Segunda feira da terceira semana do Advento.

Uma segunda preguiçosa se apresenta a nossa frente. Início de uma nova jornada, em que os nossos corpos descansados pelo final de semana, insistem em querer permanecer na calmaria do descanso semanal. É preciso um pouco mais de vontade para injetar ânimo às nossas ações, afinal “a vida não pára, não pára não!”, já nos dizia Lenine em uma de suas belas canções.

Francisco (Chico) Machado. Escritor e missionário.

De cabeça erguida, somos desafiados a dar continuidade às nossas ações rumo à dinamicidade da vida. https://www.youtube.com/watch?v=SWm1uvCRfvA.

No dia 13 de dezembro, a Igreja celebra a Festa de Santa Luzia. Luzia, cujo nome em latim quer dizer “aquela que possui a luz”, foi uma mulher que pertenceu a nobreza italiana do século III. Rompeu com a classe a que pertencia para se entregar nas mãos de Deus, fazendo de si uma das discípulas do Mestre Galileu. Contam os relatos históricos da época que, por causa de sua radicalidade no serviço ao Reino, antes de morrer, seus algozes teriam arrancado-lhe os olhos. Verdade ou não, ela se tornou a santa protetora dos nossos olhos. Morreu como a maioria dos primeiros cristãos seguidores de Jesus, ao ser decapitada no dia 13 dezembro de 304.

Muitas comunidades de santa Luzia estão espalhadas por este mundo afora. Recordo-me que a primeira comunidade que celebrei, assim que cheguei à Prelazia de São Félix, foi exatamente na Comunidade de Santa Luzia. Foi indo em direção a esta comunidade que estreei o “kit sobrevivência”, que me fora dado por Pedro (uma bicicleta, uma rede e uma lanterna). Foram muitas pedaladas para chegar àquela comunidade que ficava no meio da mata. As pessoas vinham chegando dos mais variados lugares daquela floresta. Uma “desobriga” completa: batizamos, casamos e nos alimentamos com o pão eucarístico. Depois da merecida noite bem dormida na rede, parti para mais outra comunidade feliz da vida.

https://www.youtube.com/watch?v=SWm1uvCRfvA.

Uma semana que iniciamos, trazendo ainda em nosso intimo as indagações feitas pelos discípulos de João Batista do contexto do Evangelho de ontem: O que devemos fazer? (Lc 3,10). João, com toda à sua radicalidade na vivência da proposta de Deus, convida também os seus a promoverem em si uma mudança radical de vida, para que, desta forma, possam transformar as relações entre as pessoas. A Nova História inaugurada por Deus, a partir da vinda de Jesus, exige novas e exigentes posturas concretas daqueles que abraçaram as mesmas causas de Jesus. Viver perigosamente no seguimento d’Ele.

O que devemos fazer? Esta é uma das perguntas mais difíceis de serem respondidas por cada um de nós, no cotidiano de nossas vidas. E aqui não se trata apenas do fazer por fazer, mas do como e quando devemos fazer. Somente aqueles e aquelas que se envolvem diretamente com a mesma “pedagogia de Jesus”, são capazes de encontrar respostas adequadas a tais perguntas. Sim, porque Jesus, antes de mandar quem quer que fosse fazer, Ele ia à frente fazendo: “Voltem, e contem a João o que vocês viram e ouviram: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e a Boa Notícia é anunciada aos pobres. (Mt 7,22) O messianismo não é uma simples ideia ou teoria. É uma atividade concreta que realiza o que se espera da era messiânica: a libertação dos pobres e oprimidos.

Jesus Fazia e acontecia! Não somente ensinava e anunciava a Palavra, mas tinha um compromisso de devolver a dignidade dos pobres, fazendo-os retornar à vida. Ele tinha a autoridade para fazer acontecer o Projeto de Deus na vida dos pequenos. Autoridade esta que é questionada pela elite dos poderosos de seu tempo. Ainda mais estando Ele no Templo. Ao invés de se aliarem à Jesus, os sacerdotes e anciãos do povo querem saber com que “autoridade” Jesus realizava aquelas coisas. Para eles pouco importava que Jesus estivesse fazendo o bem aos pequenos e sofredores. O problema maior é que, alem de fazer acontecer a vida para os pequenos, Jesus de Nazaré, questionava aquele arcabouço opressor que havia se instalado por dentro das estruturas do Templo.

O nosso fazer pressupõe antes o enxergar bem a realidade. Bem fazem os povos indígenas que tem nos olhos a porta de entrada do coração. Se os místicos dizem que os nossos olhos são a porta da nossa alma, os povos originários são como o povo semita que tem os olhos para enxergar e entender as coisas a partir do coração. Para eles, o conhecimento não passa pelo crivo da racionalidade da mente humana, mas pelas raias do coração. Melhor assim, pois desta forma, o nosso fazer vem consignado pelo sentimento que pulsa nas batidas do coração. Assim, somos interpelados a fazer como estes povos, direcionando o nosso fazer por aquilo que vai dentro do nosso coração. Lembrando que é também no nosso coração que fazemos ou não a morada de Deus em nós. Da mesma forma que Jesus trazia em si a autoridade advinda do próprio Deus em pessoa, também nós podemos experimentar o mesmo se fizermos a adesão firme ao seu Reino, que já está entre nós.