Domingo da Solenidade de Cristo Rei.

Uma festa recente na História da Igreja. Até bem pouco tempo, a data original desta festa, era o último domingo de outubro, no domingo que antecedia a festa de Todos os Santos. Entretanto, com a Reforma de 1969, ela foi transferida para o último domingo do Ano Litúrgico.

Francisco (Chico) Machado. Escritor e Missionário.

Assim, fica claro que Jesus Cristo, o Rei, é a meta de toda a nossa caminhada de peregrinação terrena. A Igreja se preocupa para que nos três anos litúrgicos (A, B e C), os textos bíblicos mudem, para que possamos conhecer, mais a fundo a figura deste Jesus.

Importante que se saiba, que esta não é uma festa bíblica, uma vez que Jesus não aparece nos textos bíblicos como um Senhor Glorioso, prepotente e imponente sobre os povos. Pelo contrário, uma das vezes que a realeza de Jesus se manifesta é quando estão zombando dele. Quando o vestem de púrpura e o coroam com a coroa de espinhos. A outra vez que Jesus é reconhecido como rei é quando entra em Jerusalém montado num jumento. Naquele contexto, Ele é até aclamado pelos pobres como o filho de Davi! É importante entender este processo para que possamos superar a nossa ideia de Deus, como aquele carrasco, sempre pronto a nos castigar. Em Jesus, Deus se revela na amorosidade, ternura, misericórdia e compaixão para com os seus. Esta é a face principal de Deus que Jesus faz chegar até n[os.

A solenidade de Cristo Rei é uma celebração recente na história da Igreja. Foi no pontificado de Pio XI, que foi criada tal solenidade no ano de 1925. A intenção inicial, era a de que a Igreja percebia a necessidade de reafirmar a soberania real de Jesus e de seus ensinamentos, em um mundo que se afastava cada vez mais da proposta de Jesus. Desta forma, através de uma encíclica, que é uma comunicação escrita papal, um documento pontifício, Pio XI assim se expressava: “Visto que as festas têm maior eficácia do que qualquer documento do magistério eclesiástico, por captar a atenção de todos, não só uma vez, mas o ano inteiro, atingem não só o espírito, mas também os corações”. (Encíclica Quas primas, 11 de dezembro 1925).

Todavia, muitos mal-entendidos surgiram com esta tal realeza de Jesus. Nas hermenêuticas medievais que se faziam deste Jesus-rei, associavam-no aos reis de antigamente, com os seus poderes absolutos sobre os povos, contrariando assim a proposta originária de Jesus, como aquele que está a serviço de todos. De toda forma, a realeza de Jesus é outra, bem diferente da realeza presente nos reinados que se constituíram ao longo da história humana. A realeza de Jesus, sua divindade, se manifestou colocando-se a serviço da humanidade. Esse traço característico de serviço não encontramos com facilidade naqueles que se fazem poderosos. Contra estes, Jesus até nos alerta: “Vocês sabem: aqueles que se dizem governadores das nações têm poder sobre elas, e os seus dirigentes têm autoridade sobre elas. Mas, entre vocês não deverá ser assim: quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês”, (Mc 10,42-43)

O texto do Evangelho deste domingo é bastante elucidativo e paradigmático (Jo 18,33b-37). Finalmente, Jesus conclui sua chegada à Jerusalém e está frente a frente com o representante máximo do poderio romano local. O mais interessante a se observar é a fala daquela autoridade: “O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste? (Jo 10, 35). Ou seja, as próprias lideranças religiosas, manipulando o povo, entregaram Jesus nas mãos dos líderes políticos, para ser torturado e posteriormente assassinado, com requinte de crueldade. Um homem revestido de poder, confrontando a sua autoridade política, com aquilo que ouvira falar de Jesus. Sente-se ameaçado em seu trono por aquilo que Jesus anunciava e trazia em si: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18, 37)

Faz sentido celebrar a festa do reinado de Jesus a partir da perspectiva dos pequenos, não a partir da prepotência dos poderosos. Num mundo onde predomina a mentira (fake News), a astúcia e a malandragem dos expertos “homens do poder”, Jesus, ao contrário, é o Rei que dá a vida, revelando e trazendo às pessoas o conhecimento do Deus verdadeiro. Seu Reino é o Reino de paz e de justiça, Reino da verdade, onde a exploração dá lugar à partilha, e a opressão dá lugar à fraternidade. Um Reino de iguais. Sem acúmulo de bens e riquezas, por parte de alguns poucos, e a fome a miséria para a grande maioria dos filhos e filhas de Deus. Com esta festa, terminamos o Ano Litúrgico B. Já começamos, de maneira especial, nossa caminhada do Advento, rumo ao Natal. Que esta festa do Jesus peregrino, nos coloque no clima, sem nos esquecermos que Aquele Deus-Menino, frágil e dependente da mãe, que vai nascer é, na realidade, o Rei do Universo, da qual todas as coisas foram feitas e em quem todas elas foram renovadas pela sua Encarnação, Morte e Ressurreição. Com Ele somos fortes! Com Ele somos mais! Viva nosso Rei peregrino!

 

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