Pisava forte, decidido, como se soubesse o destino de tudo e de todos. Aonde ia uma multidão o acompanhava para ouvi-lo falar. E que lindo que falava …

Parecia que o mundo parava para ouvi-lo! Sua voz era cheia de amor, de histórias, de exemplos. Contava parábolas… sempre tendo Deus e o homem como protagonistas.

O homem simples e humilde era o ator principal de suas histórias. E assim se sentiam todos que o ouviam. De tanto amor que emanava de sua fala, não raro se encontravam no meio das multidões, alguns pares de olhos marejados, lágrimas escorrendo até. Os mesmos olhos que chegaram cansados e ressecados pela vida dura, foram se abrindo e brilhando no decorrer das histórias que ele contava.

Ms. Dr. Sergio Alejandro Ribaric’, teólogo, palestrante e professor de Marialogia no ITESP e Faculdade São Bento.

Mas não era apenas um contador de histórias. Não! Era alguém que também sabia ouvir. Ouvia as pessoas que se achegavam para contar seus problemas, suas dúvidas, seus medos. E ele as ouvia cheio de paciência e carinho. Não raro orava com elas e lhes pousava as mãos abençoando-as. Por essas mãos podia-se sentir a ação de Deus por entre elas. A oração Nele tornava-se não mais um pedido ou uma conversa com Deus, mas um ato de amor!

A todos acolhia e lhes aconselhava que confiassem em Deus. Aos receosos de terem ofendido a Deus, temerosos por algum castigo ou exigindo sacríficos reparadores, ele os perdoava em nome de Deus. Esse Deus a quem ele, misteriosamente, chamava de “Pai.” Dava como exemplo a beleza do sol que ilumina, dá calor e faz as plantas crescerem. Deus faz nascer esse sol a todos, porque ama a todos por igual. “Tenham fé”, era comum ouvi-lo dizer a todos. Acreditem no amor de Deus que os criou. Lembrem-se que antes de criá-los Deus sonhou com cada um de vocês. Afinal, qual é o pai que ama seus filhos lhe dá pedaços de pedras para comer quando eles têm fome? Pois Deus lhes dará muito mais, mesmo antes que vocês o peçam.
Como não se apaixonar por um homem desses?
Calçado de sandálias de couro e um pequeno manto que sua mãe teceu, era tudo o que tinha. Percorreu a palestina calorenta e poeirenta várias vezes nos três anos que se soube dele. E em cada lugar que parava era o mesmo: longas filas de pessoas, campos e montanhas repletas de gente que se apinhavam para ouvi-lo. E o mais notável era que todos podiam ouvi-lo, mesmo a distância e mesmo em um local repleto de pessoas.

Todos o ouviam atentamente e cada um percebia que algo em sua voz era dedicado exclusivamente a ele. Às vezes, em algum exemplo que dava, a pessoa se “via” nele e o fazia pensar em sua própria vida. Outras entendiam a parábola como a história de sua própria vida.
Que coisa misteriosa tinha esse homem? Era tão igual a todos! Mas quando falava ou olhava para cada um, despertava uma ternura tão raramente percebida em outros. Como podia saber tanto de todos sem nunca os ter conhecido? Que é esse tal de “Amor” tão grande que fez Deus criar cada um de nós? Alguns chegavam a comentar as palavras do profeta Jeremias (1,5) “antes que Eu te formasse no ventre de tua mãe, Eu já te conhecia”.

