E me bate à porta outra vez Marialva, aquela senhorinha De cabelos brancos, idosa, talvez. Há algum tempo aqui não vinha, Que antes o fazia de mês em mês.
Mora do outro lado da rodovia E vive só. O companheiro Joaquim, Levaram-no numa madrugada fria. Envolvido em confusões sem fim, Há tempos procurado pela polícia.
Mas chorou quando ele partia, E dele não teve mais notícia. A filha Dorinha, ainda criança, Fora dada em irregular adoção: Levou-a um casal de Minas Gerais.
Mas era da mãe a única esperança, E lhe doeu a alma e o coração. Marialva não a viu nunca mais. Agora, quando dá, cata latinhas Nas ruas, sacos e latas de lixo.
Vem ao meu bairro e ruas vizinhas, Mas a escolha não é mero capricho. É sugestão de outros mortais Que estão nos projetos sociais. Isso, triste, foi o que constatei. Assim Marialva, num lamento, Veio a pedir-me leite. Ponderei: – Está tão caro nesse momento, Parece que me esteja a faltar. Contudo, por favor, não se vá:
Porque eu lhe posso arrumar Algumas bolachinhas de sal. E mais, bolo caseiro de fubá, Biscoitos, um pouco de cural E algum chá, talvez uma maçã.
– Ah Doutor. Muito obrigada. O que me dás é fina iguaria: É o mais rico café da manhã.
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