos, revoltado e nem invejoso.
O que se entende como sacralização do sacerdócio no catolicismo, digamos, tradicional, mas não primitivamente originário?

A primeira resposta é ser “representante do sagrado”, resumindo a resposta mais antiga na história das religiões.
Para os seguidores de Jesus, há uma confusão porque é termo antigo de outros grupos religiosos que pouco revelavam antes da plenitude dos tempos em Jesus.
O termo “sacerdote “ é incorporado pela Igreja dos primeiros séculos do cristianismo como sistema e foi se estruturando e procurando dar razão teológica e bíblica como justificativa para o Ministério do Cristo Senhor, atribuindo de forma superlativa para os “episcopus “ e presbíteros, servidores como ALTER CHRISTI, esquecendo os demais seguidores e seguidoras. Estas últimas até excluídas dessa possibilidade.
O ministério de Jesus emerge, de forma condensada ou nascente na última Ceia como memória viva de uma vida de serviço, cura, perdão, bondade e entrega total. Igualmente, também de contestação ao sacerdócio exercido no judaísmo da época de Jesus.

Com a Encarnação, Vida, Morte e Ressurreicão rasgou-se o véu que separava o sagrado e o profano, a mediação dos homens com Deus pelos sacerdotes. Jesus “Sacerdote” não mais representava, mas era Deus mesmo no meio de nós.
A Ordenação dos Bispos e Presbíteros é autorização de presidência, liderança, que como membro do povo “sacerdotal”, entrega a vida para o Reino de Deus acontecer, dirige as ações litúrgicas e em nome de Jesus canaliza a graça do perdão e da intercessão pelos doentes e necessitados. Assim procedendo, como líder e sem a exclusão dos outros membros de Cristo, é igualmente um povo que presencialisa um Outro Cristo.
O “leigo”, no seu sentido de ignorante, não existia na igreja dos primórdios. Todos eram discípulos e discípulas do Mestre.
Clemente Romano é quem vai, perto do ano 100, querer justificar uma divisão hierárquica.
Tertuliano, no século III,
é que vai marcar uma mudança significativa do termo leigo ao afirmar; “é dos leigos que provém a hierarquia da igreja, que devem ser puros, como os membros do clero e obedecer as mesmas leis que estes”.
Tertuliano não venceu e suas ideias, ainda dentro do paradigma hierárquico, não avançou. Pelo contrário, a realidade do não clérigo aprofundou a separação da prática dos primeiros seguidores do “caminho”.
O Vaticano II deu o golpe final na separação hierárquica do modelo romano, estabeleceu e melhorou o sonho de Tertuliano que a Congregação Redentorista está tematizando, em novo momento eclesial de missionaridade.

Oração
Jesus, aprofunda-nos nessa reflexão e resulta-nos estar numa igreja sem castas ou privilégios, um povo identificado com Jesus e sua prática, no seguimento cada vez mais fiel, e no anúncio da Boa Nova da Redenção do mundo.
Amém.

 

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