Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Quarta feira da Primeira Semana do Tempo Comum. Mais um dia se inicia no itinerário de nossas vidas. Mais uma vez somos chamados a reagir aos desafios que nos são postos. Não há como ser indiferentes diante deles. Viver é tomar atitudes, e estas devem estar em sintonia com os nossos valores e princípios que norteiam o nosso ser neste mundo. Ser indiferentes não combina com o ser cristão, que segue na mesma toada de Jesus de Nazaré.

Viver um dia de cada vez é a proposta para aqueles que fazem da sua vivência na fé, um instrumento de transformação. Viver dando de nós mesmos, o melhor que podemos ser. Importa que saibamos que não precisamos comparar-nos com quem quer que seja, mas com o melhor de nós mesmos, dado em serviço. Encerrar o dia com a certeza de que superamos o dia anterior na atitude de entrega total. Na gratuidade e na amorosidade de nossas relações, sejamos elos de construção do “Bem Viver”.

Chamados a servir. O serviço está na essência do ser cristão. Jesus, ao se encarnar na nossa realidade humana, não veio para desfrutar dos privilégios e benevolências de ser Ele o Filho único de Deus. Ao contrário, os Evangelhos nos dizem muito claramente: “o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir, e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos.” (Mt 20,28). Se Ele veio para servir, significa que todos aqueles e aquelas que o seguem, devem trilhar os mesmos caminhos. Servir sempre na procura do Reino.

Rezei nesta manhã buscando em meu histórico de vida as vezes que me acomodei e deixei de lado as atitudes de entrega e serviço, buscando os privilégios da acomodação da vida fácil. Certamente que alguns de nós se perderam neste caminho, deixando-se seduzir pelos encantos da indiferença ao caído a beira da estrada. Também a Madre Teresa de Calcutá passou por experiência semelhante. Conta-se que estava ela a caminho do aeroporto e, no meio do caminho, viu alguém caído necessitando de cuidados. Perdeu o vôo que a levaria à Roma, para uma audiência com o Papa João Paulo II, pois ficou ali cuidando de quem mais necessitava.

Jesus é aquele que serve. Veio para servir. Mesmo os seus seguidores mais próximos ficaram incomodados com esta sua atitude, pois queriam que Jesus desfrutasse mais de sua fama e popularidade diante dos feitos realizados. Outos buscavam privilégios e honrarias pelo fato de terem sido chamados por Ele. Entretanto, Jesus lhes mostra que a única coisa importante para o seu discipulado é seguir o exemplo dele: servir e não ser servido. Quem ama, serve. Quem serve, dá mostras de que muito ama.

Na nova sociedade projetada por Jesus, a autoridade não é exercício de poder, mas a qualificação para serviço que se exprime na entrega de si mesmo para o bem comum de todos, todas. É o que o texto do Evangelho de hoje acaba concluindo para nós, quando Jesus realiza a cura da sogra de Pedro: “Ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los”. (Mc 1, 31) Somos servidores do Reino. O ser servidor está na espinha dorsal do cristianismo. Os seguidores de Jesus estão programados para servir. O nosso Deus é o Senhor do serviço que se dá na gratuidade de quem muito ama. Amar é servir. Ser é servir. Servir é ser de Deus na amorosidade que somente Ele sabe ser.