Terça feira da Décima Quarta Semana do Tempo Comum. No dia de hoje a Igreja abre um parêntese para celebrar a Festa de São Bento. São Bento de Núrcia que nasceu na Itália no ano de 480. Ele que é considerado como o “Pai do Monaquismo”, pois foi ele o fundador do maior centro da vida beneditina de todos os tempos, o Mosteiro de Monte Cassino, berço da Ordem dos Beneditinos. Ao todo, foram mais de 12 mosteiros fundados por ele ao longo da história.

“Ora et labora et legere”, esta é a máxima da vida beneditina, sugerida por São Bento para vida no mosteiro. O ritmo de vida do monge no mosteiro deve ser regido por esta lógica, estabelecendo o justo equilíbrio entre os momentos de trabalho (corpo), com a leitura (alma) e a oração (espírito). Nada de ociosidade, como dizia Sêneca: “O trabalho espanta os vícios que derivam do ócio “.

“Ora et labora”. Esta era a prática de Jesus com o desenvolvimento de seu projeto ministerial messiânico. Segundo o evangelista Mateus, “Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.” (MT 4,23) Ou seja, a atividade de Jesus consistia na palavra (ensinar, pregar) e na ação (curar). Atividade esta dirigida aos mais pobres, necessitados e marginalizados. Uma sintonia com a realidade de sofrimento do povo, que era abandonado pelas autoridades políticas e religiosas.

O texto proposto pela liturgia desta terça para a nossa reflexão vem reforçar a ideia de Jesus que encarnou em si o “Bom Pastor”: “Eu sou o bom pastor, conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem”. (Jo 10,14) Uma interação de sinergia entre os anseios de Deus e a necessidade de que a vida seja preservada em todos os sentidos. A vida é o dom maior concedido por Deus às suas criaturas. Dádiva gratuita e incondicional de Deus.

No Tempo de Jesus, os pobres eram massacrados pela intuição religiosa e os poderes do Estado. As doenças não eram interpretadas como consequências das precárias condições de vida oferecidas pelos poderes públicos, mas como uma maldição (castigo) de Deus. O “possuído pelo demônio”, trazido até Jesus do texto de hoje é um exemplo clássico deste tipo de concepção vigente da época.

Jesus, não somente o cura daquela “maldição”, como também o desperta para uma nova compreensão de sua importância diante da sociedade (Reino) querida por Deus para os pequenos, pobres e marginalizados.

A ação de Jesus e seu projeto messiânico começa pela periferia. É de lá que vem a força libertadora de Deus. Jesus começa na Galiléia, região distante do centro econômico, político e religioso de seu país. A esperança da salvação se inicia justamente numa região da qual nada se esperava. Sua pregação tem a mesma radicalidade dos demais profetas do Antigo Testemunho e também de João Batista. A exigência maior está na necessidade de conversão (metanoia), numa total mudança de vida, porque o Reino de Deus (do Céu) está próximo.

O Reino de Deus é de justiça, fraternidade e paz. A justiça do Reino liberta as pessoas para que elas mesmas façam o discernimento (ver). Ao expulsar o demônio, Jesus provoca desalienação, ajudando a pessoa a encontrar a palavra e a forma certa que transforma a realidade. Todavia, a justiça libertadora, provoca a oposição daqueles que querem apossar da salvação, para restringi-la a pequeno grupo de privilegiados.

O Reino precisa de operários para a sua edificação. Não de “funcionários do sagrado” ou de “funcionários da instituição Igreja “, como alguns assim pensam: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi pois ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!” (MT 9, 37-38) O trabalho pelo Reino é grande, e necessita de pessoas dispostas a dar continuidade às mesmas ações de Jesus. Cada um de nós é desafiado a assumir a preocupação de levar adiante a Boa Notícia do Reino ao mundo inteiro, conscientes da necessidade de pessoas disponíveis para essa missão divina. São Bento fez a sua parte. Façamos nós a nossa.