Terça feira da trigésima quarta semana do Tempo Comum.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

E assim vamos nós rumo às nossas realizações, dando um passo de cada vez. Cada passo dado é uma distância percorrida rumo às utopias que vislumbramos. Os tempos são difíceis, mas a resistência e a persistência são as marcas indeléveis do nosso ser cristão, no passo a passo com Jesus. O Deus da vida é conosco e caminha lado a lado, na pessoa do Filho que se fez um de nós. Como na canção cantada por Caetano e Gil: “É preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a morte”.

Morte que nos pegou a todos de surpresa nesta segunda feira (21). O padre José Aparecido Bilha, de 63 anos, foi encontrado morto dentro da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Guaíra, no oeste do Paraná. Esta informação foi confirmada pela Diocese de Toledo, através de uma nota. Num primeiro momento, apontaram como suicídio. Todavia, pessoas mais próximas do presbítero e que o conheciam, dificilmente acreditam nesta hipótese. Ele que vinha sofrendo ameaças pelo fato de se posicionar favoravelmente à candidatura de Luis Inácio Lula da Silva. Há que se averiguar, pois nestes tempos sombrios, tudo é possível.

O meu dia começou em tom de cinza. Nas primeiras horas dele, estava eu na companhia de Pedro, rezando o “Ofício Divino das Comunidades”, que o nosso profeta sempre o tinha em mãos. Fui buscar refúgio e proteção, invocando-o que interceda por todos nós viventes destas terras. Tão logo o sol se fez presente, já nos primeiros raios, espantou o cinza nostálgico e implantou o dourado característico, sobre as águas apressadas do Araguaia. Tempo suficiente para refletir o salmo primeiro que assim nos introduz: “Feliz o homem que não vai ao conselho dos injustos, não pára no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores. Pelo contrário: seu prazer está na lei do Senhor, e medita sua lei, dia e noite”. (Sl 1, 1-2)

“Tempora mutantur”. Este em um dos ditados latinos que se refere às mudanças provocadas com a passagem do tempo. Se bem traduzido, quer dizer que “os tempos mudam e nós também vamos mudando com eles”. Nenhum de nós escapa desta mutação. Vamos ficando mais experientes, com mais sabedoria e também mais calejados pela ação do tempo. Alguns aproveitam para alcançar a serenidade e a paz de espírito, encontrando o essencial para viver e serem felizes; outros se tornam impermeáveis à sabedoria que a vida lhes traz, tornando-se ranzinzas e não perdoam nem a si mesmas. Que saibamos aprender com o filósofo Frances Pascal (1623-1662): “Uma vez que não podemos ser universais e saber tudo quanto se pode saber acerca de tudo, é preciso saber-se um pouco de tudo, pois é muito melhor saber-se alguma coisa de tudo do que saber-se tudo apenas de uma coisa”.

O tempo é uma grande incógnita em nossa vida. Evidentemente que estou falando do tempo cronológico. Acima deste “Cronos”, está o tempo de Deus “Kairós”. Um é importante, mas o outro é fundamental, para nos encontrarmos enquanto seres criados para a realização plena. É exatamente este tempo de Deus que a liturgia desta terça feira nos oportuniza refletir. Jesus está falando de algo, mas os seus estão entendendo sob outra perspectiva. “Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer?” (Lc 21, 7) O evangelista nos traz a narrativa dos “final dos tempos” com Jesus anunciando a destruição do templo de Jerusalém. É sempre bom lembrar que este evangelho foi escrito aproximadamente entre os anos 59 e 63 d.C., e o templo já havia sido destruído pelo poderio romano nos anos 70. Desta forma, as fontes utilizadas por Lucas eram as testemunhas oculares: “segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio, e foram ministros da palavra”. (Lc 1,2)

A intenção de Jesus não era a de espalhar o terror. Ele não estava querendo assustar os seus com uma fala catastrófica. A intenção era prepará-los para os tempos vindouros. Ao anunciar o fim da instituição templo, que era o símbolo da relação de Deus com o povo escolhido, não significava o fim do mundo e nem o fim da relação entre Deus e as pessoas. Apesar da angústia de todos nós, de querer dominar a vida, que nos escapa numa série de tempos diferentes, somente Deus tem a visão do conjunto da vida. Só Ele conhece todos os momentos. O homem anseia pela plenitude e deseja realizá-la. Isso, porém, fica limitado aos momentos que são todos incertos. Cabe-nos então aceitar o momento presente (Kairós) como Dom de Deus, e ter discernimento para fazer a coisa certa no momento certo. Não deixemos nos enganar: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu! E ainda: O tempo está próximo. Não sigais essa gente! (Lc 21, 8) Fujamos destes.