Não era o Rubens Alves, autor do livro.

Nelson Peixoto. Diretor de Liturgia da UNESER.

“Se eu pudesse viver minha vida novamente”, mas um novo amigo, pobre e resoluto a mudar de vida.
O Rubens Alves, no seu livro, viajava no tempo, lançava o olhar sobre os sonhos e descobria nos detalhes de sua vida uma alegria nostálgica indescritível.
O nosso Rubens, durante uma rápida caminhada comigo, revela-se por inteiro e pede orações para cumprir seu propósito inadiável.
Filho de enfermeira que aprendeu a cuidar e imprimiu na alma de filho a sentença amorosa de cuidar dela até o fim da vida.
Rubens trabalhava dia e noite, no hospital onde a mãe morreu, depois de longo calvário.
Após sua mãe ser hospitalizada, as irmãs não passavam as noites com ela, porque ele era o maqueiro de dia, em ambiente tenso, mas estava livre às noites, que passava confortando a mãe e apoiando os amigos de plantão.
Amizade que foi o elo de retorno para uma nova oportunidade de vida.
Contou-me que morava com a mãe, quando já idosa e aposentada, relatando para ele as alegrias de servir aos doentes, ajudando-os no milagre da cura.
Fortalecera sua mãe nos momentos tristes de perdas e saudades, pois ela trabalhara no antigo Hospital Escola Getúlio Vargas, em Manaus, onde viveu intensas experiências de dor com desconhecidos que assistia.
Mãe que viveu no tempo em que nem se pensava e nem se lutava em piso salarial da categoria, em épocas distantes, quando se considerava a “profissão”, quase como uma “doméstica dos leitos”, de pouca percepção do valor por alguns médicos, mas com afetiva relação com pacientes de longa permanência nas enfermarias.
Era uma bênção e um consolo compassivo ter uma enfermeira vocacionada para essa missão, à cabeceira de um leito de dor e solidão. Assim, intuí ser a mãe do Rubens.
Acho sensato dizer que, entre os anos de 1971 a 1976, conheci a Escola de Enfermagem e me impactou ouvir a expressão preconceituosa de que, no passado distante, a enfermagem fora considerada o “trabalho inferior”, que o médico não queria fazer.
Mas esse absurdo afirmativo posso contestar ao tomar conhecimento da história da Escola de Enfermagem de Manaus (EEM), que meu amigo Rubens me provocou a pesquisar.
Coincidentemente, durante o breve tempo de conversa com o Rubens, exatamente enquanto caminhava com ele em frente à Fundação Dr. Thomas, que leva o mesmo nome emblemático de devoção à saúde pública, fiquei sabendo que o terreno da EEM (Escola de Enfermagem de Manaus) fora adquirido no período áureo da borracha do Dr. Thomas, médico articulado com o Instituto de Medicina Tropical de Londres, para ser uma enfermaria do tratamento de cidadãos ingleses da Manaus Train (Companhia de Transporte), da Manaus Harbour (Companhia do Porto de Manaus) e de tantas outros simples trabalhadores, que, pobres, não tinham onde ser amparados. Foi nesse contexto que o Dr. Thomas iniciara a Casa de Amparo para mendigos e idosos (Atual Fundação Dr. Thomas com sua ILPI – Instituição de Longa Permanência para Idosos).
Nesse tempo, a pesquisa médica e o tratamento de doentes tinham algo de sublimidade humanitária.
Tenho certeza de que a mãe do Rubens fora uma profissional de muita bondade e compaixão no trato dos doentes. Assim me falava de sua mãe com devoção.
Este amigo maqueiro, de rosto fundo, tinha brilho nos olhos e esperança no coração.
Carregando uma mochila surrada, quando perguntado, contou-me do drama pessoal, falando de seu sofrimento, socorrido por seus amigos funcionários do Hospital 28 de Agosto, onde trabalhara como maqueiro e onde testemunhou muito sofrimento, na entrada da emergência.
Em um dia, não tão distante, sofrendo com a briga das irmãs para vender a casa da mãe, que morava com ele, somou motivos e entrou em crise. Depois de longa temporada de alcoolismo e abandono, chegou cambaleando às portas do hospital, onde trabalhara com dedicação e calorosa amizade com os colegas. Estes nunca esqueceram do Rubens e nem de sua saudosa mãe. Naquele dia, quase morrendo, foi acolhido como filho que voltava para casa e, imediatamente, internado para desintoxicar-se do álcool, restabelecer a saúde e as forças, permanecendo ali uns 20 dias.
Quando o encontrei, na manhã de um domingo, ia juntar-se com aqueles amigos para comer e não mais se sentir abandonado. Era o sonho da fraternidade se realizando com aqueles que tem Deus como Pai e o “Pão Nosso de cada dia” para viver e reviver Acontecia a irmandade sem fome, o reencontro abastecedor da afeição e a maravilha da compaixão, sem desculpas ou acusacões. Foi assim entre humildes servidores do hospital o anúncio vivo do Reinado de Deus.
Entre sirenes e luzes, o Rubens voltava no tempo que socorria e corria com as macas para salvar os machucados que davam entrada no hospital.
Desta vez, agradecia aos amigos de sua mãe e seus, que não o deixaram morrer.
Resoluto e firme, despedimo-nos porque se direcionava para o caminho de sua vitória que Deus o conduzira nos ombros, como filho amado.
Lucas 15, 24.
“Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado’. E começaram a festejar o seu regresso.”