Terça feira da 1ª semana do Advento.

A Igreja Católica celebra no dia de hoje a Festa de Santo André. André fez parte do discipulado de Jesus, sendo o primeiro a ser chamado pelo Mestre (protocleto), para fazer parte dos seguidores d’Ele.

Francisco (Chico) Machado. Escritor e Missionário.

O dia 30 de novembro sempre me traz a lembrança das festas que aconteciam no ABC paulista. Tempos bons! Estava eu Cursando a teologia, e morava num barraco na favela do Jardim Oratório, em Mauá. Dom Cláudio Hummes era o nosso bispo, de quem muito aprendemos na luta pela defesa dos direitos dos trabalhadores. Foi ele também que me ordenou diácono (1989).

Estamos iniciando o ano litúrgico C. O Advento abre-nos as portas para uma nova etapa de nossas vidas sob a perspectiva cristã. Com ele nos preparamos para inaugurar uma nova etapa em nossas vidas. Oportunidade extraordinária para rever a nossa caminhada e assumir novos compromissos na defesa da vida para todos e todas. O Deus que é vida vem nos trazer a vida e quer que sejamos vida em todas as circunstâncias. Num clima marcado pela morte e pelos que a arquitetam, mais do que nunca somos desafiados a sermos os defensores intransigentes da vida.

Ser vida na vida! Ser vida pela vida! Ser vida como dom maior! Deus se faz vida na nossa vida com a chegada de uma criança indefesa, nascida numa situação adversa. É Deus mesmo que se faz presente em nossas vidas, em nossa história. Um presente especial de um Deus que se encarna na realidade humana, se fazendo presente em nós. Deus conosco. Deus como um de nós. Se Ele se dá como presente, desafia-nos a sermos presentes na vida das demais pessoas. Talvez aqui devêssemos encarnar em nós a ideia de um dos provérbios orientais: “O melhor presente que alguém pode dar a outrem, é a si mesmo como presente”. Difícil, mas possível se estivermos com Ele.

Deus que vem estar com os seus. Isto requer uma profunda reflexão de como isto pode acontecer. O Advento quer ser este tempo especial de preparação. Mais de preparação do que de expectativa, de espera passiva. Não basta acreditar que no Natal Deus faz acontecer o nascimento de uma criança. Permanentemente somos conclamados a renovar-nos para acolher a proposta que Deus nos traz. Há muitos de nós que ficam esperando por esta nova vinda de Jesus e perdem a grande chance de conviver com este Jesus que passa pelas nossas vidas a cada momento: Jesus desempregado; Jesus em situação de rua; Jesus passando fome; Jesus indígena perdendo as suas terras; Jesus negro vítima do racismo; Jesus mulher sofrendo maus tratos, estupros e feminicídio. Afinal, Ele mesmo nos assegurou: “Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram.” (Mt 25,40)

Assim como André, somos também chamados e desafiados a fazer parte do discipulado de Jesus. Cada um e cada uma de nós recebemos um tipo de chamado. Nenhum de nós está fora desta lógica pensada por Deus. Mesmo sendo o Filho de Deus, Jesus quis e quer contar com pessoas iguais a mim e a você, para dar continuidade às ações de d’Ele como missão neste mundo. Com todas as suas limitações, André aceita o chamado e se coloca imediatamente à disposição. Mediante o chamado que nos é colocado, precisamos fazer o discernimento de como faremos para melhor desempenhar as nossas ações no seguimento de Jesus. E aqui não se trata de “imitar” Jesus, como muitos assim ainda pensam. Também não basta ter fé em, Jesus. É preciso antes, ter a mesma fé de Jesus para realizar as nossas ações mediante os desafios que nos são colocados no cotidiano de nossas vidas. Seria o mesmo que nos perguntarmos: o que Jesus faria, estando Ele no nosso lugar? Que respostas Ele daria? Como Ele agiria? Que atitudes tomaria?

Chamado é coisa séria! Exige respostas, renúncias, atitudes, decisões e adesões. Neste caso não há como ser um cristão, e uma cristã “meia boca”, mais ou menos. A resposta é individualizada. Cada um de nós terá que dar a sua. A resposta do outro não substituirá a minha resposta. E Deus pensa em tudo. Talvez por este motivo que Ele nos fez cada qual com as especificidades com os dons. Dons a serem colocados à serviço do Reino e não para ser enterrado. Como resposta, sirva-nos de inspiração aquilo que fora dito pelo apóstolo Paulo: “Não se amoldem às estruturas deste mundo, mas transformem-se pela renovação da mente, a fim de distinguir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que é agradável a ele, o que é perfeito. (Rom 12, 2) Ou seja, não aceitar as estruturas corrompidas pela injustiça mas, através do discernimento, saber distinguir a vontade de Deus que leva à justiça e à vida.

 

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