Nelson Peixoto. Missionário e Diretor de Liturgia da UNESER.

Era o Dia dos Magos do Oriente.

Lá, de onde nasce o sol e a terra vai ficando Iluminada, e que gente perdida caminhava em caravana. De dia, o sol era tão forte e quente que precisavam da noite para sonhar, olhando as estrelas, talvez a constelação de Órion, salpicada de luzes piscantes.
Um estrela nova e nascente indicava por observação intuitiva que, do lado que o sol morria, uma ESTRELA BRILHANTE nascia para nunca mais deixar de brilhar no rosto da humanidade. Nascia Jesus como o Sol da Justiça aos pastores trabalhadores do campo, aos enjeitados, por não serem judeus, aos excluídos como os magos, vistos como “feiticeiros” que estudavam as luzes das estrelas e faziam previsões.
É claro que a narrativa de Mateus tem mais teologia sendo ensinada às primeiras comunidades dos seguidores de Jesus do que o fato histórico em si.

Nesse contexto de sonho e imaginação, a fé em um Deus que se busca sempre, tornava o ser humano mais feliz, encantava os olhos para ver a beleza da Criação e dava asas à imaginação.
Assim acontecia com o clima criado para uma escuta do amigo, que não tinha provado do álcool ainda, mas que juntava histórias do “ouvir dizer” e de leituras que fizera nas “bíblias grandes”, como me contestava quando, entre um suspiro e outro, eu fazia, cuidadosamente, uns remendos na versão bíblica de fatos, para mim inéditos e até estranhos, acerca da Mãe de Jesus e de como acontecera o parto.
Nesse ponto da narrativa que considerei apócrifa ou velada, era completamente, desconhecida e inimaginável. Vejam só!
Vou contar o que ouvi. Veio-me, entretanto, o realismo da mensagem da fé do povo da Bíblia que contava e recontava histórias das experiências reveladoras de Deus, na linguagem da natureza e das famílias ancestrais. Histórias que passavam de pai para filhos geração após geração, cheia de acréscimos e remendos.
Pensei que, até certo ponto, assim fora escrita a Bíblia, em camadas e mais camadas de versões, revisões e invenções de conteúdo para falar de Deus e da experiência com Ele, de forma poética e até apocalíptica, entre outras.. Entretanto, foi preciso da parte da Igreja fazer uma seleção e aprovar as mais consistentes e conciliáveis versões para declarar como Palavra inspirada por Deus.

Então, segundo meu amigo, o animalzinho que se chama mucura e a ciência chama de “Didelphis albiventris”, era uma companhia da família de Nazaré, nos primeiros dias, depois do parto de MARIA.

Ouvi seu relato e concluí que para ele, era uma versão para reforçar a vida da Imaculada Conceição de Jesus por obra do Espírito Santo. Era tão pura a Santa Maria que o parto para Jesus vir ao mundo, aconteceu a partir do umbigo como que uma cirurgia cesariana feita pelos anjos.
E lá, durante e depois do parto, estava a mucura. O animalzinho levantou as patinhas, dizendo que ia buscar uma galinha para Maria tomar uma canja. E
assim aconteceu. Durante o resguardo de Maria, o serviço da mucura foi fiel e saudável para garantir amamentação de Jesus por Maria.
Nesse caso, São José tinha um pet em casa que cuidava com ele da família. Com certeza, a vizinhança itinerante dos pastores passavam noites de chuva formando uma pequena comunidade. Como São José era cozinheiro, colocava um pouco mais de àgua na canja e servia aos visitantes.

Como conclusão do relato, meu amigo contou que as mucuras ganharam um presente. Elas, assim como os cangurus, ganharam o direito de carregar os filhotes junto ao corpo e sentir as batidas do coração dos pequenos, juntos e guardados no peito.
A gratidão de Maria foi expressa do jeito que Jesus ensinou quando nos tornamos amigos uns dos outros.
O Milton Nascimento cantou”
“Amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção…”