Jesus sentiu-se forçado a se calar e a ficar quieto no seu canto. Mas não ficou nem fora de si.

Nelson Peixoto. É padre casado e diretor de Liturgia da UNESER

Devia se enquadar no esquema da normalidade que imperava como comportanento e mentalidade imposta pelo império romano e pelo judaísmo decadente. A “pax romana” controlava tudo para que nada fugisse da normalidade opressora. Assim, vigiados no corpo e na alma, os pobres das vilas onde os parentes de Jesus andava, sentiam também certa estranheza no seu anúncio e no seu modo de viver.
Jesus fugia da regra e surpreendia com seu comportamento de “desajustado” em favor do Reino.
Como confiava na vontade do Pai, não se intimidava com os poderosos, que tinham voz de comando para desconfiar de Jesus. Por causa da afinidade e afeição dos vizinhos e parentes da aldeia, deviam ter sofrido mais do que Jesus com a rejeição. Estes, porque gostavam dele, queriam vê-lo bem comportado para não ter problemas com sua imagem curativa. A desconfiança era devido a preconceitos. Era impossível para os mais chegados a Jesus o que estavam dizendo sobre ele. Era difícil ouvir os absurdos e aceitar Jesus tão diferente de tudo o que a “mídia” hegemônica da época dizia sobre ele. Só podia estar louco!
Diríamos, hoje, em uma dessas análises “psicológicas” do WhatsApp, que seria um “esquerdopata”, pois tinha “imbecilizado” sua vida com as ideias de um outro mundo possível. Para Jesus era o reino de Deus irrompendo no mundo como uma pequena semente, uma porção de fermento no bolo, uma pedra preciosa que, ao encontrá-la, tudo mais se tornaria supérfluo. Reino como semente plantada no coração que o Pai faria crescer, embora precisando de uma remexida na terra, descobrindo o húmus acolhedor, que, ao matar a praga da soberba, vai germinar no ritmo da perseverança e confiança.
Sem a pedra preciosa encontrada num campo arado, tudo ganha o status de supérfluo e superficial.
Os excessos sempre criam veias, por onde flui o essencial e acumula no seu lugar o que é desnecessário.
Triste ainda é ter semente no chão abundante de futilidades que a impedem de ir mais a fundo no húmus, para alojar-se, morrer e começar a brotar.
O “estranho” Jesus, depois de falar tantas coisas que podiam fanatizar a vida, seja em busca da piedade, da religiosidade, do que comer, vestir, ganhar e acumular, declara o que é mais precioso para buscar e se admirar com a linguagem do Pai, escrita na Criação.
Mt.6,33
“Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês”.

No ninho de Jesus, aqueles que escolherem o seu caminho de “desajustado” e seguir seus passos, encontrarão o que o Pai celestial sabe do que mais precisam para ser felizes.