Sempre acharam que esse texto era apenas uma frase poética ou figura de linguagem. Agora , vendo esse homem falar coisas íntimas de cada um de nós, perceberam que Deus já os conhecia a cada um! Ainda não sabiam o que era esse “Amor”. Mas já começavam a senti-lo!
Um certo dia, já tarde, terminando uma de suas falas, uma pessoa emocionada e grata pela sabedoria e ternura de suas palavras, não se conteve e no meio de todos gritou: “Bem aventurada aquela que te concebeu e os seios que te amamentaram!” (Lc 11,27). Para nós, homens do século XXI talvez isso não signifique mais que um elogio a sua mãe ou uma forma bonita de homenageá-la para agradecer por esse seu filho.
Mas para o hebreu daqueles tempos, essa frase significava mais que isso. Muito mais. A mulher era a pessoa mais importante da família e da tribo. E ainda o é no judaísmo. Eram as mulheres as responsáveis pela educação e criação dos filhos. O pai era mero provedor. Elas ficavam com os filhos 24 horas por dia. Eles aprendiam a comer, a andar, a higiene básica, às vezes a ler e a orar. A primeira vez que cada homem ouvia falar sobre Deus era através da boca da mãe. Em outras palavras: a “qualidade” do ser humano, dependia da mulher que o educava!
No grito incontido dessa pessoa, estava a gratidão e a certeza de que se esse homem era maravilhoso e cheio de amor e misericórdia, foi porque sua mãe assim o moldou! “benditos os peitos que te amamentaram”, que alimentaram tua sabedoria e que te fizeram crescer no amor e na bondade. Se você olha para todos com amor, foi porque você aprendeu esse olhar com Maria.
No mundo atual, tivemos de criar um “dia internacional da mulher”, para fazer com que a humanidade se volte para a mulher e lhe devolva a justiça e a grandeza que a história tantas vezes lhe negou. Mas justamente neste dia é bom relembrar da mãe desse homem bom. Ele, assim como cada um de nós, é o resultado de uma mulher. Não por ser gerado, mas por ser criado por uma mulher! Somos o fruto de suas carícias, de seu alimento, de seus afagos, sorrimos porque aprendemos a sorrir com elas. Perdoamos porque fomos perdoados pelo amor dela. Amamos a Deus acima de todas as coisas, porque ouvimos falar Dele por primeira vez , de seus lábios. Cada vez que, ajoelhados rezamos, nos lembramos das inúmeras vezes que a vimos ajoelhada falando com Deus. Pedimos a Deus pelos outros porque ao ouvi-la em suas orações ela sempre pedia por alguém. E não raro a ouvíamos pronunciar nosso nome. Não somos homens. Somos filhos de uma mulher!
Esse grande homem, bondoso e cheio de fé e ternura , um dia foi um pequeno  bebê recém-nascido. Igual a tantos, chorava porque conheceu um mundo diferente daquele que o formou: do calor e da proteção do útero, o mundo lhe parecia estranho. Hostil. Os braços daquele ser que ele reconhecia a voz lhe davam proteção e seu medo desaparecia. Quando sentia alguma dor, o calor do corpo dessa mulher num abraço, o reparava e lhe dava conforto novamente. Quando se sentia mal e a dor era fome, chorava e novamente aqueles braços o aconchegavam e lhe ofereciam o alimento. A dor ia sumindo aos poucos. O calor o confortava. A calma voltava, seus olhos iam se fechando e a dor se transformava em calmaria.
Aos poucos percebia que esses braços e essa pessoa que lhe dava momentos de segurança e calma, também se comunicava com ele: percebeu que a cada movimento seu , ela lhe respondia com um sorriso. Olhando para esse sorriso começava a noção de beleza. E percebia que poderia imitar esse gesto! Esse pequeno ser se percebeu pela primeira vez, alguém no mundo, capaz de imitar o belo. De se relacionar. Ele se percebeu como um “eu”, que se comunica e que é capaz de causar reações nos que o cercam. Aos poucos percebe que certos gestos fazem a mãe acariciar-lhe o rosto. O delicioso afago que lhe é agradável é a primeira sensação de amor que ele percebe. E lhe responde imitando o seu sorriso. No carinho, no afago, nas doces palavras da mãe, ele vai “experimentando” o significado de amor.
Foi isso o que a pessoa quis dizer aos gritos naquele final de tarde: você, JESUS, sois maravilhoso porque a tua mãe assim te fez! Você espalha tudo aquilo que recebeu e aprendeu de tua mãe!
O Deus que Jesus amou e chamou de Pai, o conheceu pela boca de uma mulher. Foi uma mulher que viu o primeiro sorriso de Deus. O primeiro sorriso de Jesus foi destinado a uma mulher. E certamente imitando-a. As mãos de uma mulher afagaram , pela primeira vez ,o filho de Deus.
“Benditos os peitos que te amamentaram e bendito o ventre que te gerou!” Você é grande e maravilhoso, meu Jesus, porque Deus quis que você experimentasse o amor de Deus nas mãos de uma mulher.
Hoje, dia internacional da mulher, me pergunto que mais grandioso pôde Deus ter dado a um ser humano do que a maternidade? Fomos moldados durante 9 meses, embaixo do coração de uma mulher e ouvimos suas batidas. Sentimos a sua respiração e aos poucos fomos reconhecendo a sua voz, suave e carinhosa. Algumas , até seguidas de um carinho sobre a barriga. E ao nascer , reconhecemos essa voz e isso fez diminuir nosso medo. Reconhecemos o carinho e vemos que saem de um par de mãos lindas e cheias de amor. Olhamos para um mundo grande e assustador e nos deparamos com um par de olhos marejados e emocionados apenas por…. perceberem que existimos para ela! Num olhar de mulher somos recebidos no mundo!
Minha mãe chamava-se Maria. Era a “minha” Maria. Balbuciei “Deus” para imitá-la; pegava no sono em seu colo tentado memorizar uma oração “ao anjo da guarda” que ela me ensinava. Aprendi o “Pai nosso” com ela. Me levou de sua mão à fila da comunhão , pela primeira vez. Mais tarde, muito mais tarde, fui eu que a levei pela mão na mesma fila da comunhão, para receber o mesmo Jesus. Afaguei seu rosto tantas vezes, imitando o mesmo que ela fez um dia em mim. Rezava algumas vezes ao seu lado como aprendi com ela. Ela rezava sempre por mim. Nos últimos tempos eu rezava por ela.
Hoje não é o dia da mulher. Hoje é dia da mãe, de Maria, do carinho recebido, do carinho dado. Hoje é o dia da felicidade, da glória de Deus. O dia em que Jesus começou a ser Deus entre nós!
Bendita para sempre sejam todas as mulheres, que sentiram a nossa vida desde o primeiro instante!