Terça feira da Décima Segunda Semana do Tempo Comum. Junho caminha apressadamente para o seu final. Vivemos os últimos dias de um mês que não voltará mais a fazer parte de nosso calendário, já que os dias são únicos e outros virão não da mesma forma. O dia vivido se foi. O que vem pela frente faz parte de outra configuração de realidade. Como diria o filósofo Heráclito de Éfeso, o “Pai da dialética”: “Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem!” A nossa tarefa, portanto, é viver na intensidade que a vida requer para cada dia. Viver em sintonia com os reais valores da vida. Vida é para ser vivida!

Neste dia 27 de junho a Igreja celebra a Festa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Uma devoção que vem de longa data. A imagem de Nossa Senhora nos advém de uma pintura bizantina do século XIII. Nela, Maria é representada segurando o pequeno Jesus em seu colo. No detalhe, a criança observa dois anjos que lhe mostram os elementos de sua Paixão. Os anjos seguram uma cruz, uma lança e uma vara com uma esponja. O menino se assusta, abraça a Mãe e uma sandália solta lhe dos pés. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é um título que os cristãos deram a Maria em referência à sua atenção constante e perpétua para com a humanidade toda. Perpétuo socorro quer dizer socorro eterno, socorro sempre. Sempre que precisar. Socorro de Mãe. A mãe nunca esquece ou abandona os filhos seus.

Na liturgia deste dia, damos continuidade à reflexão ainda dentro do contexto do “Sermão da Montanha”. Jesus que continua orientando, ensinando/instruindo os seus discípulos, preparando-os para a missão de apóstolos. Jesus que ensina os seus discípulos aquilo que os estudiosos chamam de “Didaqué”, que é uma palavra grega que significa “instrução” ou “doutrina”. Posteriormente, o Livro dos Atos dos Apóstolos relata como a “Instrução dos Doze Apóstolos”, que eles deram continuidade, através dos ensinamentos recebidos de Jesus: “Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações”. (At 2,42)

O conteúdo destes ensinamentos de Jesus faz referência a muitos textos do Antigo Testamento. O tom e os temas de muitas das suas exortações aos discípulos se assemelham ao conteúdo da literatura sapiencial, a experiência dos patriarcas e dos profetas do Antigo Testamento. A preocupação maior de Jesus é que os seus apóstolos vão enfrentar uma sociedade estruturalmente adversa e complexa e o seguidor d’Ele não poderá se confundir com o ambiente, e de não se deixar manipular por aproveitadores oportunistas disfarçados de profetas. Para darem cumprimento na missão, a força maior dos apóstolos está na presença do Espirito Santo sobre eles: “o Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os extremos da terra.” (At 1,8)

O maior ensinamento que Jesus hoje transmite aos seus discípulos é a chamada “Regra de Ouro”. Na realidade, esta expressão não aparece no texto bíblico de hoje, mas muitos dos exegetas dão esse nome a uma regra de conduta que Jesus ensinou: “Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a Lei e os Profetas”. (Mt 7,12; Lc 6,31) Ou seja, esta “Regra de Ouro” pode ser resumida com estas mesmas palavras: “tratem as outras pessoas da mesma maneira que gostariam de ser tratados por elas.” Não se trata de uma relação mercantil comercial do toma lá, dá cá, mas de fazer o bem aos outros sempre. Quando Jesus ensinou a “Regra de Ouro”, ele estava falando sobre como tratar todas as pessoas, até mesmo os inimigos. (Lu 6,27-31, 35) Assim, a “Regra de Ouro” incentiva-nos a fazer o bem a todos indistintamente e em todas as circunstâncias.

Esta regra não aparece pela primeira vez no texto do Evangelho de Mateus que estamos refletindo no dia de hoje. O filósofo e pensador Chinês Confúcio (551-489 a.C.) já havia escrito bem antes sobre esta mesma temática. Dizia ele: “O que não queiras que os outros façam a ti, não o faças aos outros”. Jesus tinha uma sintonia muito grande com os ensinamentos do Antigo Testamento. O que importa mesmo é que no tempo de Jesus, “Lei e Profetas” indicava todo o Antigo Testamento. Nesta perspectiva, portanto, a “Regra de Ouro” convida-nos a ter para com os outros a mesma preocupação que temos espontaneamente para com conosco mesmos. Não se trata de uma visão calculista sobre a vida e as relações através da expressão “dar para receber”, mas de uma compreensão do que seja o amor do Pai. O Pai é amoroso e quer que assim também o sejamos. O amor sabe tudo! Sabe dar mais do que receber. Sejamos como São Francisco de Assis: “Onde houver ódio, que eu leve o amor; Onde houver ofensa, que eu leve o perdão…”