Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Sábado da segunda semana da quaresma.

A Igreja celebra no dia de hoje a solenidade de São José. Um homem impar na História da Salvação da humanidade. Um discreto cuidador e colaborador dos sonhos de Deus. Pouco se fala dele nos evangelhos e não há um registro sequer de uma fala sua. Há 152 anos (1870), durante o pontificado de Pio IX, São José era declarado o patrono da Igreja. Entretanto, coube ao Papa Pio XII, no ano de 1955, instituir a Festa de “São José Operário”, como padroeiro também dos trabalhadores e trabalhadoras. Festa esta que é comemorada sempre no dia 1º de maio desde 1890.

Depois do dilúvio da noite anterior, o dia de hoje amanheceu trazendo-nos uma brisa suave, com o sol despontando acordando o novo dia. Cada dia é único! Nunca mais o viveremos, razão pela qual devemos sempre agradecer a Deus por ele, como uma dádiva que nos é concedida pelo próprio Criador. O dia de ontem já se foi e não existe mais. O de amanhã está por vir. Resta-nos o presente para vivermos na intensidade maior de nossas vidas. Amanhã não seremos mais os mesmos. Em assim pensando, devemos trazer em nós a concepção que nos foi repassada pelo filósofo Heráclito de Éfeso: “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”. Segundo este filósofo, tudo flui e nada permanece. Estamos assim em permanente mutação a cada dia que vamos ganhando.

Um sábado para ser lembrando pela presença na Igreja de um grande homem. Um cuidador dos sonhos de Deus. Na sua simplicidade de ser, foi capaz de revolucionar a história da humanidade, colaborando diretamente com o Projeto de Deus. Deus mesmo que quis contar com a participação decisiva deste personagem, inaugurando na história humana um novo existir para os seus. José rompe com a estrutura machista patriarcal de seu tempo, e acolhe sua noiva, mesmo sem entender direito aquilo que estava se passando com ela. Um homem simples que conversava com os anjos, recebendo deles toda a orientação: “Não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo”. (Mt 1, 20)

José, um cuidador por excelência das coisas de Deus. Mantinha uma vida pacata de trabalhador em sua humilde carpintaria. Pertencia a classe social dos pobres trabalhadores de seu tempo. Formou com Maria, sua esposa, a Família de Nazaré, cuidando dos primeiros passos do Menino Jesus. Evitou que a sua amada Maria fosse criminalizada e possivelmente apedrejada em praça pública, dado o contexto de sua gravidez, conforme previa a Lei. Como na sociedade judaica, a mulher era apenas um mero objeto pertencente ao seu marido, ela devia ao esposo total lealdade. Todavia, por princípio, a mulher era considerada como naturalmente infiel, desvirtuada e falsa. Alem do mais, sua palavra diante de um juiz não tinha praticamente valor algum.

Está foi, portanto, a situação vivida pelo pobre José, diante da sociedade de seu tempo. Ele passa por cima de toda esta situação, e aceita Maria como sua companheira, coabitando com ela e a sua gravidez como obra de Deus. Constitui com ela um lar e aceita fazer parte da obra da criação de uma nova sociedade. Deus faz questão de contar com a participação de um casal de pobres da vilazinha de Nazaré, para fazer acontecer o seu grande sonho para a humanidade. José e Maria pertencentes à classe social dos empobrecidos. José que não é um homem qualquer, mas um descendente direto da linhagem de Davi e Abraão. Maria, a mulher escolhida por Deus para trazer em seu ventre acolhedor, a semente do Verbo, semeada em seu útero materno por obra e ação do Espírito Santo de Deus. Na família humilde de Nazaré, Jesus aprendeu a conhecer a sua classe social dos empobrecidos e a fazer com eles e por eles a instauração do Reino prometido.

José e Maria colaboradores diretos do projeto salvífico de Deis para a humanidade. A família de Nazaré como classe social dos pequenos do Reino. No seio desta humilde família, Jesus não é apenas filho da história dos homens. É o próprio Filho de Deus, o Deus que está conosco desde sempre. Na família de Nazaré, Ele inicia nova história, em que os homens serão salvos (Jesus = Deus salva) de tudo o que diminui ou destrói a vida e a liberdade em forma de pecado. Como bem cantamos aqui na prelazia de São Félix do Araguaia, uma das canções escritas pelo nosso bispo Pedro: “Tu que foste o chamado / para construir o Reino. Dá-nos força pra lutar / por um mundo mais fraterno”. Viva São José! Viva o companheiro operário de todas as horas do Reino!