Nelson Peixoto. Diretor de Liturgia da UNESER.

Após ter escutado o depoimento de um casal sobre a espiritualIdade do MMI (Movimento Matrimonial Internacional) fiquei bem consciente da diferença do MMA, sigla do inglês (Mixed Martial Arts), significando Artes Marciais Mistas como modalidade esportiva, que tem como objetivo fazer com que o praticante domine golpes de diferentes lutas ou contendas, com regras de controle de violência. Sei que essa analogia é grosseira, mas pode servir para prosseguir a reflexão.
Interessamos aqui, pensar sobre a intersacramentalidade do que tem em comum o Matrimônio e a Ordem sacerdotal.
O casal expressou o conceito do MMI , com maestria. Não contou a história do movimento, mas minha pesquisa trouxe a informação de que foi em 1982, que “nos EUA iniciou-se o Marriage Ministries lnternational, através do casal Mike e Marilyn Phillipps que, depois de se reconciliarem, conheceram o projeto de Deus para o casamento, baseado na Palavra. Nessa mesma época, uma palavra profética foi dada com respeito ao desejo de Deus de estabelecer, à volta do mundo, lares cristãos como centrais elétricas, baseados no senhorio do Senhor Jesus Cristo”.
Não tão longe assim, quanto a distância do início da Vida Religiosa que se estabeleceu na Igreja, servia para recuperar a vida comunitária do movimento de Jesus das origens. Creio que a vida comunitária surgiu como “sacramento” , contestando a oficialidade do Cristianismo das massas que, em muito, perdia o vigor do seguimento em pequenas comunidades, movidas pela memória de Jesus, morto e ressuscitado no meio de nós.
Voltando ao depoimento do casal amazônico, percebi algo que classifico como exagero de sacerdotalização da vida religiosa, com ênfase clerical em detrimento à vida comunitária em família.
Tenho lido acerca das precariedades da vida comunitária de algumas congregações que se instalararam em paróquias e se apresentam como fraternidade ou vida comunitária, e não vivem sendo família, mas parecendo ser , apenas com suas regras canônicas e seus Estatutos, sem incidir na identidade mais profunda da Igreja Povo de Deus.

Minha reflexão segue, advogando que a VIDA COMUNITÁRIA é SACRAMENTO, tanto quanto os sacramentos da Ordem e do Matrimônio, igualmente são.
Não podemos negar que o sacerdócio estabeleceu-se, ao longo do tempo, como algo tão mais sagrado do que o comum do mundo fiel leigo. As congregações de irmãos para o sacramento da vida fraterna perdeu para o sacerdócio concentrador dos ministérios, e por causa disso ficou clerical, em separado dos leigos.
Ainda lembro que, mesmo na Congregação Redentorista, os não-clérigos eram chamados de Irmãos Leigos por tratar e trabalhar em ofícios, digamos, mais profanos.
Usando a analogia do MMA, podemos dizer que, o “jogo” da fraternidade nas casas das congregações ou ordens religiosas, era bem regrado e controlado, ou muito livre e solto, parecendo um hotel, como os filhos em algumas famílias, mas, algumas vezes, em conflitos de intolerância ou luta silenciosa, devido ao carreirismo como partida que os não- clérigos sempre perdiam.
Hoje, a vida religiosa comunitária, redundantemente fraterna, inclusive, intercongregacional recupera-se.
Na Congregação Redentorista, entende-se e já se pratica a Missão Partilhada, de muitas formas, que o Espírito sopra e a coragem permite com transparência e diálogo.
Estamos em processo de recuperação da intersacramentalidade do Matrimônio e a Vida Comunitária, tanto nos institutos religiosos quanto nas paróquias, como rede de pequenas comunidades de fé e vida.