Quinta feira da quarta semana do período pascal.
Tempo este que nos preparamos para o grande dia de Pentecostes. 24 dias nos separam do importante acontecimento que foi a descida do Espírito de Deus sobre os primeiros 120 seguidores de Jesus, conforme nos relata o Livro dos Atos dos Apóstolos: “Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um baru

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

lho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam. Apareceram então umas como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem”. (At 2, 1-4)

Somos a Igreja do caminho. Aliás, este foi um dos primeiros codinomes dados aos seguidores de Jesus. Eles e elas faziam parte da “Igreja do Caminho”. Por este motivo, somos descendentes daqueles e daquelas que trilharam o caminho com Jesus. Portanto, a vida cristã se faz na dinamicidade que o caminhar provoca. Não somos seres estáticos, que aguardam a manifestação de um Deus que tudo faz, sem a nossa participação. Quando escolhemos caminhar com Jesus, fazemos a opção de sermos testemunhas do Ressuscitado e construtores do Reino. Como bem resumiu Dom Hélder Câmara: “O cristão é lúcido. O cristão não foge, nem desespera. O cristão insiste na luta pela verdade. O cristão não tolera a injustiça. O cristão sabe que a única coisa que vai sobrar de tudo isto é a caridade, é o amor!”

Poeta, profeta, homem de Deus e do povo, Dom Hélder Câmara (1909-1999), soube encarnar em si um jeito “jesuânico” peculiar de caminhar com o Mestre de Nazaré. Simplicidade, pobreza e radicalidade, eram os seus traços mais característicos. Um homem frágil e de baixa estatura, mas com uma tenacidade na voz que ecoava do Nordeste, no enfrentamento do regime militar que fora implantado no Brasil a partir de 1964. Era o grande defensor dos direitos humanos no Brasil. Vivia uma Igreja voltada para os pobres e a não-violência, como ele gostava de dizer. Foi graças ao bispo de Olinda e Recife que, em 1952, com a ajuda daquele que se tornaria Papa Paulo VI, monsenhor Giovanni Montini, ajudou a criar a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que promoveria as grandes diretrizes na orientação da Igreja Católica no País.

À exemplo do bispo dos pobres, grande defensor da democracia, seguimos nos preparando para assumir o compromisso com Jesus, realizando a nossa missão neste mundo. Cada um de nós traz em seu interior, o chamado para fazer parte do discipulado de Jesus. Todos temos a nossa missão a desenvolver. Mais do que “imitadores de Jesus”, somos seus seguidores, dando respostas aos desafios que nos são colocados no cotidiano da nossa existência. Somos filhos e filhas da resistência, do inconformismo e, devemos fazer do amor a nossa bandeira de luta por uma sociedade mais justa e fraterna. Somos servos solidários das causas dos pequenos e marginalizados. Essa é a “Missão de todos nós”, como canta o trovador cearense Zé Vicente: https://www.youtube.com/watch?v=gWj-XoDuuGc

Servidores como foi Jesus que na liturgia de hoje nos ensina como devemos ser: “O servo não está acima do seu senhor e o mensageiro não é maior que aquele que o enviou. Se sabeis isto, e o puserdes em prática, sereis felizes”. (Jo 13, 16-17) Serviço que se faz com a vida e não apenas por meio das palavras. Depois de descer ao nível do rodapé da vida dos pobres, Jesus faz aquilo que todos que o desejarmos segui-lo devemos fazer; “Lavar os pés dos discípulos”. Lavar os pés que se torna um gesto concreto, uma atitude de quem que se coloca a serviço e está disposto a ser servidor das causas dos empobrecidos.

“Quem recebe aquele que eu enviar, recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou”. (Jo 13,20) Somos chamados e enviados. Nossa missão é levar adiante a Boa Nova do Reino. Jesus dá o primeiro passo e segue na frente fazendo aquilo que devemos também fazer. O gesto de lavar os pés indica o serviço prestado gratuitamente e por amor. Ele ensina com autoridade. Seu ensinamento só pode ser entendido como função de serviço aos outros. Entre nós pode até haver diferenças de funções, mas todas elas devem concorrer para que o amor entre nós seja eficaz. Já não se justifica nenhum tipo de superioridade dentre aqueles que amam, mas somente a relação pessoal de irmãos e amigos. Quem ama sabe se dar por inteiro, mesmo com todas as limitações possíveis. Quem ama, faz do outro uma parte de si. O outro faz parte do meu eu, como nos dizia Santo Agostinho: “Necessitamos uns dos outros para sermos nós mesmos”.