27º Domingo do Tempo Comum. O Ano Litúrgico C se concretizando. Com mais sete outros Domingos Comuns, e este período litúrgico, que iniciou no dia 13 de janeiro, com a proclamação de Jesus como o Messias e o início do seu ministério, terá o seu encerramento no domingo do dia 23 de novembro, com a Solenidade de Cristo Rei do Universo. Até lá faremos ainda a nossa trajetória, aprofundando a caminhada de fé, vivendo a espiritualidade da vida de Jesus no cotidiano, através dos seus ensinamentos e da celebração de sua presença ao longo do ano, reforçando a esperança da chegada do Reino de Deus.

5 de outubro. Uma data importante dentro do nosso calendário civil. No dia 5 de outubro, foi promulgada a Constituição Federal de 1988. Não se trata apenas de mais uma Constituição do período republicano, das 5 outras que tivemos (1891, 1934, 1937, 1946, 1967) A Constituição de 1988, conhecida como a “Constituição Cidadã”, simboliza o processo de redemocratização do país após 21 anos de um sangrento regime militar, restabelecendo direitos e garantias fundamentais à população brasileira. Sobre esta “Carta Magna”, assim se referiu o saudoso Ulisses Guimarães, na Assembleia Nacional Constituinte: “A Nação nos mandou executar um serviço. Nós o fizemos com amor, aplicação e sem medo. A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca!”

Um domingo em que o Evangelho do dia nos provoca a refletir sobre a dimensão fundamental do poder da nossa fé. Jesus, enquanto caminha com os seus discípulos para Jerusalém, desafia-os a segui-lo sem hesitações, confiando n’Ele e na sua proposta. Uma aposta arriscada, que exige entrega total, mas, se eles forem capazes de abraçá-la, farão coisas inacreditáveis, que mudarão a rotina e a forma das pessoas pensarem acerca do projeto do Reino, sendo construído na história. Entretanto, para o cumprimento desta missão, os discípulos precisam revestir-se de humildade, como a do “servo inútil” que apenas faz aquilo que devia fazer: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”. (Lc 17, 10). Nada de arrogância, prepotência e autossuficiência.

Jesus segue ensinando os seus discípulos a caminho de Jerusalém. Ele sabe que no horizonte próximo, está a sua condenação pelas autoridades religiosas judaicas, a sua morte na cruz e a sua ressurreição. Entretanto, Ele prepara os seus discípulos para a missão que terão pela frente. Humildade, simplicidade, entrega, doação e serviço, são as palavras-chaves para aqueles que se colocam na mesma estrada de/com Jesus. Tudo isto feito na gratuidade, já que tudo recebemos gratuitamente de Deus: “De graça recebestes, de graça deveis dar!” (Mt 19, 8) A missão, portanto, se desenvolve em clima de gratuidade, pobreza e confiança, e comunica o bem fundamental da paz, isto é, da plena realização de todas as dimensões da vida humana.

Para cumprir esta missão, será necessário que a fé do discipulado seja consistente e verdadeira. A fé possui uma dimensão de poder que transforma a vida das pessoas. Nunca devemos duvidar do poder da nossa fé, se, de fato, tivermos a certeza de que ela está viva dentro de nós, habitando o mais intimo do nosso ser. São Francisco de Assis, que celebramos a sua memória no dia de ontem, rezava assim: “Senhor, ajudai-me a viver este dia, com calma e facilidade. Para apoiar-me em Tua grande força, com confiança, descanso. Para esperar a concretização de Tua vontade, com paciência, serenidade. Para encontrar outros, pacificamente, alegremente. Para enfrentar o amanhã, com confiança e coragem”.

“Aumenta a nossa fé!” Assim pediam os discípulos a Jesus. Certamente eles ficavam inconformados ao verem o seu Mestre de forma resoluta, fazendo o enfrentamento diante das autoridades religiosas, numa demonstração de fé e confiança total no plano que o Pai o designou. Nós também temos os nossos momentos de fraqueza na fé. Nem sempre agimos com a convicção de que está fé tem o poder da transformação. Não acreditamos em nós mesmos e nem nos outros, de que juntos somos capazes de mover as transformações que Deus quer ver acontecer com o seu plano de amor para todos nós. A grande amiga de São Francisco de Assis, Santa Clara, tem uma frase lapidar que ilustra bem este plano de amor de Deus: “Nós nos tornamos o que amamos e quem amamos molda o que nos tornamos”. Estar desinteressadamente a serviço de Deus, nos faz seguidores do Mestre Jesus de Nazaré e, com a nossa fé, fazendo e acontecendo o Reino de Deus no aqui e agora, sempre conscientes dos nossos limites e fragilidades.