Nelson Peixoto, Manaus (AM)
Diretor de Liturgia da UNESER.

Por mais assustador que seja para quem crê nos mistérios da floresta e tem medo de surpresas com os olhares ferozes de animais em auto-defesa! Contestamos referir-se à Amazônia como “Inferno Verde”.
Tenho um amigo apaixonado pelos rios e lagos por onde viveu como missionário, que prefere anunciar o Amazonas como “mundo maravilhoso das águas”. Soa mais poético dizer assim e até mais fácil para atribuir aos rios caudalosos o lema da Congregação do Santíssimo
Redentor, fundado por Santo Afonso Maria de Liguori.
No último dia 1⁰ de agosto, dia de celebrar este Santo, proclamamos que “em Jesus é Copiosa a Redenção”. (APUD EUM COPIOSA REDEMPTIO).
Abundância exagerada de amor pela Humanidade. Manancial de Águas que tudo alcança, lava, abastece, cura , fecunda e germina o mundo sonhado e trabalhado, como continuação da Obra de Jesus.
O Inferno Verde contrasta com o Mundo das Águas. Melhor assim, ver o manancial das corredeiras nas enchentes, chegando bem longe, na floresta baixa das várzeas, convidando os pássaros para cantar e os peixes para procriar e matar a fome.
Peixe ou “ICTUS(em grego) – JESUS CRISTO, FILHO DE DEUS SALVADOR/REDENTOR, levado pelos seguidores de Santo Afonso, quando navegavam pelos rios e lagos. Simbolismo vivo e salutar de águas curativas e refrescantes, onde mergulhados na fé no Deus vivo, matamos a sede e a fome de justiça, povoando as margens dos rios em pequenas comunidades.

Se, em algum dia, a floresta chamou mais atenção, a ponto de chamá-la de Inferno, devido ao calor, hoje as águas equilibram e evocam a espiritualidade redentorista bem mais em sintonia com o Salmista.
A redenção é abundante porque nos liberta do pecado do mundo e de todos os seus efeitos, mas também porque nos dá uma nova vida em Cristo que emergiu das águas do nosso batismo. Isso é expresso por Afonso no versículo 7 do Salmo 129” , quando inspirou-se junto a Maria Celeste Crostarosa na fundação da Congregação e no início da missão redentorista, para viver entre os “cabreiros abandonados das montanhas”. No caso amazônico, nas margens dos rios e dentro da floresta, nas periferias da cidade e lugares distantes.

O Segredo Redentor dos Rios, meu livro de memórias (Editora Alta Performance, 2021), traz descobertas e vivências eclesiais de missão em pequenas comunidades, nucleadas à margem de rios caudalosos.
No dizer de uma amiga que mergulhou nas mesmas águas, assim escreveu: “Meu Deus! Impressionante a realidade que existiu por trás de contos tão bonitos vividos sobre os rios! É como a vida do povo de Deus! Às vezes, dura, cruel mesmo como a fome e a sede no deserto, mas, às vezes, alegre como o vinho novo e uma fonte aberta na pedra sob o cajado de Moisés! Bom para sonhar e reeditar a vida sobre as ondas e o vento do Espírito Santo nas tempestades”.
O segredo foi iluminado pelo meu professor teológo Márcio Fabri dos Anjos:
“Parabéns, caro amigo. O estilo vivo cheio de vida que deixa sentir a alma missionária, como você escreve e viveu cada braçada dessas memórias nos rios. Seu estilo combina humor e profundidade espiritual. Aquela missa em cima da mala sobre os joelhos fala ao coração da gente!”
E aquele mergulho na fé dos pequenos é a Memória Viva que nunca esquecemos e renovamos em cada dia 1⁰. de agosto.